Comissão da Verdade da Ufes realiza entrega solene do relatório final

31/03/2017 - 21:31  •  Atualizado 03/04/2017 17:57
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A Comissão da Verdade da Ufes (CVUfes) realizou nesta sexta-feira, 31, a entrega solene do relatório final sobre os fatos ocorridos na Universidade ou que envolveram estudantes, professores e servidores da instituição, durante o período da ditadura militar.

Além do lançamento do relatório impresso, a CVUfes disponibilizou o conteúdo do Relatório Final em formato digital. Para acessar, clique aqui.

A solenidade ocorreu às 17 horas, no auditório do prédio CT-1, campus de Goiabeiras, com a presença do reitor Reinaldo Centoducatte, da vice-reitora Ethel Maciel e do secretário de Estado de Direitos Humanos, Júlio Pompeo, entre outras autoridades, professores, estudantes e servidores da Ufes.

A entrega do documento no dia 31 de março coincide com a data do golpe de Estado que resultou na ditadura, no período de 1964 a 1985, que foi o objeto de estudo da Comissão.

“Tudo o que está contido neste relatório está referenciado em documentos ou em depoimentos. Não tem interesse político aqui. O único objetivo foi resgatar a história da Universidade durante a ditadura militar e o trabalho da comissão foi pautado pela transparência e pelo direito ao acesso às informações. Esperamos que este relatório alcance os jovens, em um momento em que líderes políticos e ex-torturadores pregam o fim da democracia”, destacou o presidente da comissão, professor do Departamento de Arquivologia e do Programa de Pós-Graduação em História da Ufes, Pedro Ernesto Fagundes (na foto, ao centro, juntamente com outros membros da Comissão).

Depoimentos

Também participaram da cerimônia, os ex-estudantes de Odontologia da época, Laura Coutinho e Perly Cipriano, e o ex-professor de Medicina Vitor Buaiz, que foram presos durante a ditadura.

“Até então, a história só havia sido contada por um lado. Agora temos os dois lados. Naquela época, diante do regime imposto, não havia outra alternativa a não ser lutar contra o que estava estabelecido. Hoje nós estamos aqui numa posição de homenageados e me sinto muito honrada. Mas o que eu queria era deixar uma contribuição para a juventude. É importante que vocês tenham acesso, não só a este documento que a Universidade gerou, mas a outros livros que tratam deste período, no qual mínimos direitos individuais eram negados”, declarou Laura Coutinho, que recebeu um diploma de honra ao mérito pelas contribuições dadas ao trabalho da Comissão.

O ex-governador Vitor Buaiz também se pronunciou: “Me sinto plenamente gratificado de estar presente neste momento. Posso dizer que cumprimos o nosso papel. É importante que esses fatos sejam divulgados, principalmente entre os jovens, que vão governar o Brasil futuramente. Essa é uma noite se festa, de comemoração da resistência da Universidade Federal do Espírito Santo”.

A vice-reitora Ethel Maciel afirmou que era necessário romper o silêncio e ouvir a história contada pelos protagonistas. “Não podemos fechar os olhos e deixar de reconhecer toda essa luta. Hoje, continuamos sendo a resistência. É importante manter essa resistência e lutar pela democracia”, disse.

O reitor Reinaldo Centoducatte exaltou a luta dos ex-estudantes, servidores e professores que combateram a ditadura: A luta de vocês foi que permitiu que esse país voltasse ao estado de direito.

Vocês são referência pelo que fizeram no passado e do que devemos fazer hoje para que o país não sofra pela falta de democracia. A juventude precisa conhecer essa memória para que este passado não mais aconteça”.
 


Saiba como trabalhou a Comissão da Verdade da Ufes: 

A CVUfes foi instalada em fevereiro de 2013, por meio da Portaria 478 e contou com 11 membros: os professores Pedro Ernesto Fagundes (coordenador), Paulo Velten (subcoordenador), Attilio Provedel, Luiz Cláudio Moisés Ribeiro, Temístocles de Souza Luz e Bernardete Gomes Mian; os servidores técnico-administrativos Rita de Cássia Rebello Loss e Wellington Pereira; e os estudantes Marcello Furtado, Nevitton de Souza e Thiago Soares Bermudes.

De acordo com Pedro Ernesto Fagundes, os membros se dividiram em subgrupos para a coleta de documentos, pesquisa em acervos, formalização de depoimentos e organização e sistematização do material encontrado.

“Buscamos identificar eventos importantes do período, membros da comunidade universitária que foram presos ou que sofreram torturas, ameaças e perseguições e as ações repressivas diretas na Ufes, além das exonerações, aposentadorias forçadas e expulsões”, explica o professor.

O Relatório foi finalizado em 2016 e editado pela Superintendência de Cultura e Comunicação (Supecc).

 

Texto e foto: Thereza Marinho