Ser gestante na adolescência (19 anos ou menos) é um fator de risco para o maior consumo de alimentos ultraprocessados. É o que mostra um estudo com puérperas da Grande Vitória realizado por pesquisadores dos programas de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde e de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Ufes. Outro fator que influencia no aumento do consumo de ultraprocessados é o tabagismo. Os dados da pesquisa também indicam que, quando a gestante tem idade superior a 35 anos, é chefe de família e recebeu informações sobre alimentação saudável no pré-natal, os hábitos alimentares são melhores.
A pesquisa, que resultou em um artigo publicado em 2020 na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, ouviu 1.035 mulheres que haviam acabado de dar à luz na rede pública entre abril e setembro de 2010. A amostra foi constituída por gestantes residentes em municípios da região metropolitana da Grande Vitória internadas em oito unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) devido ao parto. O objetivo foi levantar os fatores sociodemográficos que influenciam o consumo de alimentos ultraprocessados e minimamente processados por gestantes. Os dados da pesquisa fazem parte de um estudo maior intitulado Avaliação da Qualidade da Assistência Pré-Natal na Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV-ES): Acesso e Integração de Serviços de Saúde.
Das quatro classificações existentes para alimentos segundo sua procedência - in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados -, duas foram utilizadas no estudo: minimamente processados e ultraprocessados.
“Nós observamos que gestantes adolescentes têm hábitos alimentares mais prejudiciais, com maior consumo de alimentos ultraprocessados. Já gestantes com mais de 35 anos tinham hábitos alimentares melhores. E as gestantes que receberam orientações sobre alimentação saudável durante seu acompanhamento pré-natal consumiram menos alimentos ultraprocessados”, resume a professora do Departamento de Nutrição Luciane Salaroli, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Epidemiologia, Saúde e Nutrição (GEMNUT) da Ufes.
Remuneração
Outro dado importante diz respeito à atividade remunerada. Aquelas mulheres que tinham trabalho remunerado e as chefes de família se alimentavam melhor, comendo menos ultraprocessados do que as que não tinham trabalho remunerado. A situação de maior vulnerabilidade econômica e alimentar das mulheres negras também foi evidenciada na pesquisa, prevalecendo hábitos de consumo de alimentos ultraprocessados.
Apesar de não ter sido objeto desse estudo, Luciane Salaroli afirma que a ingestão de ultraprocessados, já é sabido, traz consequências negativas para a saúde: “Outros estudos mostram pior qualidade da dieta e impactos negativos na saúde das pessoas, como, por exemplo, obesidade, síndrome metabólica, alguns tipos de câncer, síndrome do intestino irritável, entre outros”.
“Os presentes resultados apontam para a necessidade de implementação de medidas de intervenção nos estabelecimentos de saúde com o objetivo de fornecer informações educativas e promover alimentação saudável para as mães”, afirmam os pesquisadores.
Texto: Sueli de Freitas
Imagem: Freepik
Edição: Thereza Marinho