Debate sobre gestão cultural nas universidades encerra a Semana do Conhecimento 2020

27/11/2020 - 19:25  •  Atualizado 01/11/2022 09:25
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O papel das universidades na gestão cultural foi o tema abordado na última mesa do Painel Ufes de Cultura, na tarde desta sexta-feira, 27. Contando com as participações do reitor Paulo Vargas, do ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, do secretário de Cultura da Ufes, Rogério Borges, e do secretário de Cultura do Espírito Santo, Fabrício Noronha (foto), o evento marcou também o encerramento da edição 2020 da Semana do Conhecimento, que apresentou ao público os cursos de graduação e de pós-graduação oferecidos pelos quatro campi da Ufes, além dos projetos de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos por estudantes e pesquisadores da Universidade.

Ao introduzir a conversa, Borges falou sobre as universidades como símbolos de resistência democrática e cultural no Brasil. Segundo ele, a Ufes se consolidou, no Espírito Santo, como vetor fundamental, impulsionando as artes e a cultura no contexto regional. “Nossa Universidade é referência para todos os capixabas e cumpre seu papel de protagonista cultural, abrindo suas portas para as produções locais. A Ufes atua como importante indutora cultural e artística”, ressaltou.  

O secretário citou o projeto de retomada do Circuito Multicultural, que visa promover ações de arte e cultura nas unidades acadêmicas localizadas nos municípios de Alegre e de São Mateus com eventos de música, folclore e outras manifestações de cultura popular, além de promover iniciativas de coletivos: “Vamos manter sempre essa linha de diálogo horizontal com toda a produção capixaba e nacional. Entendo que, assim, com a política pública bem planejada, vamos manter a Ufes elevada na sua produção, compartilhando diferentes projetos com a sociedade”.

Expansão

Dando sequência às discussões, o secretário de Cultura do Espírito Santo, Fabrício Noronha, lembrou do trabalho desempenhado pelo ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, quando esteve à frente da pasta. “Houve uma expansão do conceito de cultura dentro da discussão da política, uma cultura que perpassa toda a nossa vida, que nos constitui de uma maneira ampla, transversal, dentro do debate da transformação desse país tão imenso e diverso”, disse ele.

Noronha, que é egresso do curso de Artes Plásticas da Ufes, mostrou-se animado com o projeto de continuidade do Painel Ufes de Cultura, que passará a ser mensal a partir de fevereiro de 2021: “É muito importante para a cena cultural do estado ter uma universidade ativa e envolvida com o debate contínuo, com a troca, com a discussão. Coloco a secretaria de Cultura e o Governo do Estado à disposição para intensificarmos a parceria”.

Resistência

Para o reitor Paulo Vargas, o Painel Ufes de Cultura trouxe questões pertinentes para as discussões sobre o cenário cultural do estado e do Brasil, especialmente em tempos de enfrentamento à pandemia da COVID-19. Segundo o reitor, a extinção do Ministério da Cultura e sua transformação em secretaria do Ministério do Turismo diminuiu o papel da política cultural do Brasil: “Trata-se de um lamentável e ostensivo escárnio desses setores, com o propósito de anunciar para a sociedade que a cultura estava alijada da agenda nacional por razões eminentemente ideológicas e políticas”.

Contudo, Vargas ressaltou que a Ufes seguiu resistente ao que ele considerou um “retrocesso político-cultural”, destacando a importância dada à cultura na Universidade, que instituiu uma secretaria para a área em 1992 “como forma de fazer com que a gestão da produção e da difusão cultural pudesse se desenvolver e se consolidar de uma maneira institucional, organizada, mantida e impulsionada pela instituição de ensino, pesquisa e extensão que é a Ufes”.

“A cultura traz um imenso potencial de ser um ponto de contato da universidade pública com a população. Estas devem ser premissas da universidade pública para que sua gestão provoque, estimule, manifeste e reafirme a posição transformadora dessa instituição no desenvolvimento cultural”, finalizou o reitor.

Gestão cultural

O convidado do Painel, Juca Ferreira, que atuou como ministro da Cultura de 2008 a 2010 e entre 2015 e 2016, abriu sua fala afirmando ser positivo o fato de as universidades se aproximarem das questões culturais do país. “As universidades brasileiras, principalmente as públicas, são fundamentais para complementar o esforço de construção de políticas públicas de cultura e de amadurecer uma estrutura de gestão cultural no Brasil”, afirmou ele, que disse ter ligações afetivas com o estado, por ter morado, ainda na infância, na região de Linhares, no norte do Espírito Santo.

Ferreira lembrou que, quando assumiu o secretariado executivo do Ministério, em 2003, a pasta existia há 17 anos, tendo sido a primeira criação do Brasil democrático, após a ditadura militar: “É simbólico isso de que, no início da redemocratização, o Ministério tenha tido esse destaque e, depois, quando há uma ruptura com o processo democrático, há uma primeira tentativa de extinguir o Ministério, no governo Temer, concretizando-se no governo Bolsonaro”.

Ao citar o valor do Produto Interno Bruto (PIB) destinado à cultura (6%), o ex-ministro considerou que, embora significativo, é possível que a atual porcentagem seja aumentada. “Para isso, é preciso investir, criar berçários de projetos de economia de cultura. Aí é que entra a relevância das universidades. Quando logramos conquistar relações produtivas de cooperação com as universidades, o Ministério da Cultura avançou numa consistência muito maior”, afirmou.

Para Ferreira, as universidades são estratégicas como produtoras de conhecimento e formuladoras de solução, e a tarefa é construir nos ambientes universitários a consciência de contribuir com o desenvolvimento cultural brasileiro. “As universidades têm um papel central porque são construtoras de conhecimento, de pesquisa, produtoras de informação, de aprimoramento conceitual. É preciso ampliar a formação não só no sentido de garantir novos quadros, mais capacitados do que nós fomos, mas também no sentido de criar um ambiente de produção de conhecimento sobre os processos culturais e formulação de soluções”, concluiu.

O Painel Ufes de Cultura terá continuidade a partir de fevereiro, com um debate sobre a produção cultural de São Mateus, abordando o Sítio Histórico do Porto de São Mateus e a cultura tradicional do norte do estado.

 

Texto: Adriana Damasceno
Edição: Thereza Marinho