Um abalo sísmico ocorrido no último dia 2 de julho na Grande Vitória assustou alguns moradores da região. De acordo com o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), o tremor teve magnitude 1,9 na escala Richter e aconteceu às 13h24, horário de Brasília. Esse abalo de terra também foi registrado pelas estações da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), que monitora a frequência, a intensidade e a distribuição dos movimentos de terras ocorridos no território nacional.
Segundo a professora do Departamento de Geografia da Ufes Luiza Bricalli, doutora em Geologia, a ocorrência de tremores no Brasil e no Espírito Santo está relacionada a reativações de falhas geológicas, principalmente das falhas transversais presentes na Cadeia Meso-Atlântica que se prolongam para o continente.
“Sendo assim, outros terremotos podem ocorrer no Espírito Santo, mas com magnitudes baixas, que muitas vezes nem são sentidos pela população. Com uma profundidade rasa, não causam nenhum tipo de dano a grandes estruturas, além de ocorrerem, muitas vezes, longe de centros urbanos. Além disso, o Brasil e, por consequência, o Estado do Espírito Santo, está longe de um limite de placa tectônica onde ocorrem terremotos de alta magnitude”, explica.
De acordo com a cientista, esse não é o primeiro terremoto ocorrido no Espírito Santo. “Já existiram cerca de 30 terremotos no estado, sendo que o mais forte, com magnitude 6,1, ocorreu em Vitória no dia 1º de março de 1955. Esse terremoto foi registrado pelo International Seismological Center (ISC) da Inglaterra e considerado o segundo maior terremoto ocorrido no Brasil”, lembra.
Compressão
A pesquisadora ressalta que pesquisas científicas indicam que a placa Sul-Americana, onde o Brasil está inserido, está sendo comprimida pela movimentação das placas tectônicas: “Além disso, é importante mencionar as falhas geológicas presentes na bacia sedimentar, que é uma área deprimida, de origem tectônica, preenchida por rochas sedimentares, ou sedimentares e vulcânicas, com espessuras e dimensões consideráveis, com falhas nas bordas”.
Luiza Bricalli explica que um terremoto ocorre quando as rochas sob tensão rompem-se repentinamente ao longo de uma falha geológica. Ao se movimentarem, os blocos de rochas deslizam, provocando vibrações e ondas sísmicas. “Ocorre com maior frequência nos limites de placas tectônicas, compostas por crosta e manto, que se deslocam horizontalmente em diferentes direções em todo o planeta. O Brasil está sobre uma placa tectônica, a Placa Sul-Americana, que denominamos como uma região de intraplaca. No Brasil, ocorrem terremotos por vários motivos geológicos, mas não com magnitudes altas, como em áreas próximas ou em limites de placas tectônicas. “Os terremotos no Brasil ocorrem com magnitudes baixas, com média de 2,5, 3,0, e não são sentidos pela população muitas vezes, devido à sua profundidade de ocorrência e por ocorrer, muitas vezes, longe de centros urbanos”, enfatiza.
Nordeste
A professora lembra que a região Nordeste é a sismicamente mais ativa do país, na qual as falhas são muito ativas e causam acúmulo de estresse e liberação na forma de evento sísmico. Em outros locais do país, a reativação é um pouco diferente, apesar de também existirem falhas geológicas reativadas, assim como ocorre no Espírito Santo, como já foi comprovado pela tese de doutorado defendida pela pesquisadora, que também coordena o Grupo de Pesquisa Neotectônica no Espírito Santo, do Laboratório de Neotectônica e Sismológico (Lanesi) da Ufes. O grupo tem catalogado todos os terremotos ocorridos no estado, com detalhamento de dia, local, epicentro e magnitude.
Luiza Bricalli possui doutorado em Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Universidade de Roma (Uniroma/Itália). É mestre em Geomorfologia pela Universidade de São Paulo (USP) e graduada em Geografia pela Ufes. Possui experiência em Neotectônica, Geologia, Geomorfologia, Sedimentologia e Sensoriamento Remoto.
Ela mantém um canal no YouTube no qual divulga conteúdos como explicações científicas sobre tremores de terras ocorridos no estado, placas tectônicas, ciclos de pandemias, mudanças climáticas, Geologia e conceitos básicos de Geomorfologia.
O objetivo do canal é criar um mecanismo de diálogo entre a Universidade e a sociedade, apresentando as principais teorias, métodos e conceitos da área, além de conceitos básicos de Geomorfologia.
Texto: Jorge Medina
Imagem: Repositório da Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Edição: Thereza Marinho