Os constantes tremores de terras ocorridos no município de Pancas, região noroeste do Espírito Santo, localizado a aproximadamente 140 quilômetros de Vitória, tem despertado interesse e preocupação dos moradores da localidade e de pesquisadores.
O último aconteceu na noite do dia 13 de julho, às 20h14, e registrou magnitude de 1.4 na escala Richter. Foi o terceiro tremor de terra registrado na região, no período de dois meses, pelas estações da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), que são operadas pelo Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a professora do Departamento de Geografia da Ufes Luiza Bricalli, doutora em Geologia, os motivos das ocorrências desses eventos sísmicos no Espírito Santo podem estar relacionados a vários aspectos. Dentre eles, estão a movimentação das placas tectônicas da crosta terrestre; a compressão da placa Sul-Americana onde o Brasil está inserido, devido à própria movimentação das placas tectônicas; a movimentação das falhas transcorrentes da dorsal mesotlântica, que se prolongam para o continente; e a movimentação de falhas geológicas locais.
A pesquisadora destaca ainda que as características geológicas específicas de bacias sedimentares que causam atividades sísmicas, especialmente nas bordas dessas bacias, onde há a presença de falhas geológicas e o peso delas, bem como a espessura da crosta terrestre, também podem ter contribuído para os tremores na região.
Em Pancas, especificamente, segundo Luiza Bricalli, existe uma particularidade geológica importante a ser mencionada, que é a presença da faixa de lineamento Colatina. Essa faixa corresponde à feição estrutural mais importante no estado e é caracterizada por um conjunto de lineamentos, que se inicia a sul de Vitória, passando pela cidade de Colatina e por Pancas, e terminando a noroeste, no limite com o Estado de Minas Gerais.
“Esta feição tectônica teria se originado no período neoproterózico e, durante a idade eopaleozóica, teria sido reativada, sofrendo movimentos de cisalhamento, um fenômeno que provoca deslocamento”, explica a professora.
Além disso, ela ressalta que “é importante mencionar a existências de falhas neotectônicas no estado do Espírito Santo, que podem ser ativas e causarem acúmulo de estresses e liberação na forma de evento sísmico. Muitas orientações dessas falhas guardam forte associação com a estruturação da faixa Colatina”.
Registros
No Espírito Santo, já ocorreram mais de 40 tremores de terra, que foram registrados e catalogados pelo Laboratório de Neotectônica e Sismológico (Lanesi) da Ufes, com detalhamento do dia, local, epicentro e magnitude. Esses terremotos ocorreram entre os anos de 1767 e 2021, sendo que, de julho de 2020 até a presente data, ocorreram sete terremotos. A professora informa ainda que, no dia 14 de julho, um dia após os tremores em Pancas, mais três pequenos eventos sísmicos ocorreram no estado.
As pesquisas realizadas no Lanesi procuram analisar a existência de algum padrão de ocorrência desses terremotos de acordo com o arcabouço estrutural, tipos de rochas e zonas fraturadas, além de relacionar os locais de ocorrência dos terremotos com os locais que apresentam maior densidade de fraturamento da crosta terrestre e os locais com presença de falhas neotectônicas.
“Outros terremotos podem ocorrer no Espírito Santo, mas, geralmente, com magnitudes baixas, pois o território brasileiro encontra-se distante de um limite de placa tectônica. Por esse motivo, esses eventos sísmicos aqui no estado dificilmente irão causar danos à população”, finaliza Luiza Bricalli.
Texto: Jorge Medina
Imagem: Rede Sismográfica Brasileira (RSBR)/Centro de Sismologia da USP
Edição: Thereza Marinho