Pesquisadores da Ufes registraram, pela primeira vez, a relação entre a esclerose hipocampal e a neuroparacoccidiomicose. O achado científico foi publicado na edição de junho da revista acadêmica Arquivos de Neuro-Psiquiatria pelo professor de Radiologia Marcos Rosa Júnior, do Departamento de Clínica Médica da Ufes, juntamente com o professor de Infectologia Paulo Peçanha, do mesmo departamento, e com a médica neurologista Mariana Grenfell, do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam-Ufes).
A esclerose hipocampal, também denominada esclerose mesial temporal, é uma doença neurológica cujas causas e origens não são muito bem compreendidas, segundo o professor Rosa Júnior. “A maioria dos casos ocorre após uma ou mais crises convulsivas febris na primeira infância. Essas crises, se não forem tratadas, podem irritar o hipocampo do cérebro e levar ao desenvolvimento da esclerose hipocampal”, explica o professor. O hipocampo é uma estrutura do cérebro localizada nos lóbulos temporais de cada córtice cerebral (imagem). Pode ser considerado o principal local de armazenamento temporário da memória, principalmente a memória a longo prazo.
Essa enfermidade causa crises epiléticas instáveis, que não respondem a medicamentos e, em alguns casos, podem até precisar de cirurgia, afirma Rosa Júnior. Em países subdesenvolvidos, há descrições de doenças infecciosas que levam à esclerose hipocampal, como, por exemplo, a neurocisticercose (infecção causada no Sistema Nervoso Central pela forma cística da tênia do porco, a Taenia solium). Malformações vasculares também podem levar a esse tipo de esclerose.
Caso em estudo
O Ambulatório de Infectologia do Hucam-Ufes lida com casos de paracoccidioidomicose, que é a principal micose sistêmica no Brasil, causada por um fungo e com alta incidência no Espírito Santo, se comparada a outras regiões. No final de 2019, um dos casos acompanhados no Hospital, de um paciente já curado da micose, apresentou manifestações neurológicas: um exame de controle da doença indicou a alteração morfológica no hipocampo, que não havia sido registrada em exames anteriores.
“Até a publicação deste artigo, na semana passada, não havia, na literatura, a descrição da relação da paracoccidioidomicose com alterações no sistema nervoso central. Como se trata de uma doença prevalente na América Latina, do México para o sul, enviamos o artigo para publicação na revista brasileira, que é a mais importante na área de Neurologia”, conta o professor.
Para Rosa Júnior, conhecer essa associação entre as doenças impacta no tratamento e no acompanhamento da micose. “Assim, podemos acelerar ou não postergar o tratamento da paraccocidioidomicose, para evitar que a esclerose se desenvolva”, avalia.
Texto: Lidia Neves
Imagem: Sebastian Kaulitzki/Shutterstock
Edição: Thereza Marinho