Apesar do 1º lugar no Pisa, especialista afirma que ES não tem o que comemorar

08/12/2016 - 17:27  •  Atualizado 12/12/2016 09:43
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Esta semana o Espírito Santo ganhou destaque nacional ao se classificar em primeiro lugar, entre todos os estados brasileiros, no teste mais recente do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). O programa, que é desenvolvido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), avalia a cada três anos estudantes na faixa dos 15 anos em três áreas do conhecimento: Leitura, Matemática e Ciências.

O Espírito Santo obteve uma média de 427 pontos nas três áreas do conhecimento, 32 pontos acima da média do país, que totalizou 395 pontos. Os resultados do exame, divulgados na última terça-feira, 6, mostraram que o Brasil se classificou na 63ª posição entre 70 países participantes, ficando à frente apenas do Peru, Líbano, Tunísia, República da Macedônia, Kosovo, Argélia e República Dominicana. O primeiro lugar, Cingapura, atingiu a média de 551 pontos. No teste de 2012, o Brasil alcançou a média de 402 pontos.

Embora o Estado tenha ganhado lugar de destaque no conjunto de resultados nacionais, a professora e especialista em Educação da Ufes, Cleonara Schwartz, afirma que não há o que comemorar: “O Brasil está nas últimas posições, então isso não quer dizer que nós estamos com uma boa pontuação ou que os alunos que fizeram o teste estão com bom desempenho, pelo contrário, eles estão, quando muito, atingindo o nível básico.”

Justificativas

A falta de valorização dos profissionais da rede pública e a precariedade da estrutura do ensino são justificativas recorrentes para os resultados não satisfatórios dos estudantes brasileiros nesses testes em relação aos outros países. Mas Cleonara afirma que os motivos também estão ligados ao conjunto de políticas públicas para educação, que dão prioridade a formas de trabalhar e materiais didáticos que não se renovam, como atividades que estão dentro de uma abordagem conteudista, que ensina o aluno a só identificar e localizar informações.

Esse tipo de atividade didática ainda se revela recorrente na hora de qualificar alunos em diferentes testes de avaliação estudantil. “Existe uma matriz que serve de referência para avaliar certas habilidades, que revelam uma forma de questionar muito conteudista, isso acaba sendo utilizado também pelos professores que vão ensinar aquilo que os alunos serão avaliados. O aluno vai demonstrar no teste aquilo que aprendeu dentro da escola”, afirma a professora.

Participação

O último teste foi realizado em 2015 sob a coordenação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e avaliou aproximadamente 32 mil estudantes de 964 escolas de todo o Brasil. Novas áreas do conhecimento foram incluídas, como a Competência Financeira e Resolução Colaborativa de Problemas, reforçando o objetivo do programa de gerar indicadores que auxiliem na discussão da qualidade da educação dos países participantes. Muito além do conhecimento escolar, o Pisa verifica como as escolas estão preparando os jovens para exercer papel de cidadãos na sociedade.

Apesar de um dos objetivos do Programa ser contribuir para o debate sobre a qualidade da educação e subsidiar políticas de melhoria do ensino básico, Cleonara não acredita que os resultados do último teste trarão essas melhoras. A professora acredita que é preciso ressignificar e adotar novas formas e concepções de ensino, inserindo atividades de interpretação que não fiquem restritas apenas a localização de informações. “Se não redimensionar a prática de ensino em geral, não terão mudanças na aprendizagem dos estudantes brasileiros”, declara.

 

Texto: Ana Luísa Monteiro e Isabella Altoé (estagiárias de Comunicação)
Edição: Thereza Marinho