Professora da Ufes participa da reconstrução da base brasileira na Antártica

17/01/2020 - 09:34  •  Atualizado 01/11/2022 09:26
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Inaugurada nesta quarta-feira, 15, a reconstrução da nova estação científica brasileira na Antártica teve a participação ativa da pesquisadora da Ufes Cristina Engel Alvarez.

Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Cristina Engel acompanhou toda a reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), atingida por um incêndio em fevereiro de 2012 que ocasionou a destruição de 70% das instalações. Durante esse período, a professora esteve no local diversas vezes para acompanhar o andamento das obras. Ela também acompanhou o processo de licitação para reforma da EACF e deu consultoria para a Marinha do Brasil.

Segundo Cristina Engel, desde 1994, a Ufes esteve envolvida com o Programa Antártico Brasileiro. “Com o passar do tempo, por meio dos muitos trabalhos de pós-graduação e ampla publicação de artigos, nossos resultados começaram a levar o nome da Ufes para todo o Brasil e também para o exterior. Passamos a ser reconhecidos como a única equipe de especialistas em construções na Antártica. As pesquisas envolveram variados temas, como materiais, conforto, eficiência energética e energias alternativas, água potável, resíduos líquidos e sólidos, paisagem, indicadores de sustentabilidade para edificações antárticas, metodologia para trilhas, entre outros”, enfatiza.

A pesquisadora lembra que a equipe da Ufes passou a ser multidisciplinar, pois, além do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, também participaram os departamentos de Engenharia Elétrica e Engenharia Ambiental. Assim, as pesquisas na Antártica contribuíram para a formação de recursos humanos e ainda se converteram em um importante conhecimento que, posteriormente, foi utilizado na reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz.

“Além disso, pelo fato de a Arquitetura não ser uma área tradicional de pesquisa, os estudos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias do ambiente construído raramente eram considerados prioritários nos processos de avaliação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, muitas vezes, tínhamos que contar somente com o apoio logístico da Marinha do Brasil para podermos continuar fazendo as atividades de campo”, explica.

A reconstrução

A reconstrução começou em 25 de fevereiro de 2012, quando a Estação Ferraz foi quase toda destruída por um incêndio de grandes proporções e causou a morte de duas pessoas.

“Foi uma perda irrecuperável que nos afetou terrivelmente. No entanto, passado o momento do impacto, o único pensamento da equipe foi que tínhamos a missão – e o necessário conhecimento adquirido ao longo dos anos – de contribuir com a reconstrução da EACF. O primeiro passo foi convencer a Marinha do Brasil de que a melhor forma de desenvolver um projeto seria por meio de um concurso. E assim foi feito. Coordenado pela Ufes, nos debruçamos, com a ajuda de várias instituições parceiras, na difícil tarefa de elaborar o termo de referência, ou seja, o documento que contém as informações e os elementos técnicos necessários para o lançamento do concurso”, relata a pesquisadora.

Cristina Engel ressalta que o trabalho foi árduo e o resultado, espetacular. “Consideramos a inauguração da EACF como a realização de um sonho, sonhado por uma equipe competente que acredita no uso inteligente da tecnologia para promover o necessário equilíbrio entre o ambiente natural e o construído, proporcionando segurança e bem-estar aos civis e militares com atividades na Antártica. A nossa Estação é um exemplo de edificação sustentável, cujos conceitos podem e devem ser aplicados na Antártica e em muitos outros locais do planeta”, destaca.

Além de participar na elaboração do termo de referência, a Ufes desenvolveu a solução para o tratamento do esgoto da estação.

Experiência

A professora Cristina Engel, que atualmente é Secretária da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional (Secti) do Estado do Espírito Santo, estuda a arquitetura na Antártica há mais de 30 anos.

Na Ufes, integra o Laboratório de Planejamento e Projetos da Ufes (LPP), que liderou uma rede de pesquisadores do projeto denominado Arquitetura na Antártica (Arquiantar), na organização do concurso de Arquitetura para a construção da nova estação. Também participa da rede internacional Cires (Cidades Inclusivas, Resilientes, Eficientes e Sustentáveis), formada por pesquisadores, gestores municipais e estudantes que levam à sociedade o conhecimento produzido nas instituições de ensino e pesquisa e nos setores públicos. A rede possui 21 grupos provenientes de sete países – Brasil, Argentina, Chile, Costa Rica, Equador, Espanha e Portugal –, além de sete municípios, três empresas e 11 equipes de pesquisadores multidisciplinares, totalizando 122 pessoas envolvidas.

Cristina Engel possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e mestrado e doutorado em Arquitetura e Urbanismo, ambos pela Universidade de São Paulo (USP).

Estação

Estabelecida em 1984, a Estação Antártica Comandante Ferraz fica na Península Keller, no interior da Baía do Almirantado, Ilha Rei George, e foi criada para a realização de estudos sobre o clima e o meio ambiente em geral. A Antártica tem estações que desenvolvem pesquisas em áreas como meteorologia, arqueologia e sismologia. São 32 nações diferentes que ocupam o continente em busca de descobertas científicas.

Segundo a Marinha do Brasil, o continente é o principal regulador térmico da Terra. É ele também o medidor das condições climáticas e de vida em todo o planeta, já que controla as circulações atmosféricas e oceânicas. A estação funciona como um centro de pesquisa científica para técnicos, militares, civis e pesquisadores.

Pesquisas científicas em diversas áreas são realizadas na estação, como observação de fenômenos atmosféricos, inventário da fauna e da flora locais, monitoramento da qualidade do ar, entre outros estudos ligados a biologia, meteorologia, geofísica e outros campos. Os trabalhos, de alto nível, ajudam principalmente a compreender melhor as mudanças que o meio ambiente sofre atualmente.

 

Texto: Jorge Medina
Foto: Divulgação