Ufes realiza pesquisa inédita sobre relação entre poluição do ar e casos de asma

13/06/2018 - 19:11  •  Atualizado 20/06/2018 10:21
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A Ufes vai realizar uma pesquisa inédita no Brasil sobre o impacto causado pelos diversos poluentes, entre materiais particulados e gases, presentes na atmosfera urbana da região metropolitana da Grande Vitória, no que se refere a associação entre a poluição atmosférica e indicadores objetivos de função respiratória em crianças portadoras de asma leve a moderada.

Com duração de três anos, o trabalho vai envolver um equipe multidisciplinar com pesquisadores do Centro de Ciências da Saúde e Centro Tecnológico da Ufes e será coordenado pela professora do Departamento Engenharia Ambiental, Jane Meri Santos, e pelo professor do Departamento de Ciências Fisiológicas e diretor de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Ufes, José Geraldo Mill.

O estudo longitudinal pretende determinar como os níveis de alguns poluentes suspensos no ar afetam os sintomas da asma em crianças e adolescentes. Além disso, será levantado um número elevado de covariáveis relacionadas ao desencadeamento e à piora dos sintomas de asma de acordo com a literatura médica atual. Como a sazonalidade é um fator importante na modulação da exacerbação dos sintomas da asma, o estudo longitudinal está sendo proposto para ser feito com os mesmos sujeitos de pesquisa estudados nos períodos de inverno e verão.

Segundo José Geraldo Mill, os participantes da pesquisa serão crianças e adolescentes, portadores de asma leve ou moderada, atendidos em clínicas ou unidades de saúde. “Eles serão encaminhados por seus médicos e farão exames iniciais, na Ufes, para verificar se possuem todos os requisitos para participação no estudo. Durante 10 a 15 dias, cada participante será monitorado diariamente, em domicílio, por meio do preenchimento de um diário e de medidas de espirometria (exame de pulmão) de manhã e à noite, tanto nos meses de inverno quanto de verão”, disse Mill. Essas medidas, segundo ele, permitirão determinar com maior precisão quais componentes da poluição contribuem para o principal sintoma da asma: a dificuldade de respirar.

Monitoramento do ar

Ao mesmo tempo, a qualidade do ar que o participante da pesquisa estiver respirando será continuamente monitorada por equipamentos que medem a concentração de partículas de poeira no ar, bem como de alguns gases (dióxido de enxofre, dióxido de carbono, monóxido de carbono, ozônio e óxidos de nitrogênio). De acordo com Jane Meri, também serão medidas a concentração dos poluentes no interior das residências, bem como avaliada a exposição individual ao longo do dia a partir de equipamentos portáteis.  

Os pesquisadores da Ufes envolvidos no projeto já contam com seis publicações e sete defesas de teses de doutorado e dissertações de mestrado demonstrando os efeitos da poluição do ar sobre a saúde humana em Vitória. Entre eles estão o coordenador adjunto da pesquisa e pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Ufes, Neyval Costa Reis Jr, o professor do Departamento de Estatística da Ufes, Valdério Reisen, e a professora do Departamento de Clínica Médica da Emescam, Faradiba Sarquis Serpa.

Segundo Jane Meri, apesar desse tema de pesquisa já estar sendo investigado por pesquisadores da Ufes, este novo projeto permitirá o uso de metodologia mais sofisticada com o uso de equipamentos móveis para medição da qualidade do ar nas regiões de estudo e com a obtenção de dados diretos de saúde com enfoque em crianças asmáticas. “A maior parte dos estudos do impacto da poluição atmosférica nesta doença foi feita com dados secundários, isto é, computando-se internações hospitalares ou atendimentos em unidades de pronto-atendimento. Neste projeto, vamos trabalhar com dados primários, isto é, coletados diretamente dos pacientes na sua própria residência”, disse ela. Jane Meri afirmou ainda que os resultados são importantes para definir estratégias de melhoria da qualidade do ar e para o estabelecimento de estratégias para enfrentamento desse problema de saúde pública.

A pesquisa vai contar com um financiamento de R$ 3,9 milhões, resultado de um acordo de cooperação firmado este mês entre a Ufes e a ArcelorMittal Tubarão, e tem previsão para início até o fim desse ano.

 

Texto: Hélio Marchioni
Edição: Thereza Marinho