Pesquisa propõe solução a partir de edição genética para a doença da meleira. Mal afeta a produção de mamão

12/09/2024 - 17:22  •  Atualizado 12/09/2024 17:38
Texto: Ghenis Carlos Silva (bolsista)     Edição: Thereza Marinho
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Foto de duas mãos com luvas cirúrgicas segurando um mamão "melado" pela doença

O mamão capixaba é referência nacional. Em 2022 a produção contabilizou 426 mil toneladas do fruto, safra que gerou um faturamento de 1,2 bilhões, segundo a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca do Espírito Santo (Seag). Contudo, a ocorrência da doença da meleira do mamão se apresenta como um desafio para os produtores. Nesse cenário, os pesquisadores do Laboratório de Biotecnologia Aplicada ao Agronegócio (LBAA) buscam atribuir maior resistência viral às plantas a partir de edições genéticas com a tecnologia Crispr-Cas9.

A doença da meleira do mamão tem esse nome devido a uma infecção viral que expele o látex da planta de forma fluida e aquosa, deixando a fruta melada. Os primeiros casos relatados da doença foram no Brasil durante os anos 1980. Posteriormente, a doença foi registrada em outros países que cultivam o mamão. Os sintomas iniciais da doença se manifestam apenas quando a planta começa a florescer, apresentando folhas com aspecto queimado nas pontas e manchas rajadas. O sintoma típico, a meleira, surge com os frutos.

“A princípio, não sabíamos o que causava essa doença e então descobriu-se que era provocada por um vírus. A meleira tem alta gravidade, podendo levar à perda de 40% a 100% do pomar”, explica a professora do Departamento de Ciências Fisiológicas da Ufes Patrícia Fernandes, que integra o LBAA.

Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural do Espírito Santo (Incaper/ES), a meleira do mamão é um dos principais problemas fitossanitários da cultura no estado. Fernandes pondera que no ES, nas áreas onde é feito o roguing (corte das plantas contaminadas), a incidência é de 30 a 40%. “Mas onde não é feito o corte é muito maior, chegando a 100% da área plantada”, afirma a docente.

A legislação específica do Ministério da Agricultura prevê a interdição de propriedades onde não for realizada a erradicação das plantas com sintomas de meleira. O Instituto de Defesa Agropecuária e do Espírito Santo (Idaf) aponta que, em 2023, foram realizadas inspeções fitossanitárias em 427 propriedades, totalizando 629 lavouras e 6.756,37 hectares.

Foto de uma área onde foi feito o corte de uma áreas onde foi feito o corte de plantas contaminadas

Biotecnologia

A técnica utilizada pelos pesquisadores para lidar com a doença da meleira do mamão se apoia na biotecnologia. Essa é uma área de conhecimento que estuda a diversidade genética, o que a torna eficiente para desenvolver métodos, diagnósticos e estratégias de controle eficazes em casos virais. A ausência de estudos sobre a meleira estimulou os pesquisadores a sequenciar geneticamente o vírus para obter um diagnóstico molecular.

“Conseguimos um diagnóstico molecular e descobrimos que na verdade não era um vírus, mas dois. Um vírus era maior e o outro menor, chamamos de vírus 1 e vírus 2. Descobrimos, ainda, que o vírus maior possui aquela capa proteica, o capsídeo. O vírus menor não tem a capa e utiliza a capa do vírus maior. Também descobrimos que o vírus 1 não é capaz de provocar a doença sozinho, ele precisa do vírus 2 para gerar a meleira do mamão”, detalha a professora.

Saiba mais detalhes sobre a pesquisa no site da Revista Universidade. 

O estudo é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que recentemente concedeu apoio para estabelecer um sistema de cooperação internacional. O LAAB conta ainda com os apoios da Fundação de Apoio à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Além disso, os pesquisadores firmaram parcerias com instituições mexicanas há mais de 15 anos para lidar com a meleira do mamão, promovendo intercâmbios e contribuições científicas.

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