Após 10 anos de pesquisa nas praias da Areia Preta e de Meaípe, em Guarapari, o professor do Departamento de Física da Ufes, Marcos Tadeu Orlando e a sua equipe apresentaram resultados que apontam para a relação entre a menor incidência de câncer de mama em mulheres no município e as propriedades das areias monazíticas.
Os números comprovam que a cidade tem o menor número de casos de câncer maligno de mama per capita no Estado: em Guarapari, são dois casos a cada 100 mil mulheres; em Colatina, a ocorrência foi de 178 mulheres com a doença a cada 100 mil; em Linhares, o número foi de 148 mulheres. Os dados são do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Esta realidade reforça ainda mais a hipótese de que o nível de radiação encontrado nas areias das duas praias, que possuem a mesma quantidade de areias monazíticas, é benéfico à população, em comparação a outras praias do Estado. Essas areias são essenciais no tratamento de várias doenças, além da prevenção do câncer de mama. O objetivo principal da nossa pesquisa foi o de conhecer melhor e comprovar a eficiência terapêutica da radioatividade das areias na saúde das pessoas”, ressalta Orlando.
O professor Marcos Tadeu destaca ainda que a radioatividade de Guarapari tem como base o elemento tório e não o urânio. Ele lembra também que essa composição da areia foi formada pela própria natureza. “Não temos, então, um acidente provocado pela ação humana”, observa. As areias pretas são classificadas como monazíticas em alusão à raridade do material. A monazita é um mineral raro que produz gases com o efeito de aliviar dores. Esses gases são encontrados entre os grãos da areia.
Tricorrmat
As pesquisas foram realizadas no Laboratório de Tribologia, Corrosão e Materiais (Tricorrmat), localizado no campus de Goiabeiras, em Vitória, e em uma base científica instalada em Guarapari. Pesquisadores do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias (CCAE) da Ufes, em Alegre, também participaram da pesquisa.
Para coordenar as investigações na base científica foi convidado o geólogo e doutor em Geologia Médica e vice-presidente da Organização Mundial de Termalismo, Fábio Tadeu Lazzerini. O pesquisador coletou os dados em campo, observando a velocidade do vento, o índice de radiação no ar, o movimento das marés e a estrutura microrgânica das areias (dureza, composição e propriedades físicas).
Para o geólogo, uma exposição de 20 minutos durante 20 dias de radiação, já é suficiente para se verificar os efeitos benéficos na saúde das pessoas, principalmente aquelas que sofrem de problemas respiratórios e dores crônicas.
Guarapari
A cidade se tornou um espaço de referência mundial no tratamento de várias doenças com areias monazíticas. Não é raro ver, na cidade, moradores e turistas passando areia em partes do corpo por acreditarem que trazem benefícios à saúde, principalmente em casos de reumatismo, artrites, nevralgias, mialgias e enfermidades musculares, entre outras.
O professor Tadeu enfatiza que a pesquisa também teve o objetivo de tornar a cidade de Guarapari em um espaço de referência mundial no tratamento com areias monazíticas: “Guarapari poderá se tornar uma estância radioclimática, ou seja, uma clínica natural ao ar livre, em plena praia, projetando a cidade nacional e internacionalmente como a Cidade Saúde, além de atrair pesquisadores e turistas”, ressalta o professor.
Texto: Jorge Lellis
Edição: Ana Paula Vieira
Foto: Humberto Capai/Usina de Imagem