Ufes apresenta em Brasília resultados de pesquisa sobre o desastre de Mariana

22/06/2017 - 19:23  •  Atualizado 23/06/2017 18:36
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Professores da Ufes, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) se reuniram nesta quarta-feira, 21, na sede do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), em Brasília, onde apresentaram resultados consolidados sobre o desastre de Mariana e seu impacto no ambiente costeiro/marinho.

O professor do Departamento de Oceanografia da Ufes, Alex Bastos, representou a equipe da Universidade que trabalhou na análise deste material, envolvendo mais de oito professores e dezenas de alunos e bolsistas. O professor aponta que o desastre apresentou diferentes níveis de impactos, sendo um impacto de caráter agudo, que afetou a região desde o primeiro dia de chegada da lama até cerca de dois meses depois e, posteriormente, impactos crônicos que estão perdurando e ainda colocando em risco o ecossistema.

Entre os principais resultados apresentados pela equipe da Ufes está a ocorrência de fluxo de alta densidade no ambiente marinho quando da chegada da lama, alcançando concentrações de até 9g/l e levando a uma alta taxa de acumulação imposta pela chegada da lama na foz do Rio Doce. Esse processo afetou diretamente a comunidade bentônica (diminuindo o número de indivíduos e a diversidade, aumentando a dominância de alguns grupos).

Durante a chegada da lama observou-se ainda a elevação dos teores de metais (principalmente ferro, alumínio, manganês e cromo) e nutrientes na água, o que levou a uma imediata resposta na cadeia alimentar, alterando a comunidade de organismos que compõe a base da mesma (fito e zooplâncton). O impacto agudo gerou um aumento na abundância de organismos e perda de diversidade, seguido de um impacto crônico com uma consequente perda na riqueza de espécies. Durante expedições nos primeiros meses, foi também observado o indício de que houve deposição de lama de rejeito na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa das Algas e no Refúgio de Vida Silvestre (RVS) de Santa Cruz, ambas unidades de conservação federais.

Resultados

Após mais de um ano de trabalho e contabilizando nove expedições, os professores apontam que houve um significativo aumento no teor de metais nos sedimentos marinhos, um impacto crônico nas comunidades planctônicas (que nunca voltaram aos níveis anteriores ao acidente) e potencial risco de elevação na concentração de metais na água em função dos períodos de cheia do Rio Doce, bem como provenientes da ressuspensão dos sedimentos de fundo na região costeira adjacente. A análise na distribuição mineralógica e de metais no sedimento aponta para um transporte gradativo do sedimento em direção Norte em relação a foz do rio Doce, como já era de conhecimento anterior em pesquisas realizadas na Ufes.

A conclusão do estudo mostra que o ecossistema ainda sofre de um processo crônico produzido a partir do impacto gerado pelo rompimento da barragem de rejeitos e a chegada destes no ambiente marinho e costeiro. As altas quantidades de metais típicos do rejeito, como ferro e alumínio, e outros relacionados também ao deslocamento da lama ao longo da bacia hidrográfica do Rio Doce (cromo, níquel, zinco, chumbo e manganês) alteraram a qualidade da água, afetando todo o ambiente. Isso significa que ainda existe grande risco ambiental e social, uma vez que a estrutura do ecossistema foi afetada e os metais no sedimento podem, ao longo do tempo, serem biodisponibilizados entrando na cadeia alimentar novamente. 

Mais de 20 instituições de ensino e pesquisa de todo o Brasil criaram uma Rede de Pesquisa – Rede Rio Doce Mar, visando a elaboração de projetos de pesquisa e extensão para o monitoramento da biodiversidade. Esta iniciativa apresenta uma proposta de análise integrada entre a bacia Hidrográfica do Rio Doce e os ambientes costeiro e marinho, com o objetivo de desenvolver estudos sobre o impacto no ecossistema e os desdobramentos para a sociedade.

O relatório final estará disponível em até 15 dias e ficara disponível no site das instituições.

 

Com informações do professor Alex Bastos.