Cine Metrópolis recebe sessão única de documentário sobre Belchior nesta segunda, 12

09/12/2022 - 11:27  •  Atualizado 12/12/2022 19:21
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A noite desta segunda-feira, 12, no Cine Metrópolis será dedicada a um dos maiores nomes da música brasileira. A partir das 19 horas, a mostra audiovisual Formemus exibe Belchior, Apenas um Coração Selvagem, documentário sobre a carreira do compositor de clássicos como Alucinação e Como Nossos Pais. Após a sessão, o cantor André Prando se apresenta num pocket show com canções do artista. A entrada é gratuita e os ingressos devem ser retirados na bilheteria do cinema uma hora antes da sessão.

Dirigido por Camilo Cavalcanti (que estará na sessão) e Natália Dias, o filme é conduzido por depoimentos do próprio Belchior, extraídos de entrevistas em áudio e vídeo, além de recortes de revistas e jornais. Há também declamações de poemas e letras do artista pelo ator Silvero Pereira. Ao recusar a estrutura clássica de entrevistas e análises de especialistas e amigos, o documentário faz jus ao personagem indecifrável e contraditório que foi Belchior, fruto de cruzamentos de origens e influências diversas, da poesia de Rimbaud ao rock dos Beatles, da cidade cearense de Sobral até o estouro no eixo Rio-São Paulo.

"Tínhamos resistência em entrevistar muitas pessoas. Queríamos ouvir a voz dele", lembra Cavalcanti. A intenção da dupla de diretores, ainda em 2015, era localizar o artista, que não fazia mais shows e estava recluso desde o fim dos anos 2000, e entrevistá-lo para o filme. "A ideia era ir atrás do Belchior e trazer ele de volta. Terminar o filme com um grande show. Mas, no meio do processo (em 2017), ele morreu."

A partir daí, o documentário precisou ser repensado, e o material de arquivo passou a balizar a decisão estrutural. Nome fundamental nesse aspecto é o da pesquisadora Isabela Mota, que apresentou aos diretores vários fragmentos de entrevistas em que Belchior discorre sobre sua obra e suas ideias.

"Esse material todo mostrou pra nós que era possível ter um filme em primeira pessoa. A pesquisa é chave num filme como o nosso. Foi a pesquisa que disse para nós que era possível contar a história dessa maneira", afirma Cavalcanti.

Redescoberta

De uns anos para cá, a obra de Belchior vem sendo regravada por novas gerações da música brasileira, como a cantora Ana Cañas e o rapper Emicida. Cavalcanti atribui essa redescoberta em parte à politização e à radicalização do debate no Brasil a partir de 2013, contexto em que as letras do compositor se tornam ainda mais potentes.

"'Como nossos pais' é atemporal no sentido de questionar as gerações, de como os debates são distintos, porém os mesmos. 'Sujeito de sorte' ganhou um protagonismo muito grande. Tem essa frase icônica 'Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro', que foi aplicada em todos os anos. Ficou muito evidente, para as novas gerações, a potência dessa obra."

Embora o sumiço de Belchior tenha sido assunto recorrente na mídia - e ainda seja nas conversas que envolvem o artista -, o documentário opta por abordar a questão apenas lateralmente. "O filme sempre foi sobre a obra. Tem uma frase do Belchior, que está no filme, que norteia isso: a obra do artista é mais importante do que a pessoa do artista. A obra não trata diretamente das questões de foro íntimo do artista", explica.

 

Texto: Leandro Reis
Imagem: Divulgação - cena de "Belchior, Apenas um Coração Selvagem"

Edição: Thereza Marinho