Projeto propõe adaptações no tratamento de câncer de cabeça e pescoço durante a pandemia

10/07/2020 - 16:52  •  Atualizado 13/07/2020 17:52
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O câncer de cabeça e pescoço é uma doença que vem crescendo a cada ano em todo o mundo. No Brasil, a situação não é diferente. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o país registra cerca de 41 mil novos casos da doença por ano.

Devido à pandemia da COVID-19, alguns pacientes com câncer de cabeça e pescoço estão deixando de buscar atendimento. Preocupada com essa situação e em como os profissionais que estão trabalhando no atendimento a esses pacientes devem se adaptar à nova realidade, a professora Sandra von Zeidler, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Ufes, elaborou o projeto Adaptação do Manejo do Câncer de Cabeça e Pescoço em tempos de COVID-19.

“A pandemia trouxe a necessidade de adaptações em todas as áreas de saúde e um desafio para os serviços de oncologia, impactados pela redução no atendimento. Assim, nesse projeto, propomos o  desenvolvimento de um protocolo de adaptação do manejo do câncer de cabeça e pescoço em tempos de COVID-19, baseado nas orientações das organizações internacionais e adaptado à realidade da estrutura de atendimento oncológico do Sistema Único de Saúde (SUS) no Espírito Santo”, explica Sandra von Zeidler.

A pesquisa também objetiva responder a algumas perguntas sobre a doença, tais como: pacientes com COVID-19 tolerarão a cirurgia e/ou a radioterapia de maneira semelhante àqueles que não possuem a doença? Quem deve ser priorizado para tratamento em situações de grave escassez da capacidade de atendimento? Um paciente com chances de cura deve ser priorizado em relação a um paciente sintomático que requer cuidados paliativos? As consultas de acompanhamento remoto são suficientes para pacientes com câncer de cabeça e pescoço? A imunossupressão associada ao câncer e sua terapia afeta a evolução da COVID-19?

“Como critérios para subsidiar as condutas definidas nesse protocolo, avaliaremos a exposição do paciente e da equipe multidisciplinar ao novo coronavírus, realizando análise de carga viral por RT-PCR, que detecta a presença do vírus no organismo do paciente em tempo real, e sorologia por imunoensaio enzimático, o teste Eliza, que permite identificar anticorpos específicos”, esclarece a coordenadora.

Segurança

Essas análises, segundo a pesquisadora, serão fundamentais para entender a influência da COVID-19 na evolução do paciente com câncer frente ao tratamento, bem como trará segurança para as equipes multiprofissionais, uma vez que elas apresentam maior risco de infecção, devido à alta carga viral nas vias aéreas superiores e à exposição constante a procedimentos que geram aerossóis (partículas), como endoscopias, traqueostomias, procedimentos odontológicos e cirurgias das vias aéreas superiores.

“Assim, essa proposta é importante para o restabelecimento seguro do atendimento aos pacientes com câncer de cabeça e pescoço do Espírito Santo, reduzindo os impactos da alta mortalidade desses tumores e reorientando os fluxos de atendimento. Além disso, evitará o represamento dos casos para o período pós-pandemia, o que poderia levar ao avanço do câncer pelo longo período de espera e sobrecarga nos serviços oncológicos”, conclui.

O projeto terá duração de 24 meses, com início previsto para este mês de julho, e está sendo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Ufes, em parceria com as equipes de oncologia do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam-Ufes) e do Hospital Santa Rita de Cássia, que ajudarão no restabelecimento das rotinas de atendimento aos pacientes com a doença. Conta também com a colaboração dos programas de pós-graduação em Doenças Infecciosas e de Engenharia Ambiental, ambos da Ufes, e do grupo alemão Infections and Cancer Epidemiology do German Cancer Research Center (DKFZ), além do apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes).

Publicação

Com o título Adapting Head and Neck Cancer Management in the Time of COVID-19 (Adaptação do manejo do câncer de cabeça e pescoço na época do COVID-19), a ideia central do projeto foi publicada em um editorial da edição de abril da revista científica International Journal of Radiation Oncology, Biology, Physics, em parceria com o Reino Unido, os Estados Unidos, a Austrália e a China.

A publicação também foi destaque no Portal de Pesquisa da University of Birmingham, com a qual a Ufes mantém acordo de cooperação internacional há cinco anos por meio do Institute of Head and Neck Studies and Education, School of Cancer Sciences/ University of Birmingham, do Reino Unido.

A doença

O câncer de cabeça e pescoço é o nome que se dá ao conjunto de tumores que se manifestam na boca, na faringe e na laringe das pessoas, entre outras localizações da cabeça e do pescoço. Segundo estimativas do Inca, em geral, os tumores de cabeça e pescoço são mais frequentes em homens na faixa dos 60 anos de idade. O câncer de boca é o mais frequente e representa o sexto tipo de tumor com maior incidência na população masculina e o 12º mais comum entre as mulheres.


Texto: Jorge Medina
Imagem: Freepik
Edição: Thereza Marinho