Pesquisa paleontológica indica estresse climático ocorrido no Nordeste há 100 milhões de anos

29/03/2021 - 18:33  •  Atualizado 31/03/2021 10:38
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Um artigo publicado na sexta-feira, 26 de março, na revista Scientific Reports (do grupo Nature), indica um evento de estresse climático no Nordeste brasileiro há mais de 100 milhões de anos, que levou à morte em massa de larvas de um inseto aquático. Pesquisadores da Ufes, da Universidade Regional do Cariri (Urca) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) localizaram grande concentração desses insetos, de larvas e de peixes em tamanho menor do que o usual.

Os fósseis foram encontrados na Formação Crato, na região da Chapada do Araripe, sul do Estado do Ceará, onde há vários materiais geológicos correspondentes ao período do Cretáceo Inferior, de 113 a 125 milhões de anos atrás. Naquele período, os continentes africano e sul-americano estavam começando a se separar, formando um oceano estreito e raso entre eles. À beira desse oceano, havia um ambiente composto por lagoas com vida animal e vegetal diversificada.

Essa foi a primeira análise tafonômica (que investiga a evolução de fósseis, desde a morte dos indivíduos até a sua final incorporação e transformações dentro da rocha) feita nesse sítio arqueológico, estudo que conta a história dos eventos ocorridos antes de os organismos se tornarem fósseis, e que durou mais de um ano. Segundo a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal (PPGBAN) da Ufes Arianny Storari, as larvas de insetos pertencem ao grupo Ephemoptera, conhecidos como efêmeras. “Essa localidade é muito rica em fósseis e, portanto, pequenos acúmulos de mais de três insetos próximos na mesma camada de rochas são comuns nesta unidade, mas acumulações de 40 insetos, como as apresentadas nesse estudo inédito, são muito raras no registro fóssil”, detalha a pesquisadora, que descreveu, em seu mestrado, um fóssil de uma nova espécie de efêmera.

Conheça essa e outras pesquisas desenvolvidas pela Ufes no site da Revista Universidade: https://blog.ufes.br/revistauniversidade/

Hipótese

Segundo a paleontóloga e professora Taíssa Rodrigues, do Departamento de Ciências Biológicas da Ufes, a concentração de seres encontrada fortalece a hipótese de que eles poderiam estar vivendo em uma coluna de água rasa, profundidade mais propícia àquela que indivíduos mais jovens poderiam suportar. “Com base nos padrões anatômicos e de preservação das larvas das efêmeras da família Hexagenitidae e dos peixes do gênero Dastilbe, foi possível compreender mais ainda o ambiente pretérito da Formação Crato”, afirma.

Segundo o artigo, todos os organismos aquáticos (larvas e peixes) na camada de mortalidade estudada exibiram excelente preservação e não apresentaram nenhum tipo de orientação no sedimento, o que sugere que morreram no mesmo local em que viveram.

Além dos fósseis, foram encontrados no local cristais de halita, um mineral que se forma pela precipitação de sal, o que indica que essas larvas podem ter morrido por um aumento da salinidade, decorrente da diminuição do volume de água motivado por algum evento climático.

 

Texto: Lidia Neves
Imagem: Divulgação - Larva de efêmera do grupo Hexagenitidae, proveniente da escavação na Formação Crato

Edição: Thereza Marinho