Estudo Ufes-USP aponta origens genéticas da população indígena do município de Aracruz

16/01/2020 - 12:07  •  Atualizado 20/01/2020 11:14
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Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Ufes e da Universidade de São Paulo (USP) sobre a origem das populações Tupiniquim e Guarani do município de Aracruz, no litoral norte do Espírito Santo, utilizou informações obtidas no material genético desses povos indígenas para reconstruir a história deles. O artigo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), dos Estados Unidos, em 13 de janeiro, concluiu que essas populações são descendentes de tribos Proto-Tupi estabelecidas na Amazônia há cerca de quatro mil anos.

Parte dessas tribos se espalhou pela costa brasileira, incluindo o litoral capixaba, por meio de um movimento migratório conhecido como Diáspora Tupi, dando origem à população indígena que habitava a costa do Brasil quando Cabral aqui aportou em 1500, também chamada de Tupis da costa.

Os dados genéticos dos Tupiniquim e Guarani-M'byá das aldeias de Aracruz utilizados no artigo foram coletados em uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da Ufes em 2004 e 2005. O objetivo original do estudo era verificar o impacto da genética no desenvolvimento da hipertensão arterial. “Toda a população indígena adulta dessas aldeias foi estudada, medindo-se o consumo de sal, pressão arterial, gordura corporal e rigidez das artérias. Foram realizadas medidas antropométricas, além de eletrocardiograma”, explica o coordenador da pesquisa, professor José Geraldo Mill.

Também foram coletadas amostras de sangue para exames bioquímicos e obtenção de material genético. O estudo publicado na revista PNAS comparou o DNA dessas populações indígenas atuais com o DNA coletado na década de 60 em populações indígenas da Amazônia, que, naquela época, ainda estavam totalmente isoladas. Comparando os dados desses povos primitivos com os dos povos Tupiniquim e Guarani atuais, foi possível determinar a origem Tupi da população indígena capixaba estudada pela Ufes.

Miscigenação

Além da ancestralidade desses povos, a pesquisa mostrou que a população Tupiniquim, após a sua quase extinção há cerca de cem anos, conseguiu se reconstituir, por meio da miscigenação com africanos e europeus. “Apesar da importância da miscigenação para a sobrevivência do grupo, há ainda indivíduos que conservam mais de 95% do DNA similar ao povo Proto-Tupi que habitava a Amazônia há quatro mil anos, comprovando a linha de continuidade da população atual com a ancestral”, pondera o professor Mill.

O pesquisador salienta que as modernas técnicas da genética possibilitam reconstituir a história de povos e sua identidade. “O sequenciamento do genoma humano há cerca de 20 anos e o avanço das técnicas de leitura do código genético vêm servindo para abrir novas fronteiras do conhecimento, impensáveis quando o professor Francisco Salzano, na década de 60, participou de expedições na Amazônia buscando respostas para perguntas que todos os povos sempre fazem sobre si mesmos: de onde viemos? como chegamos até aqui?”, conclui.

 

Texto: Nábila Corrêa
Foto: Valter Campanato, Agência Brasil