Pesquisas apontam que o uso de drogas, aliado ao estilo de vida, pode comprometer a ingestão alimentar e, consequentemente, o estado nutricional, refletindo no peso e no metabolismo dos usuários. Essa constatação fez com que professores do Departamento de Farmácia e Nutrição (DFN) dessem início, em 2013, ao projeto de extensão Promoção da saúde de mulheres dependentes químicas institucionalizadas. Com ações que visam realizar estratégias de promoção de saúde em mulheres dependentes químicas, o projeto foi contemplado com o primeiro lugar dentre as ações de extensão do campus de Alegre na edição 2020 do Prêmio de Mérito Extensionista Maria Filina, evento organizado anualmente pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex).
Promoção da saúde de mulheres dependentes químicas institucionalizadas é mais uma reportagem que compõe a série sobre programas e projetos de extensão, publicada todas as quintas-feiras no portal da Ufes (veja abaixo todas as matérias).
As atividades do projeto são realizadas na Fazenda da Esperança São Francisco de Assis, localizada no município de Alegre, sul capixaba. Comunidade terapêutica filantrópica, o espaço tem como objetivo a recuperação de mulheres toxicodependentes e alcoolistas por meio de ideologias como convivência em família, trabalho como processo pedagógico e espiritualidade para encontrar um sentido de vida. São atendidas, em média, 60 pessoas por ano, com idade mínima de 18 anos, sendo a maioria usuária de crack. A equipe do projeto de extensão verificou que a idade de início do uso de drogas varia entre os oito e os 46 anos de idade.
Coordenadora do projeto desde 2015, a professora do DFN Fabiana Oliveira destaca que as mulheres que chegam à Fazenda trazem consigo um histórico de maus hábitos alimentares e de estilo de vida, bem como baixa autoestima e falta de incentivo. Ela lembra que, quando as internas iniciam o processo de reabilitação, é comum ocorrerem alterações no padrão alimentar devido à abstinência, ocasionando um aumento da vontade de comer alimentos ricos em carboidratos, como doces, que contribuem para a síntese e liberação de serotonina, aliviando potencialmente a sua deficiência pela interrupção do uso de drogas. “É inevitável o ganho de peso e de gordura corporal nesse período”, analisa.
Atuações
As atividades do projeto envolvem avaliação do estado nutricional e de saúde das mulheres dependentes químicas; orientações nutricionais específicas para adequação do estado nutricional; avaliação da saúde, do crescimento e do desenvolvimento dos filhos das mulheres internadas, que residem na Fazenda; promoção do aleitamento materno entre as lactantes; adequação do cardápio da instituição; demonstração de práticas culinárias e higiênico-sanitárias por meio de oficinas coletivas; realização de rodas de conversas para formar conceitos relacionados à nutrição; construção e cultivo de horta orgânica; promoção da segurança alimentar e nutricional; e ensinamentos sobre o direito humano à alimentação adequada.
Fabiana Oliveira explica que as ações do projeto buscam atuar não apenas sob o ponto de vista nutricional, mas também educativo e humanizado, promovendo às internas atenção integral e aumento da autoestima por meio de atividades individualizadas e coletivas. “A atenção nutricional, com olhar voltado para gerar qualidade de vida no seu aspecto mais amplo, torna-se um dos fatores a compor o quadro da promoção da saúde integral junto a estas mulheres, para que alcancem um melhor prognóstico de recuperação”, avalia.
Visitas
As intervenções ocorrem de forma presencial, a cada 15 dias, e não presencial, semanalmente. “Nos encontros presenciais, os estudantes avaliam o estado nutricional das internas e realizam atividades educativas. As ações remotas consistem na elaboração de materiais educativos a serem implementados”, diz Fabiana Oliveira. As atuações da equipe na Fazenda seguem acontecendo durante a pandemia, dando prioridade às atividades virtuais. Algumas visitas ao espaço continuam acontecendo e, nesses casos, são tomados todos os cuidados, visando à prevenção do contágio pelo novo coronavírus.
As avaliações individuais do estado nutricional consistem na avaliação antropométrica, clínica, bioquímica e dietética. A partir do diagnóstico detectado, são traçadas estratégias de educação alimentar e nutricional para aquele grupo. “Como o público-alvo é altamente rotativo, pois cada interna fica um tempo variável na Fazenda, na medida em que o público vai mudando, as atividades são revisadas e atualizadas”, lembra a coordenadora.
Fabiana Oliveira destaca que a equipe do projeto de extensão também busca analisar o ambiente no qual as mulheres vivem e a forma como interagem com ele, dando especial atenção às condições higiênico-sanitárias da cozinha e da dispensa de alimentos, à área externa disponível para execução da horta e prática de atividades físicas, à disponibilidade de alimentos na instituição e à forma de aquisição e preparo. “São realizadas continuamente ações educativas em boas práticas na manipulação de alimentos, que envolvem condições de higiene do ambiente, dos alimentos e dos manipuladores. Incentivamos também a prática de atividade física e a sustentabilidade alimentar e ambiental”, ressalta.
Protocolo
Entre 2019 e 2020, os extensionistas diagnosticaram alta incidência de sobrepeso ou obesidade, além de circunferência abdominal elevada nas mulheres da Fazenda. Diante disso, foi desenvolvido um protocolo de intervenção nutricional que envolve atividades educativas em grupo, como caminhada guiada, oficina de culinária, rodas de conversa, entrega de folders, dinâmicas sobre alimentação saudável e rotulagem nutricional, piquenique saudável e padronização do uso de sal, açúcar e óleo na instituição.
O protocolo foi aplicado semanalmente, entre os meses de agosto e outubro de 2020. Os resultados das ações podem ser avaliados por meio das diferenças observadas entre os valores de medidas antropométricas e pressóricas, indicadores do estado de saúde e de avaliação clínica. Segundo a coordenadora, houve significativa redução da média de peso, do Índice de Massa Corporal (IMC), da circunferência abdominal e da relação cintura-quadril das internas, além de um elevado aumento na ingestão de água.
A coordenadora avalia que a atenção nutricional dedicadas às internas resultou em aumento da motivação, da autoestima, do autocuidado e abriu espaço para o diálogo entre elas e os extensionistas da Ufes: “Uma das propostas geradas a partir deste trabalho foi que o protocolo de intervenção nutricional fosse aplicado sistemática e periodicamente, a fim de que as mudanças sejam duradouras e englobem as novas internas”.
Informações sobre os atendimentos realizados pela Fazenda da Esperança São Francisco de Assis podem ser obtidas pelo telefone (28) 99985-9020.
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Texto: Adriana Damasceno
Imagens: Divulgação do projeto
Edição: Thereza Marinho