Estudo sobre impactos do Rio Doce é publicado em revista internacional

01/06/2017 - 13:23  •  Atualizado 02/06/2017 17:17
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A tragédia do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), de propriedade da Samarco Mineração, ocorrida em 5 de novembro de 2015, provocou ações de pesquisadores da Ufes em diferentes áreas de atuação, o que foi até tema de dossiê na última edição Revista Universidade. Suas pesquisas e análises ambientais e socioambientais fundamentaram tanto ações de instituições relacionadas ao meio ambiente como decisões no campo jurídico. Porém o fazer científico dos pesquisadores também tem o compromisso de divulgar suas análises e conclusões junto aos seus pares, principalmente por este ter sido considerado um dos maiores desastres socioambientais do país e um dos maiores no mundo relacionado à mineração.

Um dos modos de apresentar as pesquisas é por meio de publicações de artigos em revistas científicas, que têm como leitores os pesquisadores de uma área ou de outras que lhe são afins. Em maio deste ano, por exemplo, foi publicado um artigo de autoria de pesquisadores vinculados ao Departamento de Oceanografia, Ângelo BernardinoFabian SáLucas Barreto Correa , Luiz Eduardo de Oliveira Gomes e Renato Rodrigues Neto na prestigiosa revista Marine Pollution Bulletin, sobre os impactos iniciais da chegada de rejeitos de minério da Samarco na foz do Rio Doce.

Referência

Segundo o professor Ângelo Bernardino, a revista é uma referência nas áreas de Oceanografia e Ecologia Marinha, com foco em impactos ambientais e suas consequências. “A pesquisa objetivou avaliar cientificamente, e após o processo de revisão por pares, os impactos observados no estuário do Rio Doce após a chegada dos rejeitos. Muitos resultados apresentados até agora foram e estão sendo divulgados sem passar por esse processo de revisão, o que pode trazer prejuízos ao entendimento dos complexos efeitos ecológicos na bacia do Rio Doce”, afirma o professor. A revisão por pares, a qual se refere o pesquisador, diz respeito à leitura que estudiosos da área fazem do artigo publicado.

É por isso que Ângelo Bernardino destaca a importância da publicação do resultado das pesquisas por meio da leitura crítica realizada por colegas de renome nacional e internacional. Por fim, a divulgação desses resultados se propagará por meio de citações em outras pesquisas, contribuindo para o escopo metodológico e teórico no que diz respeito aos impactos da lama de rejeitos sobre as comunidades bentônicas do estuário do Rio Doce.

“Esse trabalho foi desenvolvido pelo grupo de Ecologia Bentônica e colaboradores da Ufes, e apresenta resultados inéditos quantitativos a respeito das comunidades bentônicas associadas ao estuário do Rio Doce. O estudo mostra que após a chegada dos rejeitos na foz, houve mudança nas assembleias de invertebrados associados à superfície dos sedimentos levando a perda de cerca de 30% das espécies antes presentes naquela região”, explica o professor.

Impacto

De acordo com o artigo, “os resultados indicam que no período inicial de até três dias após a chegada dos rejeitos, as mudanças observadas foram provavelmente causadas pelo impacto do rápido soterramento das assembleias bentônicas pelos rejeitos em algumas áreas da Foz. Apesar de observados aumentos significativos nas concentrações de metais sedimentares em alguns pontos, estes não estiveram associados aos impactos na escala de tempo analisada por este estudo, e sugere que apenas quantificar estas concentrações não será suficiente para determinar os efeitos sobre comunidades biológicas estuarinas ou marinhas”.

Essa etapa da pesquisa concluiu que esses foram os primeiros dados a avaliar as condições do estuário antes e depois da chegada dos rejeitos da barragem de Fundão, e mostram claramente que a complexidade natural destes ecossistemas será um grande obstáculo na avaliação de impactos decorrentes da tragédia.

O grupo de pesquisa em Ecologia Bentônica da Ufes e seus colaboradores continuarão os estudos na foz do Rio Doce por meio do projeto financiado pela Capes/Fapes/CNPq/ANA denominado Rede de Solos e Bentos do Estuário do Rio Doce. “Esse projeto financiado pela Fapes (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo) irá quantificar os efeitos dos rejeitos na biogeoquímica estuarina e determinar as consequências de médio a longo prazo para a ecologia deste ecossistema após o acidente”, explica Ângelo Bernardino.

 

Texto: Letícia Nassar
Foto: Jorge Medina/Agência Ufes - Nov. 2015