Livro que resgata história dos negros do Espírito Santo terá nova edição lançada nesta terça, 10

09/06/2025 - 16:18  •  Atualizado 09/06/2025 16:44
Texto: Com informações da assessoria do evento     Edição: Thereza Marinho
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Cartaz de divulgação do lançamento

Após 26 anos de sua primeira publicação, o livro Negros do Espírito Santo, de autoria da professora do Departamento de História da Ufes Leonor Araujo, da fotógrafa documentarista Carla Osório, e da jornalista Adriana Bravin, terá uma nova edição lançada nesta terça-feira, 10 junho, das 19 às 21 horas, na Mosaico Fotogaleria (Rua Aristóbulo Barbosa Leão, 500 - loja 18 - Mata da Praia, Vitória). A obra resgata o patrimônio imaterial e as formas de resistência socioeconômica e cultural de comunidades negras e quilombolas do Estado, a partir de pesquisas, imagens e relatos de mestres e guardiões de memórias.

Negros do Espírito Santo reúne 59 fotografias em preto e branco de Carla Osório, com textos de referência histórica para abertura de cada capítulo, reunidas numa publicação de 160 páginas. É uma edição atualizada do livro originalmente produzido na década de 1990, após exposição fotográfica sobre o tema, e foi viabilizado pelo Ministério da Cultura por meio da Lei Rouanet, com patrocínio do Banestes. A produção é da Atua Comunicação e a edição da Editora Cousa.

A documentação fotográfica é acompanhada de informações reunidas durante seis anos por Leonor Araujo, somadas a depoimentos de mestres de saberes e culturas contados por Adriana Bravin, como a Dona Cizalpina, referência viva da trajetória dos negros escravizados trazidos para o Porto de São Mateus, no norte do Estado; do Mestre Antônio Rosa, da Banda de Congo Folclore de São Benedito, da Serra; e do Mestre Miúdo, guardião de memória do Caboclo Bernardo, da Vila de Regência, em Linhares, também na região norte.

Para Leonor Araujo, a reedição do livro, além de histórica, tira do apagamento a história do povo negro do Estado e oferece um texto pedagógico que pode ser utilizado em escolas, famílias, igrejas e comunidades quilombolas. “É uma obra ainda inédita, se considerarmos o que ela traz para o cenário literário, cultural e fotográfico capixaba”, afirma. Leonor enfatiza, ainda, a interseccionalidade do livro, produzido por mulheres com idades, profissões e formações diferentes que se juntaram para dialogar, contar, e principalmente ouvir a história do povo negro do Espírito Santo.

A obra também é disponibilizada em versão acessível, no formato Daisy (Digital Accessible Information System, sistema de informação digital acessível), que é um sistema de livros digitais sonoros com o objetivo de ajudar pessoas com deficiência visual ou com dificuldades de acesso a materiais escritos tradicionais, se consolidando como mais uma ferramenta de inclusão no mundo da leitura.

"É uma oportunidade única relançar uma obra 26 anos depois da primeira edição, numa versão atualizada com um tratamento diferenciado. As fotografias em preto e branco, produzidas em película, constituem um verdadeiro acervo artístico e histórico. Um documento à altura para contar a trajetória de aproximadamente 480 anos das comunidades negras no Espírito Santo, e que hoje compõem 61% da população capixaba", ressalta Carla Osório.

Pesquisas nas comunidades

As pesquisas foram realizadas em comunidades rurais e urbanas com grande contingente populacional negro, explorando temas como as permanências, reconstruções e novas práticas dentro da trajetória histórico-cultural desses grupos. Negros do Espírito Santo se consolida como um verdadeiro dossiê sobre a participação de destaque dessas comunidades na vida social, econômica e cultural dos capixabas, com marcas na economia, no artesanato, na culinária, nas letras, nas artes, na religião e na defesa de direitos sociais.

“A tradição oral, na cultura negra, representa uma forma de preservar a memória e manter acesa a ancestralidade. Nós estivemos presencialmente em todas essas comunidades, conhecemos e convivemos com as pessoas entrevistadas. Foi um trabalho tanto de ordem jornalística quanto antropológica, que permitiu trazer histórias que não estão registradas em livros didáticos do Espírito Santo”, aponta Adriana Bravin.

Negros do Espírito Santo também revive as trajetórias da Mestre Dona Madalena, que exerce o ofício das paneleiras de Vitória; do Mestre Sebastião Daniel Vasconcelos, representante do samba do Morro do Zumbi, em Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado; da Mestra Canuta Caetano, da tradição do Caxambu de Cachoeiro; do Mestre Hermógenes Lima da Fonseca, pesquisador de cultura popular de Conceição da Barra, no norte; do Mestre Antero, do Ticumbi do Bongado da Vila de Itaúnas; e ainda do congo mirim da Serra.

“Talvez o aspecto mais importante deste trabalho, entre tantas outras qualidades, seja justamente o lugar de fala da autora das fotografias, porque ela faz parte das situações e se faz parente das gentes enfocadas, então cada imagem é como se fosse um autorretrato especial, feito com rara sensibilidade e técnica primorosa. O resultado está aí, um retrato do povo negro capixaba e de seu cotidiano de norte a sul do Estado, o primeiro do gênero, pela abrangência e profundidade, enriquecido pelos textos da jornalista Adriana Bravin e da historiadora Leonor Franco de Araujo”, exalta o antropólogo, fotógrafo e pesquisador brasileiro Milton Guran, que assina o prefácio da segunda edição do livro.

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