Pesquisas avaliam aspectos da interação em conversas e debates 

12/01/2023 - 19:16  •  Atualizado 17/01/2023 19:41
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Vamos conversar? Você sabia que a interação social, por mais espontânea que pareça, também segue uma lógica? Ao conversarmos, usamos diversos recursos para nos fazer compreensíveis, como a voz e os gestos. Para Roberto Perobelli, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGEL) da Ufes, a conversa tem uma organização e, por mais à vontade que os participantes estejam, há um ritmo na interação entre pessoas.

Estudioso do campo da análise da conversa (AC) há quase 20 anos, Perobelli afirma que a preocupação, ao se pensar nessa área, vai além das ações verbais. “É muito mais que isso; olhamos para a sobreposição de vozes, interrupções, pausas e gestos. Isso tudo é importante para entender o que acontece no diálogo entre duas pessoas”. O professor diz, ainda, que a análise da conversa parte do pressuposto de que falar é fazer algo. “Ao falar, nós implementamos ações sociais. Essas ações sociais vão muito além da fala: é uma caminhada, o gesticular e até mesmo o tom da voz”. 

Conheça outras pesquisas realizadas pela Ufes no site da Revista Universidade.

A trajetória de Perobelli no campo da AC começou em 2004, com estudos sobre diálogos por ligações telefônicas. Diferentemente da conversa multimodal, que leva em conta interações visuais e gestos, a conversa telefônica, por considerar pares que estão afastados, não tem a análise do visual. “Pesquisando a conversa telefônica, os resultados apontaram que a fala [com uso do aparelho] é muito organizada, e que encerrar uma conversa remotamente é muito difícil: em geral, o usuário fica muito tempo tentando desligar o telefone até conseguir”.

O professor afirma que, em certos espaços de conversa, quanto mais explicação se oferece, mais conflito isso gera. A afirmação é resultado de sua tese de doutorado. “Quando estudei o cenário jurídico, pude presenciar algumas interações conflituosas na Vara de Família, por exemplo, [com] um ex-casal brigando na frente da assistente social; e quanto mais as partes tentavam se explicar, mais conflito geravam”. 

Debates eleitorais

Agora, o novo desafio do professor Perobelli e seus dois estudantes de doutorado, Ana Carolina Goulart e Márcio Reis, é um estudo sobre a análise da conversa com foco em debates e entrevistas com os candidatos a presidente na eleição de 2022 no Brasil.

O professor explica que a escolha pelo novo campo de estudo partiu de uma conversa entre ele e seus orientandos. “Eu tenho me dedicado a estudar o campo das emoções na interação, e foi assim que Márcio e Carolina despertaram interesse pelos debates e entrevistas eleitorais. A eleição de 2022 foi muito marcada pelos afetos, o campo emotivo estava muito aflorado em todos os lados; assim, pensamos que pudesse ser uma via interessante”, afirma.

A partir da análise da conversa no campo dos debates eleitorais, os doutorandos pretendem gerar um estudo relevante e que ajude os diversos agentes envolvidos no processo eleitoral. “No caso do debate, nosso estudo pode atingir vários agentes. Na prática, podemos gerar um estudo que ajude os entrevistados e entrevistadores a serem mais desenvoltos, bem como os âncoras e os participantes de um debate eleitoral”, diz Perobelli. 

Márcio Reis afirma que os resultados preliminares apontam para uma transformação nos modelos dos debates eleitorais. “O debate tem buscado recursos da conversa cotidiana para chegar aos telespectadores, porque a conversa não é entre os dois debatedores, eles têm que manter um diálogo com o eleitor/telespectador. A conversa, no debate eleitoral, é, muitas vezes, feita olhando para a câmera e não para o adversário. Isso é inicial, mas vem chamando a nossa atenção a maneira como o debate e as entrevistas têm se apoderado dos elementos da conversa cotidiana”.

Os pesquisadores explicam que a decisão do escopo do estudo foi individual. “Eu me interessei mais pelas entrevistas, me sentia mais à vontade assistindo a uma entrevista do candidato do que ao debate; aquela tensão gerada pelo debate me deixava mal, não era proveitoso”, afirma Ana Carolina Goulart. Já Reis preferiu os debates. “Eu ficava mais ligado nos debates, gostava de observar mais os gestos e como os candidatos se portavam”, afirma. Em meio a tantas entrevistas e diversos debates eleitorais, ambos delimitaram um recorte temporal para as pesquisas: a data é a partir do dia 16 de agosto, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizou o início das campanhas eleitorais.

 


Texto: Vitor Guerra (bolsista em projeto de Comunicação)
Imagem: Freepik
Edição: Sueli de Freitas