Dados do Boletim Epidemiológico HIV/Aids, divulgado pelo Ministério da Saúde em dezembro de 2020 mostram que, entre 1980 e junho de 2020, o Brasil detectou 1.011.617 casos de aids. O boletim informa ainda que, anualmente, o país tem registrado uma média de 39 mil novos casos da doença nos últimos cinco anos, com concentração na região Sudeste (51%). Considerando o grande contingente da população sexualmente ativa que é atingida por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), a professora do Departamento de Ciências da Saúde do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (DCS/Ceunes-Ufes) Heletícia Galavote desenvolveu o projeto de extensão Produção do Cuidado no Aconselhamento DST/AIDS em São Mateus, que propõe estratégias e diretrizes para melhorar as condições de atendimento do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) do município.
Parceria entre o curso de graduação em Enfermagem do Ceunes, a Secretaria Municipal de Saúde e o CTA do Programa Municipal de DST/Aids de São Mateus, o projeto iniciou suas atividades em 2015. Em 2020, foi um dos vencedores do Prêmio de Mérito Extensionista Maria Filina e integra a série de reportagens sobre os programas e projetos gerenciados pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex), publicada às quintas-feiras no portal da Ufes (veja abaixo a lista das matérias já publicadas).
Coordenadora do projeto, Heletícia Galavote explica que, na prática do cuidado em saúde, o aconselhamento representa a reorientação do trabalho pela construção de projetos terapêuticos singulares em busca de melhoria da atenção à saúde por meio da revisão das práticas cotidianas. A base das ações são evidências científicas fundamentadas nos indicadores epidemiológicos relacionados a ISTs/aids de São Mateus.
Dessa forma, o aconselhamento realizado pela equipe do projeto auxilia o usuário a expressar sua vivência, uma vez que, no momento de encontro com o profissional da saúde, tem-se um espaço dialógico de escuta e responsabilização. Para Heletícia Galavote, esse aconselhamento é especialmente importante no caso de infecções sexualmente transmissíveis, no qual o estigma envolvendo as ISTs e a aids é observado na população, muitas vezes por falta de informação sobre a transmissibilidade e o tratamento. “O aconselhamento contribui para o estabelecimento de vínculos e a definição de vulnerabilidades que irão direcionar as ações de prevenção e a redução de danos na assistência da Enfermagem”, analisa.
Notificações
Além da coordenadora, participam do projeto o enfermeiro Glauber Soares, coordenador do CTA de São Mateus, e a bolsista de extensão Luiza Pignaton, estudante do quinto período de Enfermagem. A equipe apurou que, somente em 2019, 2.718 novos casos de sífilis adquirida e em gestantes foram notificados no Espírito Santo. Em relação ao HIV, 319 novas notificações foram feitas no estado naquele ano.
Especificamente em São Mateus, no período de 2010 a 2015, 378 novos registros de HIV/aids foram feitos no município. Também houve 258 casos de sífilis em adultos, 73 em gestantes e 16 casos de sífilis congênita. “A sífilis é uma doença curável e de simples tratamento. O aconselhamento é um instrumento importante para a quebra da cadeia de transmissão das doenças sexualmente transmissíveis na medida em que propicia uma reflexão sobre os riscos de infecção e a necessidade de sua prevenção”, diz Soares, ressaltando que o Sistema Único de Saúde (SUS) distribui preservativos de forma gratuita e promove diversas campanhas de prevenção, além de oferecer tratamento gratuito para essas e outras ISTs por meio de serviços de atenção básica e assistência especializada.
Acolhimento e escuta
O projeto de extensão está ancorado nos quatro pilares da prática do aconselhamento: educação em saúde; apoio emocional por meio do acolhimento e estabelecimento de vínculo; avaliação das vulnerabilidades; e planejamento das ações com base na mudança de atitude e autocuidado. “No ato de aconselhar, o profissional de saúde deve estar instrumentalizado com uma atitude acolhedora, incremento da escuta, disponibilidade de rever posturas, respeito e reconhecimento às atitudes, crenças, valores e comportamento dos usuários e uso de linguagem clara e acessível no processo de comunicação”, explica a coordenadora.
As ações são executadas em duas etapas. Durante a Capacitação dos acadêmicos de Enfermagem, os estudantes extensionistas passam por um módulo teórico com oito horas de duração, no qual são estudados módulos como aspectos epidemiológicos, políticos e éticos das ISTs e HIV/aids e organização do processo de aconselhamento dentro do serviço.
A segunda etapa, Laboratório prático, consiste em um módulo presencial no CTA de São Mateus, onde os estudantes devem cumprir uma carga horária de 20 horas por semana. “O projeto possibilita aos discentes vivenciar o cotidiano do CTA, desde a busca por preservativos, testagem rápida, entrega de diagnósticos até o tratamento dos pacientes e aconselhamento de pessoas que buscam o serviço, além de propiciar a participação nas ações que nós desenvolvemos no Centro”, relata Soares. Apesar de o CTA seguir com os atendimentos ao público durante a pandemia de covid-19, as atividades da etapa de Laboratório Prático do projeto estão suspensas.
Articulação
Extensionista do projeto desde agosto de 2019, Luiza Pignaton atuou no CTA até fevereiro de 2020, onde realizou testagens rápidas, oficina de shantala (massagem em bebês, na foto ao lado), consultas nas quais pode desenvolver o processo de Enfermagem, e aconselhamento de usuários. Além disso, ministrou palestras sobre ISTs para idosos e em empresas de São Mateus, fez apresentações em escolas da rede pública sobre o funcionamento do CTA e falou sobre o tema Abordagem do diagnóstico positivo de ISTs para a turma de graduação em Psicologia de uma faculdade privada do município. Durante a pandemia, a bolsista tem realizado cursos virtuais e aprimorado os estudos sobre o assunto.
Luiza Pignaton define como gratificante o fato de poder levar o que aprende na Universidade para outras pessoas, contribuindo com a melhoria da saúde e da autoestima da população: “É enriquecedor ver uma parte da sociedade, que é tão estigmatizada, ter um espaço como o Centro de Testagem e Aconselhamento, onde não precisam ter vergonha do diagnóstico que receberam e são sempre bem tratados. A professora Heletícia sempre deu apoio e incentivo para fazer o melhor, o que me permitiu vivenciar o cotidiano da profissão e valorizar ainda mais profissionais como o enfermeiro Glauber Soares e a assistente social Cintia Tetzner”.
Heletícia Galavote afirma que o projeto associa ações de ensino, ao promover educação em saúde para diversos setores da sociedade; pesquisa, ao levantar dados epidemiológicos das infecções sexualmente transmissíveis em São Mateus; e extensão, ao aproximar a Universidade e os usuários do serviço de saúde do município. A coordenadora destaca que o desenvolvimento do projeto permitiu, ainda, a articulação com organizações públicas e privadas na realização de treinamentos e palestras. “Essa parceria permitiu impactar positivamente a sociedade do município de São Mateus e o diálogo com a sociedade externa, promovendo transferência de conhecimento, educação em saúde e qualidade de vida”, conclui.
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Texto: Adriana Damasceno
Imagens: Divulgação do projeto ((as pessoas retratadas autorizaram a realização e a publicação das fotos, produzidas antes da pandemia)
Edição: Thereza Marinho