A Rede de Monitoramento de Andadas Reprodutivas de Caranguejos (Remar) lança nesta quinta-feira, 16, na cidade de Caravelas (Bahia), um aplicativo que permitirá que qualquer pessoa, em qualquer ponto do litoral brasileiro, registre a ocorrências de andadas. As informações fornecidas por “cientistas cidadãos” serão enviadas diretamente para um banco de dados da Remar a fim de serem analisadas.
O lançamento do aplicativo Remar_Cidadão será realizado às 9 horas, no Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene). O objetivo é possibilitar que qualquer cidadão possa ajudar no monitoramento, reforçando o trabalho de cientistas marinhos brasileiros e escoceses, em busca do uso mais sustentável dos caranguejos do manguezal.
O aplicativo Android pode ser baixado gratuitamente no Google Play Store.
A Remar é coordenada pela Universidade de Edimburgo Napier (Escócia) e pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), com a participação da Ufes, que realiza o monitoramento no Espírito Santo.
Defeso
O professor da UFSB, Anders Schmidt, explica que “por falta de pleno conhecimento e por precaução, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) proíbe a captura de caranguejos em torno da lua cheia e da lua nova. No entanto, quando os defesos ocorrem em períodos em que não há caranguejos andando, coletores são injustamente impedidos de trabalhar e entram em conflito com os gestores que, por sua vez, também acabam desperdiçando recursos públicos com fiscalizações desnecessárias.”
Para solucionar este problema é preciso prever exatamente quando e por que as andadas ocorrem ao longo dos 7500 km de litoral do Brasil. Este é o objetvo da Remar que, prevendo a ocorrência das andadas, poderá orientar a criação de períodos de defeso adequados, o que contribuirá para a sustentabilidade da atividade de coleta de caranguejos, que fornece meios de subsistência para milhares de pescadores sem outras opções de renda.
O professor do Departamento de Oceanografia da Ufes e integrante da Rede, Luiz Fernando Loureiro Fernandes, afirma que um protótipo do aplicativo já foi testado. “Ele é muito fácil de usar. Esperamos que muitas pessoas no Brasil usem o aplicativo e contribuam para a nossa pesquisa. Da nossa parte, nos comprometemos a repassar os resultados para os participantes, inclusive através de um website da Remar que está sendo criado especialmente para este propósito", destaca.
Ulisses Scofield, do Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene/ICMBio), Base Avançada em Caravelas, afirma: "Desvendar os segredos por trás das andadas permitirá uma gestão pesqueira mais adequada no uso sustentável deste recurso, impedindo que extrativistas e comerciantes de caranguejos percam mais renda devido a proibições de captura erroneamente estabelecidas, e também reduzindo custos com fiscalização e monitoramentos".
Ele destaca que esta união de esforços mediada pelo avanço tecnológico de um aplicativo para smartphone estará, em última análise, contribuindo para a perpetuação da cultura milenar de coleta de caranguejos e para a melhora da qualidade de vida das populações tradicionais envolvidas.
Texto: Thereza Marinho, com informações da Remar
Foto: Prefeitura Municipal de Aracruz