Grupo de Pesquisa denuncia ameaça a práticas tradicionais de povos indígenas

01/05/2017 - 16:06  •  Atualizado 03/05/2017 16:59
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Preconceito, interesses econômicos e disputas territoriais têm colocado em risco as práticas curativas e de promoção de saúde das populações Tupiniquim e Guarani da região norte do Espírito Santo. Isso é o que apontam os estudos realizados pelo grupo de pesquisa "Saberes tradicionais indígenas e produção da subjetividade", coordenada pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Institucional da Ufes, com a participação de professores e estudantes dos cursos de Psicologia, Ciências Sociais e Licenciatura Intercultural Indígena.

Segundo o coordenador do projeto, professor Fabio Hebert da Silva, o estudo parte do princípio que a saúde não é o contrário de doença, mas deve ser vista como a afirmação da vida, abrangendo a busca de estratégias e relações para superar as adversidades. Nessa perspectiva, seria preciso considerar as relações sociais, relações com o meio ambiente e questões concretas ligadas ao território.

Na dimensão social, o professor destaca o trabalho das parteiras nessas comunidades. Segundo ele, esse trabalho difere do que é realizado pelo médico ao promover a assistência do parto de uma forma mais natural e humanizada, por meio de uma relação com a mulher grávida e com a criança que prossegue ao longo da vida em comunidade. Segundo Silva, apesar de sua importância, o trabalho dessas parteiras vem sofrendo preconceito e pressão do modelo hegemônico de organização das políticas de saúde de tal forma que, muitas delas, ao longo dos anos, têm abandonado essa prática tradicional de cuidado.

Já a relação entre saúde e meio ambiente envolve, segundo o professor, o uso de plantas medicinais e recursos de origem animal nas práticas curativas desses povos tradicionais. Entretanto, isso vem sendo ameaçado por interesses econômicos. "A degradação do solo e a poluição da água vêm deteriorando a fauna e a flora e fragilizando as relações sociais e práticas de cuidado", afirma o pesquisador.

Outra questão que o professor Fábio Hebert coloca são as lutas histórias para produção de um território. Ele afirma que, para essas populações, não se trataria apenas da delimitação geográfica, mas da preservação de um "território existencial" que envolve uma dimensão de saúde ampliada: "a saúde do organismo vai variar de acordo como o meio em que este se encontra".

Integração

Para o professor, é necessário buscar uma política pública de saúde que trate os saberes tradicionais indígenas como fundamentais e não apenas como uma alternativa. Além de acrescentar outra visão de promoção da saúde, o pesquisador aponta que a importância de preservar essas práticas estaria de acordo com a própria constituição histórica da humanidade: "Nós só chegamos até aqui, na história do planeta, por conta da multiplicidade de saberes e tradições. Deixar perecer o conhecimento desses povos, como temos feito, é cultivar nossa própria morte”, conclui Fabio Hebert.


Texto: Nábila Corrêa
Edição: Thereza Marinho