Pesquisa de professor da Ufes sobre ecossistema marinho é divulgada no exterior

04/07/2017 - 18:39  •  Atualizado 05/07/2017 21:58
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O artigo "Multiple introns in a deep-sea Annelid (Decemunciger: Ampharetidae) mitochondrial genome" escrito pelo professor Ângelo Fraga Bernardino, do Departamento de Oceanografia da Ufes, juntamente com outros três pesquisadores norte-americanos, foi publicado na revista Scientific Reports (Springer Nature) do mês de junho. O artigo descreve as múltiplas sequências genéticas móveis (introns) em genes distintos do DNA mitocondrial de um anelídeo encontrado em ecossistemas de mar profundo.

A pesquisa, que fez parte do pós-doutoramento do professor Ângelo na Auburn University (Estados Unidos), é resultado de projeto colaborativo realizado na margem continental oeste norte-americana, no Oceano Pacífico. Na primeira etapa da pesquisa, navios oceanográficos lançaram gaiolas com pedaços de madeira que ficaram fundeadas em uma profundidade de 1.600 metros. Um ano depois, os navios recolheram o material e os pesquisadores iniciaram os estudos dos animais que colonizaram a madeira.

“Em laboratório, sequenciamos e montamos o DNA mitocondrial completo de três anelídeos (vermes) encontrados em ecossistemas profundos com o objetivo de investigar sua variabilidade genética, padrões biogeográficos e evolutivos desses invertebrados”, explica o professor Ângelo.

Biodiversidade

Os anelídeos são vermes segmentados importantes, pois auxiliam na colonização e degradação desses substratos orgânicos nos oceanos, participando da ciclagem de matéria orgânica marinha e reciclando esses nutrientes nos oceanos. “Esses vermes também constituem uma grande parte da biodiversidade marinha em mar profundo ao redor do mundo, e alguns exibem notável adaptação a ambientes extremos como os citados (fumadoras hidrotermais, por exemplo). Então parte dos objetivos desse projeto foi conhecer a biodiversidade marinha profunda, entender processos biológicos e ecológicos que as controlam, e identificar sua importância para processos ecológicos nos oceanos”, diz Ângelo.

Os pesquisadores, primeiramente, observaram que os animais que colonizaram essas parcelas de madeira no mar profundo possuem similaridade filogenética com outras espécies que habitam ecossistemas profundos quimiossintéticos, ou seja, que têm como fonte primária de energia a conversão de elementos químicos que saem de fendas no assoalho oceânico.

Porém, algumas espécies associadas às parcelas de madeira tinham uma novidade para apresentar aos pesquisadores. “Quando avaliamos o DNA mitocondrial (37 genes) dos anelídeos, para nossa surpresa, encontramos dentro de três genes mitocondriais, sequências conhecidas como introns, que são sequências genéticas móveis que não codificam proteínas, mas que se movem entre genomas animais, de micróbios (vírus ou bactérias) ou plantas por exemplo. A presença desses introns em DNA mitocondrial de um animal invertebrado foi recentemente descoberta em um gene, mas nunca havia se descrito dois ou mais introns em genes distintos, e ainda não se sabe ao certo os processos biológicos que determinam o ganho ou perda de introns no genoma”, destaca o pesquisador.

O professor explica ainda que no caso dos anelídeos analisados, a estrutura genética e a origem desses introns sugerem que algumas das sequências já estão em processo evolutivo de exclusão ou que se originaram em eventos biológicos distintos. “Também nos chamou a atenção que as sequências desses introns possuem similaridade filogenética com outros anelídeos, o que pode indicar que os mecanismos de aquisição e perda podem estar relacionados filogeneticamente e que esses introns devem ser mais comuns do que até hoje reconhecido”, conclui.

O artigo intitulado "Multiple introns in a deep-sea Annelid (Decemunciger: Ampharetidae) mitochondrial genome" pode ser lido na íntegra no portal da revista Scientific Reports, no endereço eletrônico http://rdcu.be/tJeq.]


Texto: Letícia Nassar
Foto: P
rofessor Ângelo Bernardino
Edição: Thereza Marinho