No Espírito Santo, a população que experimentou álcool antes dos 15 anos de idade passou de 13 para 22% em seis anos e 3,4% dos adolescentes manifestam o uso de drogas ilícitas em algum momento da vida. Além disso, a gestação em idade precoce e a exposição a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a sífilis, são associadas à diminuição da qualidade de vida e das perspectivas de futuro de jovens capixabas. Esses e outros dados foram decisivos para a criação, em 2019, do projeto de extensão Orientação sobre o uso de fármacos no Museu de Ciências da Vida (MCV): promoção de saúde através da educação.
Finalista da edição 2020 do Prêmio de Mérito Extensionista Maria Filina, o projeto faz parte da série de reportagens sobre as ações extensionistas desenvolvidas pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex), publicadas no portal da Ufes todas as quintas-feiras.
A professora do Departamento de Ciências Fisiológicas e coordenadora do projeto, Ana Paula Bittencourt, analisa que os dados indicam condições passíveis de intervenção por meio da educação no uso de fármacos. “Este contexto regional urge uma atuação incisiva no sentido de promover orientação para a melhoria da qualidade de vida e das condições de futuro da população jovem. Urge, também, a adoção de novas oportunidades para que profissionais e estudantes assumam um papel protagonista frente à promoção de saúde na comunidade”, ressalta.
Dessa forma, o projeto tem como objetivo orientar o público visitante do MCV (localizado no campus de Goiabeiras), especialmente estudantes do ensino básico e superior, público ou privado, quanto ao uso racional de fármacos e as consequências de seu uso inadequado; métodos contraceptivos; a importância da prevenção de infecções durante o pré-natal para evitar a transmissão congênita de doenças; e as consequências e os riscos do uso de drogas, como álcool, maconha, cocaína e heroína. A ideia é apresentar ao público jovem aspectos relevantes da saúde pública, tendo como base os dados epidemiológicos emergenciais para a comunidade local.
Acesso
O programa busca viabilizar o acesso da comunidade em geral ao conhecimento relacionado à origem do homem e à função do corpo humano. “Contamos com uma estrutura que alia dois componentes favoráveis à educação em saúde: amplo acervo de peças de embriologia, anatomia, histologia e patologia, que permitem ilustração real de condições normais e patológicas, e fluxo constante de visitantes ao Museu”, explica a coordenadora.
Além dos professores Ana Paula Bittencourt e Athelson Bittencourt (coordenador do MCV), participam do projeto uma bolsista de extensão e extensionistas voluntários, todos estudantes de cursos de graduação da Ufes e de outras instituições de nível superior, que atuam como facilitadores da transmissão de conhecimentos aos grupos de interesse. De acordo com Ana Paula Bittencourt, a equipe foi capacitada em tópicos como controle de natalidade e ação de fármacos contraceptivos, prevenção de transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (e o respectivo tratamento, quando adquiridas) e efeitos do uso e do abuso de substâncias psicotrópicas, especialmente durante a gestação.
Alcance
Ao longo do primeiro ano de atividades, o projeto alcançou 1.590 visitantes, sendo 70,8% de estudantes do ensino fundamental, 20,8% do ensino médio, 4,2% do ensino superior e outros 4,2% de cursos técnicos. Ao realizar os agendamentos, os responsáveis pelos grupos escolhiam o tema a ser abordado durante a visitação, tendo em vista o tópico que mais atendia às necessidades dos alunos. Dados do projeto mostram que mais da metade dos agendamentos foram voltados para os conteúdos de drogas de abuso (53,1%), seguidos de tratamento das ISTs (30,6%) e métodos contraceptivos (14,3%). Dois por cento dos visitantes se interessaram por ter aulas sobre todos os assuntos.
Com o isolamento social e a suspensão das atividades presenciais nos campi da Ufes impostos pela pandemia da covid-19, em março de 2020 o MCV foi fechado e, como consequência, o projeto foi interrompido. “Atualmente, a equipe está envolvida numa revisão e atualização do material apresentado, bem como em um levantamento bibliográfico sobre a farmacologia envolvida no tratamento da covid para divulgação nas mídias”, diz Ana Paula Bittencout.
Transformação social
Para a coordenadora, ações como esta são fundamentais tanto por contribuírem para a formação universitária, permitindo a iniciação à atividade docente e a ampliação do olhar humanitário e acolhedor sobre as demandas da sociedade, quanto por dar atenção à comunidade externa, promovendo orientações que poderão ser ferramentas para a promoção da saúde e a prevenção de doenças. “Ainda que soe como ideal utópico, acreditamos que a educação em todas as áreas, incluindo educação em saúde, tenha um papel transformador social e que as orientações prestadas no contexto deste projeto podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos atendidos”, conclui.
Mais informações sobre o projeto Orientações sobre o uso de fármacos no Museu de Ciências da Vida (MCV): promoção de saúde através da educação podem ser obtidas pelo Facebook e pelo Instagram do MCV.
Texto: Adriana Damasceno
Foto: Divulgação
Edição: Thereza Marinho