A colação de grau da turma de Serviço Social, realizada no dia 11 de novembro deste ano, teve um significado de conquista e gratidão para a estudante Angela Providencia David Cueva. Pouco antes de completar 63 anos, a venezuelana, que veio para Vitória em 2018 após a morte do filho, entrou na Ufes em 2020 por meio da reserva de vagas para refugiados.
“Eu sinto muita gratidão pelo Brasil, porque o país é muito solidário. Também sou muito agradecida à Ufes, que tem me dado apoio desde que eu ingressei através do programa de ações afirmativas, nas cotas para refugiados”, afirma ela.
A vida de Angela não tem sido fácil desde que deixou a família na Venezuela em busca de explicações para a morte do filho, que tinha 29 anos quando foi assassinado no Bairro República, na capital capixaba.
“Eu deixei tudo no meu país e vim para cá. Naquele momento, a situação também estava complicada no meu país. Então, decidi vir e procurar o corpo do meu filho único. Ele era formado, tinha estudado Publicidade no meu país, falava vários idiomas e veio para o Brasil para trabalhar. Me mandava dinheiro, e iria para a Nova Zelândia quando aconteceu de ser roubado e assassinado”, lamenta ela.
Angústia
A investigação do assassinato ainda não foi concluída, o que traz angústia a Angela. “Há seis anos, eu vou lá perguntar e respondem que estão investigando”.
Em Vitória, ela contou com a ajuda da Defensoria Pública da União, da Defensoria Pública Estadual, do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e da Cátedra Sérgio Vieira de Melo, uma parceria da Ufes com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), além de amigos do filho e igreja.
“Na Ufes, durante o curso, fui bolsista da Cátedra e de projetos de pesquisa, participei de jornadas de iniciação científica. Também fiz a publicação de um artigo. Aproveitei todas as oportunidades na Universidade. Aqui, quem não estuda é porque não quer”, diz ela.
Os planos para o futuro? “Eu penso em continuar no Brasil, porque aqui tem muitas oportunidades profissionais. Só que tem que estudar, se preparar”, aconselha.
Reserva de vagas
A reserva de vagas para refugiados foi implementada na Ufes em 2010, por meio da Resolução nº 66 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). A resolução garante vagas nos cursos de graduação da Universidade para solicitantes de refúgio, refugiados, portadores de visto humanitário e migrantes vindos de locais onde a ONU considera haver grave violação de direitos humanos.
Até 2022, a solicitação de vaga era feita por meio de protocolo na Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), mediante apresentação de requerimento e cédula de identidade expedida pela Polícia Federal e comprovação de escolaridade mínima. A partir de 2022, a Ufes passou a publicar edital do processo seletivo.
O edital da seleção para ingresso em 2025 foi publicado nesta segunda-feira, 2.
Foto: Sueli de Freitas