Alunos egressos da Ufes têm filmes selecionados no Festival de Cinema de Vitória

17/11/2020 - 16:23  •  Atualizado 24/11/2020 18:00
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Cinco filmes produzidos por estudantes recém-formados em cursos da Ufes estão entre os 84 curtas e longas-metragens de todo o Brasil selecionados para o Festival de Cinema de Vitória (FCV), maior evento de cinema e audiovisual do Espírito Santo. As obras Inabitáveis, de Anderson Bardot; Para todas as moças, Lembrar daquilo que esqueci e O trauma é brasileiro, de Castiel Brasileiro, e O tempo e a falta, de Claudiana Braga, serão apresentadas nas mostras do Festival, que acontecerá entre os dias 24 e 29 de novembro, com exibição gratuita na plataforma InnSaei.TV.

O Festival está em sua 27ª edição, a primeira em formato on-line em virtude da pandemia da COVID-19. Com o tema Sonhar colorido faz bem, o evento vai exibir os filmes distribuídos em 12 mostras, das quais 11 são competitivas e uma fora de competição, além de sessões especiais. Os filmes Inabitáveis, Para todas as moças e O tempo e a falta vão concorrer na 24ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas, que traz uma seleção de títulos da safra recente do cinema brasileiro. Já Lembrar daquilo que esqueci concorre na 5ª Mostra Cinema e Negritude, na qual estão os títulos produzidos exclusivamente por realizadores negros e que tratam das narrativas que atravessam a população negra no Brasil. O trauma é brasileiro será exibido na 9ª Mostra Foco Capixaba, janela exclusiva para realizadores do estado.

Recém-graduado em Cinema e Audiovisual, Waldir Segundo é um dos curadores de seis mostras do Festival, dentre as quais está a 2ª Mostra Do Outro Lado – Cinema Fantástico e de Horror, cuja primeira edição, em 2019, foi seu trabalho de conclusão de curso (TCC).

Inabitáveis

Esse curta-metragem de ficção foi produzido por Anderson Bardot como TCC do curso de Cinema e Audiovisual. Com 25 minutos de duração, a obra é inspirada em um espetáculo homônimo da Companhia In Paris de Dança. Lançado em janeiro de 2020 no 49º Festival Internacional de Rotterdam, alçou Bardot ao posto de primeiro cineasta capixaba a estrear um filme nesse evento.

Inabitáveis aborda a homoafetividade negra. Traz uma narrativa não convencional, híbrida e poética, composta por quatro protagonistas que, diante das amarrações impostas pelo status quo vigente na cidade de Vitória, buscam a celebração de seus corpos negros e queers.

“O Festival de Cinema de Vitória é um patrimônio nosso. É um orgulho estar nessa edição com Inabitáveis, porque esse filme fala sobre a nossa teimosia de dizer ao poder público que é pela arte-educação que devemos buscar uma sociedade mais igualitária e civilizada. Esse é o tipo de filme que eu gostaria de ver na tela do cinema”, analisa Bardot.

O filme também concorre ao Coelho de Prata de melhor curta-metragem no Festival Mix Brasil, do qual participam 101 obras, entre curtas e longas, de 24 países.

Moças, lembranças e trauma

O filme Para todas as moças foi produzido por Castiel Brasileiro em 2019, enquanto estudava Psicologia na Ufes. É um documentário de dois minutos sobre estratégias de promoção de saúde criadas por pessoas que se fazem presentes por meio da cisgeneridade, enquanto norma, e a racialização. “Nesse filme, eu utilizo fundamentos (imagens e frequências) da macumbaria brasileira para saudar e cultuar nossos corpos transmutados que, aqui neste mundo, são nomeados de travestis e ‘bixas’. É uma oferenda que nos alimenta de coragem e nos faz lembrar que nossos corpos contraditórios devem ser cuidados, protegidos e cultuados”, explica a cineasta.

Castiel participa do FCV com outros dois filmes. Em Lembrar daquilo que esqueci, ela aborda, em 20 minutos, a questão da cura e questiona como se curar do colonialismo que adoece as pessoas. Roger Ghil, recém-graduada em Cinema e Audiovisual, realizou, juntamente com Castiel, a montagem de áudio e a finalização dessa obra.

Já o documentário O trauma é brasileiro, de 14 minutos, foi coproduzido por Ghil e Castiel e traz um registro das experiências estéticas de Cura Profana, propostas na primeira exposição individual de Castiel, que também é artista plástica.

O tempo e a falta

Também fruto do TCC de Cinema e Audiovisual, esse documentário de 17 minutos tem como tema a solidão do idoso. No filme, Claudiana Braga acompanha a rotina de pessoas que se sentem sozinhas e desconectadas das relações sociais.

Para a cineasta, nascida em Conceição do Castelo e criada em Venda Nova do Imigrante, cidades do interior do Espírito Santo, ter o trabalho de conclusão de curso entre os selecionados no maior festival de cinema do estado tem enorme significado: “Mostra a importância da universidade pública, que deu a oportunidade para uma pessoa como eu, pobre e do interior, que não teria condições de arcar com custos de um ensino superior, muito menos de um curta-metragem, ter seu trabalho reconhecido. Isso traz esperança de um progresso para quem vem de baixo”.

O curso de Cinema e Audiovisual faz parte do Centro de Artes da Ufes e está completando 10 anos de existência em 2020.

 

Texto: Adriana Damasceno
Imagem: Divulgação
Edição: Thereza Marinho