Pesquisadores divulgam em Brasília resultados de análises da foz do Rio Doce

31/03/2016 - 17:14  •  Atualizado 01/04/2016 18:06
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Os professores da Ufes, Alex Bastos, e da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Adalto Bianchini, apresentaram, nesta quarta-feira, 30, em Brasília, os resultados das análises feitas, nos últimos cinco meses, na região da foz do Rio Doce após o rompimento da barragem de rejeito de minério localizada em Mariana (MG), ocorrido em 5 de novembro.

Esta primeira fase das pesquisas - realizadas em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – foi apresentada no Ministério do Meio Ambiente, em reunião do Grupo de Trabalho (GT) Samarco, composto por representantes de vários setores do governo, como o ICMBio e o IBAMA, além do Ministério do Meio Ambiente, Agência Nacional das Águas (ANA) e Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), entre outros.

Os pesquisadores da Ufes participaram de três expedições com o objetivo de avaliar as mudanças ambientais no sistema marinho, principalmente com relação às Unidades de Conservação. Foram repetidas as coletas de amostras, nos mesmos pontos, para avaliar o impacto da lama, tanto na coluna d´água quanto no fundo do mar.

Segundo eles, todas as análises demonstraram um alto índice de contaminação de metais na água e nos sedimentos do fundo marinho, nas oito estações de monitoramento. A contaminação chegou a ser 20 vezes maior no caso do ferro, mas também foram encontrados alumínio, manganês e cromo em níveis muito superiores ao que existia antes da chegada do rejeito. A lama, encontrada a 20 quilômetros para o sul, 15 quilômetros para o norte, 10 quilômetros mar adentro e a 20 metros de profundidade, causou um forte impacto na base da cadeia alimentar do ecossistema, principalmente com relação ao plâncton e uma contaminação, acima dos valores permitidos, nas amostras de peixe e camarão.

“Foi discutido sobre a manutenção da suspensão da pesca, porque os resultados apontam, sem dúvida, para uma contaminação. Porém é preciso que haja um monitoramento para ver se estes níveis de contaminação se repetem em um segundo momento. Os resultados da Ufes mostram a característica do impacto, ou seja, houve um momento agudo, há uma tendência de diminuição ou diluição da pluma, porém há uma preocupação com o acúmulo no fundo e como se comportará a base da cadeia trófica (plâncton)”, explicou Alex Bastos. A grande vantagem da Ufes nesse processo, é que uma série de pesquisas já vinham sendo realizadas na região da foz do Rio Doce há cerca de cinco anos.

Expedições

A primeira expedição foi feita a bordo do navio Vital de Oliveira, da Marinha, entre os dias 26 de novembro e 2 de dezembro de 2015, cinco dias após a lama chegar ao mar de Regência (ES). A segunda expedição foi realizada pelo navio Soloncy Moura, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no período de 27 de janeiro a 2 de fevereiro de 2016. Nessa expedição foi feito o arrasto de peixe e camarão para coleta de amostras para a análise de toxicologia, que foi realizada pela equipe da Universidade Federal do Rio Grande, coordenada pelo professor Adalto Bianchini. Entre os dias 15 de fevereiro e 19 de fevereiro foi realizada a última expedição, a bordo do navio Antares, da Marinha, somente com uma equipe da Ufes.

A foz do Rio Doce também foi monitorada em diversos pontos e em datas diferentes. A equipe coordenada pelo professor do Departamento de Oceanografia da Ufes, Renato Neto, fez coletas de água e sedimentos nos 12 dias anteriores a chegada da lama e no dia em que a lama atingiu o mar.

Segundo o Alex Bastos, uma nova campanha deve ser feita até o início de maio para nova coleta de pescados em geral e continuação do monitoramento. Para ele, o que mais preocupa não é o que está visível, mas o que as pessoas não conseguem ver.

“O que está no fundo do mar e do rio é o grande problema. Em função de fenômenos naturais, como a chuva, o fundo pode ser remexido e as contaminações podem aumentar a qualquer momento. Por isso, as análises devem continuar por mais um ano, no mínimo, para avaliar como a contaminação vai se comportar”, afirma.

Ele destacou ainda que o vazamento da lama não foi completamente controlado. “O vazamento está menor, mas continua. No início, muitos pesquisadores acreditavam que a lama ficaria concentrada na foz do Rio Doce, porém, nós encontramos indícios de deposição da lama na região da Área de Proteção Ambiental Costa das Algas, em Aracruz, o que é muito preocupante”.

Pesquisadores da Ufes continuarão participando dos estudos, monitorando os impactos do desastre tanto em terra quanto no mar. 

Texto: Hélio Marchioni
Edição: Thereza Marinho