Painel da Ufes guarda a arte e a história do artista e professor Raphael Samú

01/09/2022 - 18:53  •  Atualizado 02/09/2022 17:17
Compartilhe

A arte contemporânea brasileira, o mosaicismo e o ensino das artes plásticas no Espírito Santo perderam Raphael Samú. Expoente das artes no estado, artista plástico reconhecido mundialmente e pesquisador pioneiro das artes, Samú faleceu nesta quarta-feira, 31, em Vitória, aos 92 anos. Professor aposentado, lecionou no Centro de Artes da Ufes por três décadas. Uma de suas principais obras é o mural instalado na entrada do campus de Goiabeiras, concluído em 1977, e que se transformou em marca da identidade visual da Universidade. O mosaico, concebido e executado por Samú, tornou-se arte pública capixaba incluída entre as mais conhecidas.

Assista matéria produzida pela TV Ufes sobre o artista e sua atuação na Ufes.

Atendendo a um pedido do reitor Máximo Borgo, que exerceu seu mandato de 1971 a 1975, a criação do painel da Ufes acabou se tornando um projeto de extensão universitária. “Professores, técnicos e estudantes da Ufes, juntamente com moradores dos bairros no entorno do campus de Goiabeiras participaram da instalação do mural na Ufes”, lembra a professora e diretora do Centro de Artes, Larissa Zanin.

O mosaico foi projetado em 1974 e concluído em 1977. De acordo com Marcela Gonçalves, pesquisadora sobre Arte Pública, com graduação e mestrado em Artes pela Ufes, a intenção do artista foi mostrar a ficção antecipando a realidade. Ela detalha: “A leitura do mural feita da direita para a esquerda de quem vê dá uma noção de evolução científica. A primeira cena é a história em quadrinhos que narra a saga de Flash Gordon, Dr. Hans Zarkov e Dale Arden a bordo de um foguete em direção a um planeta. A segunda cena retrata a chegada do homem à lua a bordo do módulo lunar e, na parte central do mural, um aluno utiliza um microscópio retratando a pesquisa acadêmica”. O painel está instalado em uma área total de 168 metros quadrados.

A Universidade busca realizar a restauração do bem artístico, considerando que as intervenções urbanas, muito próximas do mosaico, fragilizaram a parede onde ele está instalado. De acordo com o secretário de Cultura da Ufes, Rogério Borges, um grupo de trabalho com esta intenção foi constituído em 2019, e vem atuando mais intensamente após as dificuldades no período mais grave da pandemia de covid-19.

“Dividimos o projeto em duas etapas: a estrutural e a artística”, explica. Segundo ele, a parte estrutural já tem diagnósticos para as intervenções, assim como algumas ações técnicas estão sendo viabilizadas para execução da parte artística. “Estamos acelerando esse processo de restauro porque esta obra não é um patrimônio importante somente da Ufes, mas do Espírito Santo”, acentuou.

Samú impulsionou o mosaicismo, ou arte musiva, no Brasil, a partir de sua pesquisa e de sua atuação na Ufes. Apaixonado pelo mosaico, pela gravura e pela serigrafia, foi o principal influenciador na criação de disciplinas acadêmicas nessas áreas. Mestre de dezenas de gerações de artistas plásticos, professores e pesquisadores da arte contemporânea, Samú mantinha o método generoso e didático de produzir e compartilhar conhecimento. Com frequência, reunia seus alunos, ex-alunos e voluntários para participarem de produções coletivas com a sua assinatura. Foi assim que ele criou o mosaico que está instalado na entrada da Ufes há mais de meio século.

Trajetória

Filho de imigrantes – Sofia, romena, e Adolpho, húngaro –, Raphael Samú nasceu em São Paulo em 1929, e veio para o Espírito Santo em 1961, convidado para lecionar na então Escola de Belas Artes, que se transformou no curso de Artes Plásticas – bacharelado e licenciatura. “Ele se tornou um exímio mosaicista, mas nunca abandonou outras técnicas visuais, como o desenho, a pintura e a escultura”, observa Gonçalves. “É uma das maiores referências nacionais em mosaico contemporâneo”, pontua.

“Samú foi sempre muito agregador, envolvia os estudantes em todos os seus projetos, e sabia da importância dele para as escolhas futuras dos jovens que com ele aprendiam”, relembra Maria Auxiliadora Corassa, professora do curso de Artes Plásticas do Centro de Artes, assim como Samú, que foi seu orientador.

Ela lembra da mobilização que seu mestre desenvolvia para que os estudantes participassem ativamente nos eventos da então Semana de Arte da Universidade, e que percorria os municípios capixabas. “Samú também colocou o Espírito Santo na cena nacional do mosaico contemporâneo”, diz. Corassa ingressou na Ufes como professora poucos anos depois de Samú se aposentar, em 1989.

A professora Zanin assinala a importância do artista: “Deixa um legado de dimensão nacional para as artes e para o ensino de arte do estado”. 

Além do Espírito Santo, os trabalhos de Samú estão presentes em outros estados, principalmente em São Paulo, onde atuou no movimento muralista dos anos 1950 e criou obras musivas em inúmeros prédios da capital.

Raphael Samú era casado com a professora aposentada da Ufes Jerusa Gueiros Samú, tinha dois filhos, Fábio e Miriam, e quatro netos.

 

Texto: Superintendência de Comunicação da Ufes