A maioria das pessoas aumentou o consumo de mídias e de informação durante o isolamento social motivado pela pandemia de COVID-19. Essa foi a conclusão da pesquisa Coronavírus, Comunicação e Informação, realizada sob a coordenação das professoras Daniela Zanetti e Ruth Reis, do Departamento de Comunicação da Ufes.
O estudo dos grupos de pesquisa Cultura Audiovisual e Tecnologia (CAT) e Comunicação, Cultura e Discurso (Grudi) baseou-se nas respostas de 831 pessoas (sendo 482 do Espírito Santo) a um formulário on-line de 16 questões, com amostragem não probabilística. Participaram pessoas de 24 estados brasileiros, de todas as regiões do Brasil, além de pessoas que vivem em outros países.
A enquete ficou disponível na semana de 12 a 19 de abril, que coincidiu com o período de maiores índices de isolamento social. “Percebemos uma resposta rápida ao questionário, um interesse das pessoas em participar. Naquela semana, entre os que responderam, 74,7% estavam em isolamento total e 22,9%, parcial, então a pesquisa refletiu bem esse momento”, aponta a professora Daniela Zanetti.
A maioria das pessoas indicou que está trabalhando ou estudando on-line durante o isolamento: 29,2% têm jornadas de até quatro horas diárias, 30,6% dedicam de quatro a oito horas por dia, 14,7% ficam de oito a 12 horas estudando e 4,7%, mais de 12 horas. Os que não estão estudando ou trabalhando correspondem a 20,8%.
A professora Ruth Reis destacou que um dos principais indicadores que se obtém com pesquisas como essa, corroboradas pelas que vêm sendo feitas em outras regiões, é o fortalecimento do campo da comunicação, a partir dos novos comportamentos e hábitos desencadeados neste período de isolamento social, com o uso mais intensivo das plataformas comunicacionais, o home office e as atividades virtuais de ensino. “Além de novas ferramentas de comunicação on-line, evidencia-se a demanda por conteúdos qualificados. Aponta-se também para a necessidade de um aprimoramento das competências de comunicação por parte de qualquer usuário, com ênfase para a dimensão ética para que tenhamos um ambiente comunicacional participativo e mais saudável”, afirmou.
Consumo de informação
A quase totalidade dos que responderam busca se informar sobre a epidemia do novo coronavírus: 75,1% o fazem diariamente e 21,8%, algumas vezes por semana. Apenas 0,8% disse que nunca vai atrás dessas informações. A televisão é o principal meio em que as pessoas buscam informações (73,41%), seguida de sites e blogues jornalísticos (65%) e de redes sociais, sendo as mais usadas o WhatsApp (34,42%) e o Facebook (25,15%).
“Os dados no Brasil seguem a tendência mundial, com destaque para o aumento de consumo de TV e de sites de notícias. E, exatamente nesse período, a TV ampliou suas produções jornalísticas, já que gravações de outros tipos de conteúdo foram interrompidas. Nós acreditamos que o jornalismo foi fortalecido nesse contexto”, avalia Ruth Reis.
O destaque para o consumo de TV pode estar relacionado ao fato de as pessoas estarem mais tempo em casa e com a possibilidade de acessar informações em várias telas, analisa Daniela Zanetti. “Nos Estados Unidos, o relatório Nielsen Total Audience indicou um aumento de três horas diárias no consumo de televisão entre os que estão fazendo home office. Já o Global Web Index aponta que, em março, 87% dos norte-americanos e 80% dos britânicos ampliaram o consumo de conteúdos, principalmente em TVs abertas, vídeos e transmissões on-line”, complementa.
Entre os que responderam ao questionário da pesquisa da Ufes, as informações que mais interessam sobre a pandemia são as relacionadas às ações do governo brasileiro (81,47%), às descobertas científicas (73,89%), às medidas de prevenção (72,32%) e às ações de outros países (65,7%). Mais da metade dos participantes indicou ter interesse, também, em notícias sobre o número de mortos e de contaminados, causas e sintomas da doença, e projetos solidários para pessoas carentes.
As pesquisadoras destacam, ainda, que as respostas indicam a busca por informações mais aprofundadas e também conhecimento de experiências próximas a esta, em artigos, jornais e sites jornalísticos (68,23% dos que responderam ao questionário), artigos científicos (41,64%), documentários (30,32%), literatura (13,96%), livros científicos (8,06%) e até em filmes de ficção (4,57%), entre outros.
O estudo também buscou conhecer os tipos de entretenimento mais adotados. Os mais citados foram filmes (75,21%), redes sociais (71,96%), música (62,94%), séries (62,7%) e livros (44,52%).
Redes sociais
Em relação ao uso das redes sociais no período do isolamento, 80,4% dos participantes afirmaram que compartilham informações sobre o coronavírus, sendo que 22% o fazem diariamente. Os tipos de informação mais compartilhados são alertas das autoridades (54,87%), matérias e artigos de veículos de comunicação (49,94%), e áudios e vídeos de especialistas (44,52%).
Apesar de poucas pessoas afirmarem compartilhar memes em suas redes (17,69%), esse tipo de conteúdo característico da internet é um dos mais recebidos pelos participantes (por 53,43% deles), juntamente com matérias e artigos de veículos de comunicação (58,48%), e áudios e vídeos de especialistas (52,35%). As fake news e os alertas de autoridades também chegam a uma grande proporção (47,77% e 47,41%, respectivamente).
Apenas 8,4% das pessoas afirmaram criar frequentemente conteúdos próprios, sobre qualquer assunto, para suas redes sociais neste período de isolamento. Outros 38,4% o fazem às vezes. Os tipos de conteúdo mais gerados são mensagens de texto (64,34% dos participantes que produzem), stories (40,75%), e fotografias e imagens (40,75%).
Acesse a pesquisa completa, que aborda ainda teorias sobre a pandemia e expectativas para o futuro, no documento anexado abaixo.
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Texto: Lidia Neves
Imagem: Freepik
Edição: Thereza Marinho