Censo demográfico possibilitará analisar impactos das mudanças econômicas no ES

24/10/2022 - 18:25  •  Atualizado 25/10/2022 17:27
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Após 12 anos, o Brasil está passando por um novo censo, cuja coleta de dados será concluída em dezembro. Para os pesquisadores de Geografia da População, essas informações são essenciais para estudar aspectos como migração, mobilidade espacial, urbanização, metropolização, segregação socioespacial, violência, criminalidade, gênero e sexualidades, problemas etnorraciais, injustiças socioespaciais e questões de saúde e assistência social. 

Para o Espírito Santo, os dados do Censo 2022 permitirão analisar os impactos da pandemia e da redução das operações da Petrobrás no estado, a consolidação da presença da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) no litoral norte e outras mudanças na dinâmica familiar e migratória.

“O grande diferencial do Censo, em relação a todas as outras pesquisas, é o nível de detalhamento que proporciona. Ele permite conhecer o país inteiro em todas as áreas e suas peculiaridades. O censo divulga dados representativos de todos os 5.568 municípios do Brasil, seja um município dentro de uma região metropolitana ou uma comunidade pequena do interior, permitindo uma leitura das especificidades de cada lugar do país”, detalha Ednelson Dota, professor do Departamento de Geografia da Ufes e coordenador do Laboratório de Análises Geográficas, Demográficas e da População (Lagedep). 

Sobre o atraso de dois anos na realização do Censo, o professor ressalta que há um ponto negativo e outro positivo. O negativo é a quebra do intervalo padrão de dez anos, justamente porque existe uma série de indicadores de políticas públicas que dependem desses dados. O positivo será a possibilidade de analisar os impactos socioeconômicos causados pela pandemia à população brasileira. 

Outra expectativa é conhecer as mudanças demográficas intensificadas pela crise sanitária. “A migração varia muito a partir de conjunturas e estruturas sociais. Quando se tem um grande choque, como o provocado pela pandemia, é possível que tenham ocorrido grandes alterações na migração. Estudos anteriores produzidos pelo laboratório mostraram que, quando ocorre uma grande crise econômica, por exemplo, isso pode provocar uma migração, em busca de uma melhoria no trabalho ou na habitação. Quando a crise se alastra, há uma tendência de a pessoa permanecer onde está. Se o risco do insucesso for muito grande, o volume de migrações pode diminuir. Vamos verificar e estudar essas movimentações migratórias com os dados do Censo”, ressalta o coordenador do Ladegep. 

Fatores econômicos

A venda de ativos da Petrobras e sua saída do Espírito Santo tem impactado os movimentos populacionais e causado grandes prejuízos com a diminuição de royalties, arrecadação fiscal, empregos, salários e projetos socioambientais. O estado é o terceiro maior produtor de petróleo e o quarto em gás natural do país, de acordo com Dota. O norte capixaba, onde estão os campos terrestres da empresa e de terceirizadas, está sendo o mais impactado. 

“A transferência da unidade de operação [do norte do ES] para o Rio de Janeiro terá efeitos relevantes para o estado. Já está afetando a economia, a migração, o mercado de trabalho e o setor habitacional. Não sabemos exatamente se o censo demográfico, que está em execução, vai identificar esse impacto”, explica Dota.

O professor lembra ainda que, na década de 2000, houve um crescimento econômico e migratório considerável para o estado, em particular para a Região Metropolitana da Grande Vitória e para a região costeira norte, por causa do desenvolvimento das atividades petrolíferas, o qual provocou impactos significativos sobre a organização do espaço regional do estado. Agora, ocorre um movimento contrário.

“Naquela época, assistimos a uma movimentação considerável da população e a um deslocamento de trabalhadores da cadeia do petróleo dentro do estado, levando em consideração que a empresa atua de forma integrada e especializada na indústria de óleo e gás natural e contratou serviços diversos de empresas locais”, reforça o professor.

Sudene

Para esta edição do Censo, há ainda a expectativa de verificar os efeitos dos investimentos da Sudene no litoral norte, em um período mais estendido. Dota comenta que “a Sudene chegou em 2008 no Espírito Santo, nos municípios ao norte do Rio Doce, e os dados do Censo de 2010 não detectaram os efeitos nos municípios, porque eram muitos recentes. A partir dessa data, os municípios dessa região receberam muitas empresas e indústrias de grande porte, principalmente os litorâneos, com destaque para Linhares e São Mateus. Agora vamos enxergar os efeitos desses grandes investimentos”.

A Sudene, composta por todos os estados da região Nordeste do Brasil, além de 249 municípios de Minas Gerais e 31 do Espírito Santo, tem o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável, visando à diminuição de desigualdades entre as regiões do país.

O professor pretende verificar se o aumento da economia nos municípios contemplados pela Sudene está gerando desenvolvimento de fato, bem como qualidade de vida para as pessoas ou não. “O crescimento econômico acontece quando se tem um aumento da produção e da riqueza gerada, mas, se isso não virar investimento social, não melhora em nada a qualidade de vida da população”, enfatiza.

 

Conheça mais as pesquisas do Lagedep no site da Revista Universidade.


 

Texto: Superintendência de Comunicação da Ufes
Foto: Tânia Rêgo/ABr