Vitrine do cinema nacional contemporâneo, o Festival de Cinema Itinerante ocupa a Ufes nesta quarta e quinta-feira, dias 24 e 25, com exibição de longa e curtas-metragens, show e sorteio de brindes. As sessões e a apresentação musical acontecem no estacionamento em frente ao Cine Metrópolis, no campus de Goiabeiras, a partir das 19 horas. O evento é aberto ao público.
Na quarta, o festival exibe o longa-metragem A Felicidade das Coisas, de Thais Fujinaga. Inspirado nas memórias da diretora, o filme se passa no litoral norte de São Paulo, onde uma mulher de 40 anos, grávida do terceiro filho, compra uma modesta casa de praia para passar o verão com a família. Ela tenta finalizar a construção de uma piscina, mas o dinheiro acaba, revelando outras crises além da financeira.
Maternidades
O segundo dia do festival, quinta-feira, exibe uma seleção de três curtas-metragens: O Fundo dos Nossos Corações (foto), de Letícia Leão; Mãe Solo, de Camila de Moraes; e Neguinho, de Marçal Vianna.
O filme de Leão parte do olhar de uma criança para refletir sobre a maternidade lésbica. Na trama, após uma aula de ciências, uma menina de 7 anos passa a questionar suas duas mães a respeito do nascimento de bebês, tentando entender sua própria história.
"Muitos filmes com temática lésbica não abordam os cotidianos das mulheres lésbicas. Nossa vida não é simplesmente se apaixonar, ficar doente e morrer", afirma a diretora de O Fundo dos Nossos Corações. "O poder das narrativas está exatamente em romper estereótipos."
A escolha pelo ângulo narrativo da criança, segundo Leão, reforça essa tentativa de criar novas perspectivas sobre o tema. "O olhar das crianças não tem tabu. Elas têm um pensamento lógico e uma inteligência absurda, mas não têm a vivência para entender certos contextos. Isso é um recurso muito bom para trabalhar questões que não são palatáveis para a sociedade", explica a diretora.
Depois de O Fundo dos Nossos Corações, o público assiste ao único documentário da seleção, Mãe Solo. A obra acompanha as histórias de mulheres pretas e periféricas de Salvador (BA), que têm em comum a maternidade solo. Dos relatos de duas mães, emergem reflexões, por exemplo, sobre a responsabilidade da criação dos filhos e da falta de políticas públicas para essas mulheres.
Racismo
Ficção baseada em fatos, Neguinho (foto) fecha a sessão de curtas-metragens. O filme de Marçal Vianna conta a história de Jéssica, mãe de Zeca - um menino da periferia que ganhou bolsa em uma escola particular -, chamada para uma reunião com a professora do filho. No encontro, a educadora recomenda que Zeca corte seu cabelo black para se adequar aos padrões da escola.
Segundo Vianna, duas situações deram origem ao processo de criação do filme: um caso de racismo ocorrido na faculdade onde estudava e uma notícia de jornal, retratando um fato similar à trama do filme. "Como criador, tento pegar temas que me despertam, casos que a gente como sociedade deve debater e refletir. Não é um filme conclusivo, que te dá uma resposta. Ele põe uma pulga atrás da orelha", conta.
Para o diretor, a exibição de Neguinho na Ufes, aberta ao público, já é motivo de alegria: "Meu terror é que o filme fique preso numa gaveta. Cinema é para ser visto e debatido. É muito simbólico que seja exibido numa universidade pública, sendo que ele também nasceu numa faculdade".
Show
Após a sessão de curtas-metragens, Tunico da Vila apresenta o show Samba de Caboclo, uma homenagem aos povos tradicionais de matriz africana. No repertório, o sambista vai dos afro-sambas ao congo capixaba.
Dos dias 26 a 30 de agosto, o Festival de Cinema Itinerante segue no Espírito Santo. As próximas paradas são em Manguinhos, na Serra (26 e 27), e no bairro Flexal II, em Cariacica (29 e 30). Com apoio da Ufes, o evento é realizado pela Galpão Produções e pelo Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).
Texto: Superintendência de Comunicação da Ufes
Imagens: Divulgação