Pesquisa de mestrado sobre comunicação popular como forma de resistência à ditadura dá origem a livro. Lançamento neste sábado, 15

13/03/2025 - 14:36  •  Atualizado 13/03/2025 15:39
Texto: Adriana Damasceno     Edição: Thereza Marinho
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Foto do livro apoiado em uma pilha de livros sobre uma pedra

Um estudo inédito sobre o jornal Ferramenta, que no período de 1977 até meados dos anos 1980 foi um dos principais veículos de comunicação da Arquidiocese de Vitória, produzido como forma de resistência à ditadura militar no estado: esse é o ponto central do livro Jornal Ferramenta - comunicação popular na luta contra a ditadura no Espírito Santo, de autoria da jornalista e escritora Elaine Dal Gobbo, que será lançado neste sábado, dia 15, às 19 horas, no Centro Cultural Triplex Vermelho (em frente à praça Costa Pereira, no centro de Vitória).

O lançamento contará com uma roda de conversa da qual participarão a autora e integrantes antigos e atuais da Pastoral Operária, responsável pela produção do jornal, e que em 2024 completou 50 anos de ação social. Haverá, ainda, apresentação musical da cantora popular Raquel Passos.

O livro teve origem em um estudo sobre a comunicação popular e alternativa que era realizada pela Pastoral no período de 1977 a 1985 e em 2010, que Dal Gobbo desenvolveu no curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades (PósCom/Ufes).

Orientador do trabalho, professor Edgard Rebouças, se diz honrado por ter feito parte da trajetória acadêmica de Dal Gobbo que, segundo ele, está recebendo o merecido reconhecimento. “Esta pesquisa é a síntese daquilo que acreditamos em nosso Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades, que é a pesquisa e a ação em prol de uma transformação social”, diz ele.

Ferramenta

A obra tem quatro capítulos distribuídos por 80 páginas, nas quais apresenta a trajetória do jornal Ferramenta desde 1977 (ano em que surgiu), abordando temas como o golpe militar de 1964; a repressão aos movimentos populares no Espírito Santo; a atuação da Pastoral Operária da Arquidiocese de Vitória nos contextos ditatorial e atual; e o surgimento, os objetivos, o processo de produção e distribuição, os conteúdos e os resultados do Ferramenta. Embora o jornal tenha encerrado suas atividades no início dos anos 2000, o livro aborda a trajetória do veículo até o fim da ditadura militar no Brasil, em 1985.

Segundo a autora, “o Ferramenta era feito pelos trabalhadores para os trabalhadores como instrumento de formação cidadã, mobilização por direitos e contra a ditadura”. Era reproduzido em mimeógrafo, um dos primeiros instrumentos utilizados para fazer cópias de papel escrito em larga escala. Para Dal Gobbo, o processo de digitalização atual propicia que se faça cada vez mais comunicação a serviço da formação cidadã e da mobilização social: “Se queremos manter as conquistas e os direitos frutos de mobilizações feitas por pessoas que vieram antes de nós, temos que seguir os exemplos, adequando à realidade dos nossos tempos”.

Imagem
Foto da jornalista segurando um exemplar do livro

A jornalista conta que conheceu o Ferramenta ainda na graduação em Jornalismo na Ufes, por meio de um livro chamado Impressões Capixabas produzido pelos estudantes do curso no projeto Comunicação Capixaba (CoCa). “Achei bem interessante um jornal feito pelos trabalhadores para os trabalhadores no contexto da ditadura e do apogeu das Cebs [Comunidades Eclesiásticas de Base da Igreja Católica]. Resolvi, então, resgatar a história do Ferramenta, pois ele nunca havia sido estudado e tinha caído no esquecimento, apesar de sua importância. O mestrado me possibilitou um estudo inédito sobre o jornal”, relata.

Ela acredita que o campo da comunicação popular segue sendo pouco explorado pela academia, fato que torna sua obra um importante produto tanto para a Universidade quanto para as pesquisas em Comunicação. “Além disso, o livro resgata uma memória que não pode ser esquecida. Recordar o que foi a ditadura, as violências promovidas por ela e as formas de resistência, é importante para contrapor o discurso de que a ditadura foi algo bom para o país e que até mesmo não existiu”, sentencia ela.

Atualização

A pesquisa desenvolvida por Dal Gobbo ao longo do mestrado teve como título A comunicação da Pastoral Operária da Arquidiocese de Vitória de 1977 a 1985 e nos anos 2010: estratégias, cotejos e apontamentos. Para produzir o livro com base neste estudo, ela precisou ajustar a linguagem (tornando-a o mais simples possível), realizar outras entrevistas que tratassem do contexto ditatorial no Espírito Santo, incluir novas análises e atualizar os dados sobre a pastoral, por ter se passado quase sete anos desde a defesa da dissertação. Dal Gobbo segue como estudante da Ufes, onde atualmente faz uma nova graduação em Letras Português/Italiano.

A obra Jornal Ferramenta - comunicação popular na luta contra a ditadura no Espírito Santo foi produzida com recursos da Secretaria da Cultura do governo estadual, por meio do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura). O livro foi publicado pela editora Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e será vendido por R$ 30 no lançamento.

Fotos: Brunella Negreiros

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