Pesquisa aponta eficácia da vacina contra febre amarela em portadores de doença autoimune

31/07/2020 - 19:14  •  Atualizado 03/08/2020 19:46
Compartilhe

Um estudo realizado no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam-Ufes), em parceria com outras instituições, revela que, em condições controladas, a vacina para febre amarela usada nos postos de saúde do país foi eficaz e segura em portadores de doenças autoimunes, como a artrite reumatoide e o lúpus.

A afirmação é importante porque a maioria dos pacientes com esse tipo de enfermidade faz tratamento usando remédios que baixam a capacidade de defesa do organismo, os chamados imunossupressores. Como a vacina para febre amarela usa uma forma atenuada do vírus, havia o temor de efeitos adversos graves, pois se o corpo tem menos condições de reagir a uma infecção, o vírus que é ‘atenuado’ para uma pessoa em condições normais pode ser mais poderoso para quem faz tratamento de doença autoimune.

Além disso, nunca houve dados específicos sobre como este grupo de pacientes treina as células de defesa do corpo quando recebe a vacina. Havia dúvida sobre se uma única dose era suficiente e quanto tempo era necessário para fazer efeito.

Para responder a estes questionamentos, a pesquisa foi feita com 278 voluntários do Serviço de Reumatologia do Hucam-Ufes que tomaram a vacina entre os meses de março e julho de 2017. Na época, estava recente o surto de febre amarela que ocorreu na Região Sudeste, em dezembro de 2016, e que havia provocado uma corrida da população aos postos de saúde. O imunizante usado na pesquisa foi o mesmo aplicado pelo SUS, o 17DD-YF, fabricado pela Bio-Manguinhos, a unidade produtora de vacinas da Fundação Oswaldo Cruz.

Metodologia

Participaram da pesquisa pacientes com lúpus erimatoso, síndrome de Sjörgen, artrite reumatoide, espondiloartrite, esclerose sistêmica e, para fazer a comparação de dados, um grupo de voluntários em condições saudáveis. Quem tinha doença autoimune precisava - além da indicação do reumatologista – estar na fase branda da doença, a chamada remissão, e ficar um tempo seguro sem tomar imunossupressores, de acordo com uma tabela cientificamente elaborada.

Cada um dos grupos fez exames de sangue quatro vezes em um intervalo de 28 dias. Depois disso, verificou-se que os pacientes com doença autoimune não apresentaram efeitos colaterais consideráveis, ou simplesmente sentiram nada. Já sobre o efeito da vacina no corpo, percebeu-se que a resposta imunológica era, em média, um pouco menor e mais tardia, mas suficiente para garantir que o indivíduo está seguro contra a febre amarela.

A reumatologista do Hucam e coordenadora da pesquisa, Valéria Valim Cristo, comenta que a pesquisa é prova de que o hospital, mais uma vez, esteve inserido nos esforços de enfrentamento a uma crise de saúde pública, como foi a do surto de febre amarela em 2016, e está sendo agora com a COVID-19. Sobre a pesquisa, ela destaca o conceito de “vacina planejada” para quem tem doenças autoimunes.

“A pesquisa surgiu da necessidade de orientar esse grupo específico de pacientes, em um momento que havia campanha de vacinação em massa. Muitos deles estavam em áreas de risco de contaminação. As respostas ajudam o médico especialista a avaliar como planejar essa vacinação para o momento em que o paciente esteja em remissão para a doença e em nível seguro de imunossupressão”.

O artigo científico da pesquisa foi publicado na revista ‘Frontiers in Immunology’.

 

Texto: Duilo Victor - Unidade de Comunicação do Hucam-Ufes
Imagem: Freepik
Edição: Thereza Marinho