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Propor uma reflexão sobre o patamar atual da ciência e da pesquisa científica brasileira foi o objetivo da conferência Ciência, Tecnologia e Inovação para o desenvolvimento nacional: onde estamos?, ministrada pela professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Cláudia Linhares, secretária-geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento abriu o ano letivo da pós-graduação da Ufes e foi realizado no Cine Metrópolis, no campus de Goiabeiras, na manhã desta segunda-feira, dia 17.
A conferência contou com a presença do reitor Eustáquio de Castro; da pró-reitora de Planejamento e Desenvolvimento Institucional (Proplan), Cristina Engel; do diretor-geral da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), Rodrigo Varejão; e do presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Vinicius Soares, além de docentes da Ufes e alunos de graduação e pós-graduação.
Na abertura da conferência, o reitor chamou a atenção para a mudança de paradigma na pesquisa acadêmica e na gestão universitária atual, que tem como foco a inovação e alinhamento com as demandas da sociedade brasileira. “Acho que temos que sair um pouquinho da caixa que nós – pesquisadores e gestores – estamos e fazer alguns enfrentamentos que são necessários para a gente poder inovar”, ressaltou.
Inovação e desenvolvimento científico
Aproveitando o tema da inovação, a professora Claudia Linhares iniciou a palestra destacando a importância da cientista brasileira Johanna Döbereiner (1924-2000), responsável por revolucionar a agricultura no Brasil. “Ela descobriu como fixar o nitrogênio e isso possibilitou que a gente revisse todo o processo de produção da soja, mudando a história da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a história do agronegócio no País”, enfatizou.
A partir desse exemplo da história recente de cientistas brasileiros, a secretária-geral da SBPC apresentou uma retrospectiva do desenvolvimento científico no País, recuando até o período anterior à chegada dos portugueses no Brasil. “Já havia ciência aqui quando os portugueses chegaram – os indígenas já faziam astronomia. Os do Maranhão, por exemplo, utilizavam quatro constelações para saber a época de plantio. Então, já se fazia ciência. Ela não foi criada pelo Ocidente. Ela é natural, talvez, da humanidade”, afirmou a professora.
Ao longo da palestra, Linhares traçou um percurso desde a época da colonização até os tempos atuais – o “onde estamos”, questionamento central da aula-magna. A palestrante fez uma reflexão sobre a ligação entre os acontecimentos políticos e econômicos enfrentados pelo País, sobretudo ao longo do século XX e na última década, e chamou a atenção para o fato de que apenas 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) é investido em ciência, segundo relatório publicado em 2022 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
“Estamos aprendendo ainda a trilhar os caminhos. E temos que aprender de acordo com a nossa realidade. Temos que conhecer a nossa realidade e saber o que estamos construindo”, alegou Linhares.
Reunião regional
O evento desta segunda-feira antecipou um pouco do que será discutido na Reunião Regional da SBPC, que acontece entre os dias 19 e 21 de fevereiro na Universidade. A Reunião terá como tema Clima e Oceano: a urgência de construir um futuro sustentável e contará com conferências, mesas-redondas, exposições interativas e atividades educativas, como oficinas do programa SBPC vai à Escola e mostras científicas. Clique aqui para saber mais.
Os interessados em participar do evento podem se inscrever gratuitamente no site oficial da Reunião Regional. Os inscritos que se credenciarem até o dia 19 de fevereiro receberão crachá, certificado de participação e, para os dois mil primeiros, material exclusivo.
A abertura do evento será realizada no Teatro Universitário e prestará uma homenagem ao físico Ennio Candotti, ex-presidente da SBPC e ex-professor da Ufes falecido em dezembro de 2023.
A Reunião Regional marca o retorno da SBPC ao Espírito Santo após 30 anos, fortalecendo o diálogo com a comunidade científica local. O evento também se conecta à Década das Nações Unidas de Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), reforçando a necessidade de ações frente às mudanças climáticas.
Foto: Lucas Pereira