Performance Revoada é apresentada no campus de Goiabeiras, nesta quinta, 31

30/10/2019 - 17:49  •  Atualizado 31/10/2019 15:16
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O espetáculo de dança contemporânea Revoada, montagem do Grupo Z em parceria com a Companhia Repertório Artes Cênicas&Cia, chega ao campus de Goiabeiras nesta quinta-feira, 31, para uma apresentação gratuita ao ar livre. A performance, que acontece às 13h30 em frente à Cantina do Honofre, no Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN), traça um paralelo entre o comportamento de humanos e o de pombos.

Promovida na Ufes pelo coletivo Professores em Movimento (formado por docentes da Universidade), Revoada interpreta modos contemporâneos de existência, fazendo o público pensar em conflitos sociais recorrentes nos espaços urbanos das grandes cidades, como o desamparo, a exclusão e a intolerância.

Revoada surgiu a partir da necessidade de falarmos sobre nossa condição de vida nas cidades, sobre a maneira como nos aglomeramos e nos relacionamos, sobre nossa condição sub-humana, sobre o quanto o sistema nos coloca em um transe e nos mecaniza e como isso faz esvair nossa condição de olharmos um para o outro. Falar disso por meio da imagem de uma revoada de pombos nos pareceu pertinente”, explica a diretora do Grupo Z Carla Van Den Bergen, que assina a direção e a dramaturgia do espetáculo ao lado de Fernando Marques e Nieve Matos.

As pesquisas coreográfica e dramatúrgica do espetáculo foram desenvolvidas no início do ano, e as apresentações começaram a circular por espaços públicos de Vitória em meados de outubro. O elenco é composto pelos intérpretes Alexsandra Bertoli, Barbara Depiantti, Daniel Boone, Eldon Gramlich, Gabriela Camargo, Ivna Messina e Patricia Galleto.

Tensões

A montagem trata das tensões e formas de habitar a cidade pelos humanos e pelos animais. Em Revoada, os intérpretes performam seres que transitam entre o pássaro, a peste urbana e o humano. “A praga urbana, capaz de matar o ser humano, revestido de uma bela imagem”, analisa Bergen, referindo-se aos pombos. “Eles muitas vezes são invisíveis como muita gente, dividem as calçadas como muita gente, sobrevivem de restos e migalhas como muita gente. Ao mesmo tempo, podem matar porque podem adoecer o homem, como muito homem faz com outro”, complementa.

Inicialmente, a performance foi pensada para ser apresentada em uma sala de espetáculo convencional: “Porém, prestes a chegar no dia da estreia, a condução da montagem sofreu um revés: sair do espaço fechado e ir para as ruas, para o espaço público”, lembra o diretor Marques. O uso do formato dança-teatro como linguagem foi escolhido para dar continuidade a uma pesquisa desenvolvida pelo Grupo Z.

Acontecimentos políticos recentes também são abordados na montagem, cuja temática foi ganhando amplitudes de acordo com o cenário da atualidade. “Na medida em que fomos desenvolvendo o trabalho, questões da situação brasileira atual foram desenhando a dramaturgia. São questões como direitos humanos, higienização dos espaços públicos, intolerância às diferenças e às minorias, escolhas de soluções bélicas para resolver conflitos ideológicos, adoecimentos psíquicos e corporais, e censura, que foram necessários para conscientizar que o sistema capitalista é o que orienta e provoca essa condição humana”, relata a diretora.

Sons e figurinos

A performance traz trilha sonora original, criada a partir das necessidades das cenas. Assim, o rock firmou-se a opção estética, aliando-se a ruídos, vocalizes e outros elementos sonoros que ajudam a compor as tensões e os ambientes propostos pelo espetáculo. Deyvid Martins e Guilherme Martins assinam a trilha.

Já o figurino, concebido por Antônio Apolinário, foi idealizado a partir do acionamento de três imagens: camadas de peles-couraças como proteções que o indivíduo desenvolve para se sobrepor à primeira pele, a fim de suportar e aliviar os impactos violentos do cotidiano; corpos cirúrgicos-frankensteins, como uma junção costurada de partes de corpos diversos que se regeneram o tempo todo na narrativa de sobreviver; e os emplastros, medicação transdérmica para acelerar o processo de cura dos corpos violentados. “A intenção é criar uma imagem estranha e familiar de uma tribo urbana em jogo, que se destaca e se mistura aos transeuntes, causando uma fricção no olhar de quem vê”, explica Apolinário.

O projeto Revoada tem apoio da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo. O espetáculo segue em temporada pelas ruas de Vitória até 3 de novembro. Mais informações estão disponíveis no site www.secult.es.gov.br.


Texto: Adriana Damasceno
Edição: Thereza Marinho