Febre amarela: Ufes e Seama vão monitorar o surto da doença e macacos vivos

03/03/2017 - 12:10  •  Atualizado 06/03/2017 18:26
Compartilhe

“Os casos humanos de febre amarela são a ponta do iceberg. Se quisermos entender o que está acontecendo na cidade, temos que entender o que está acontecendo nas matas”. Com esta frase, o pesquisador e professor do Departamento de Ciências Biológicas da Ufes, Sérgio Lucena, resumiu o objetivo do projeto “Aspectos Ecológicos do Surto de Febre Amarela Silvestre no Espírito Santo”, que será desenvolvido em parceria com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Seama) e apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).

Clique aqui e assista matéria produzida pela TV Ufes.

A parceria foi firmada na manhã desta sexta-feira, em reunião realizada na Reitoria da Ufes com a presença do reitor Reinaldo Centoducatte; do  secretário estadual de Meio Ambiente Aladim Cerqueira; do secretário estadual de Saúde Ricardo de Oliveira; do deputado estadual e presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa Hércules Silveira; do coordenador do Centro de Informações Estratégicas e Respostas em Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Gilton Almada; do presidente da Fapes José Antônio Bof Buffon e do professor Sérgio Lucena, entre outros pesquisadores da Universidade.

Investigação

O projeto propõe a investigação dos aspectos biológicos e ambientais relacionados à febre amarela que está atingindo o Espírito Santo, com especial atenção na forma como a doença está se espalhando e sua relação com a morte de macacos e a infecção de mosquitos.

Lucena explicou que a fase 1 do projeto já teve início com o monitoramento do surto, onde ele está ocorrendo. Além disso, o professor adiantou que um novo projeto já foi iniciado um novo trabalho com os saguis, antecipando a segunda fase do projeto, que será processo de vigilância continuada e monitoramento dos macacos vivos.

O reitor Reinaldo Centoducatte destacou que o objetivo da Ufes contribuir para a solução do problema. “Estamos juntos com nossos parceiros para tentar solucionar o mais rápido possível este problema. Também queremos acelerar a vacinação, contribuindo para que esta cobertura seja feita no menor tempo possível. Nossos profissionais e estudantes estão se colocando de forma voluntária para ajudar”, destacou.

 

Conheça mais detalhes sobre o projeto:

Resumo da proposta:

Este projeto pretende reunir um conjunto de informações que possam ser tratadas e analisadas de forma adequada, visando contribuir para o conhecimento dos processos biológicos e ambientais que favorecem ou até mesmo condicionam o surgimento do surto de febre amarela. Considerando que o evento está em curso na região de Mata Atlântica do ES, precisamos aproveitar a oportunidade para coletar o máximo de informações possíveis enquanto o surto não declina, já que esses eventos tendem a ser rápidos, durando semanas ou poucos meses, e se não agirmos agora muitas informações serão perdidas. O projeto, portanto, envolve (1) a coleta de informações sobre os primatas e mosquitos durante o período do surto; (3) o processamento genético das amostras, modelagem e analises dos resultados.

Síntese do projeto:

A febre amarela (FA) é uma doença viral, causada por um vírus transmitido pelos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, da Família Culicidae, ao ser humano e primatas não humanos. No passado, ocorreram surtos de febre amarela urbana no país, transmitida pelo Aedes aegypti, mas esta forma foi erradicada na década de 1940, por meio de vacinação, obras de saneamento urbano e do controle do vetor. No presente, não há relatos de febre amarela urbana. Todos os casos humanos registrados no Brasil têm sua origem no ciclo silvestre, que ocorre quando o mosquito infectado pica o ser humano, desenvolvendo a virose.

A morte de macacos em reservas naturais e fragmentos florestais, tanto em Minas Gerais quanto no Espírito Santo, vem ocorrendo em grande escala. Apesar das mortes atingirem principalmente os barbados, temos confirmação de morte de outras espécies, como os sauás (Callicebus), saguis (Callithrix), macacos-pregos (Sapajus) e evidências de que o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), espécie criticamente em perigo de extinção, também pode estar sendo afetada. As amostras de macacos do ES analisadas para FA tem dado positivo, o que confirma os dados epidemiológicos.

Portanto este projeto busca investigar os fatores ecológicos que propiciaram o surgimento deste surto e seu rápido avanço em território capixaba, focando, especialmente, nos dados sobre as mortes de primatas e a infecção de mosquitos nos ambientes afetados.

Objetivo geral:

Investigar aspectos biológicos e ambientais relacionados à febre amarela silvestre que está atingindo a Mata Atlântica de diversos municípios do Espírito Santo, com especial atenção à dispersão da doença na paisagem e sua relação com a morte de primatas e infecção de mosquitos.



Texto: Thereza Marinho
Foto: Jorge Medina