A Semana do Conhecimento da Ufes teve início nesta quarta-feira, 24, pela manhã, tratando de algumas das pesquisas realizadas na Universidade sobre Inteligência Artificial, tema da Semana Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação deste ano – que conta com a participação do evento da Ufes.
Na abertura, a secretária de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional do Espírito Santo, Cristina Engel, destacou a importância do trabalho da Universidade: “Neste momento em que o negacionismo ameaça que sejamos um povo ignorante, sem educação e sem ciência, eventos como este demonstram que somos muito mais fortes do que isso, que estar juntos é fundamental. Quero agradecer a todos os que fazem com que a Ufes seja motivo de orgulho para os capixabas naturais ou os de coração, como eu”.
A secretária, que é professora e pesquisadora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Ufes, dirigiu-se aos jovens pesquisadores que conseguiram, junto com os professores, em um ano de condições adversas devido à pandemia, contribuir para “encontrar caminhos para os problemas que a sociedade enfrenta. Acima de tudo, precisamos de apetite pelo saber, de entusiasmo, de alegria, de busca de soluções. O pesquisador tem que ser um contestador, estar sempre cheio de perguntas”, completou Cristina Engel, lembrando do compromisso da Ufes com a população.
O vice-reitor da Ufes, Roney Pignaton, destacou que um dos objetivos da Semana do Conhecimento é mobilizar a comunidade universitária e convidar a comunidade externa para conhecer as pesquisas da Ufes. “Com a Semana, abrimos para que a população, em especial crianças e jovens, possa conhecer o potencial inclusivo da ciência de romper barreiras para que cada vez mais pessoas jovens sejam futuros cientistas. Uma delas é que são necessários muitos recursos para fazer ciência: o mais importante é a criatividade, o potencial científico e a capacidade de inovar. Outra barreira é a relação direta entre o nível da ciência e tecnologia e o nível da riqueza de um país”, indicou, apontando que a Holanda, por exemplo, tem um volume de exportação agrícola semelhante ao do Brasil, apesar de ter uma área 158 vezes menor, devido aos produtos de alto valor agregado. Esses produtos, de acordo com o vice-reitor, são consequência de forte investimento em educação, pesquisa, ciência e tecnologia agrícolas, permitindo produtos de alto valor agregado, enquanto no Brasil os recursos de pesquisa vêm sendo cortados.
Esse corte de investimentos também prejudicou a chegada de insumos, equipamentos e soluções no combate à COVID-19, destacou Pignaton. “Investir na ciência, tecnologia e inovação é importante em momentos adversos como este e também para a redução de desigualdades sociais”, acrescentou, convidando toda a sociedade a participar dos debates que serão realizados durante a Semana do Conhecimento.
Respostas
O reitor da Ufes, Paulo Vargas, destacou que a Semana do Conhecimento aproxima a Ufes das comunidades e reafirma a importância da universidade pública para a sociedade. “É um evento que ressalta a importância do conhecimento científico, tecnológico e artístico para o desenvolvimento socioeconômico, ambiental, cultural e humano”. Para Vargas, a Universidade tem mostrado sua vitalidade e capacidade de resposta ao oferecer soluções para os problemas da sociedade, o que tem sido demonstrado também em relação à pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Apesar da impossibilidade do encontro presencial, que costuma reunir milhares de pessoas de todos os municípios do Espírito Santo nos campi da Ufes, o reitor avalia que “estamos alcançando êxito neste evento 100% virtual graças ao esforço grandioso da comunidade universitária, de diferentes áreas acadêmicas e administrativas, para a realização da Semana do Conhecimento, com as equipes demonstrando bastante dedicação, competência e criatividade”.
Assista à abertura da Semana do Conhecimento: https://www.youtube.com/watch?v=EzccLGpHS00.
Inteligência artificial
Na conferência que deu início à Semana do Conhecimento da Ufes, o professor Anselmo Frizera Neto, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade, apresentou alguns dos resultados dos dez anos de pesquisas na área de sensores e sistemas robóticos para reabilitação e assistência. As pesquisas do professor, que atualmente coordena o Laboratório de Telecomunicações (Labtel) do Centro Tecnológico (CT), procuram contribuir, por meio do uso da robótica, para a mobilidade de pessoas com sequelas deixadas por acidente vascular cerebral (AVC), lesão medular, paralisia cerebral e causas diversas relacionadas à idade avançada. Mais recentemente, os estudos também têm se dedicado a analisar e contribuir com situações cognitivas específicas, como é o caso do autismo.
“Por meio da Engenharia Biomédica, buscamos aplicar princípios da Engenharia à Medicina e à Biologia, para ajudar no diagnóstico ou oferecer soluções terapêuticas. Nosso trabalho consiste em analisar problemas, antecipar dificuldades e avaliar possibilidades de soluções”, explica Frizera Neto.
Nas pesquisas, realizadas no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE) da Ufes, o professor e os demais pesquisadores buscam desenvolver ferramentas de reabilitação motora que contribuam para que fisioterapeutas, médicos e outros profissionais de saúde tenham informações sobre os pacientes que permitam otimizar a reabilitação, analisando, com dados em tempo real, a efetividade da terapia. Para isso, são usados sensores em fibra óptica milimétricos, aplicados em roupas, palmilhas de calçados, aparelhos dentários e outros acessórios, que permitem avaliar a aplicação de força, os batimentos cardíacos, a temperatura, a umidade, a marcha e os movimentos do paciente, entre outros elementos. A primeira tese de doutorado com esse enfoque rendeu mais de 50 artigos em publicações de alto impacto e o Prêmio Capes de Tese.
Os estudos mais recentes inserem o uso da inteligência artificial e do processamento de dados em nuvem para desenvolver andadores para pessoas com baixa mobilidade utilizando sistemas mais leves, com mais funcionalidades e com estratégias avançadas de controle, empregando, por exemplo, mapas de ambiente. “Com isso, conseguimos não só reconhecer espaços e obstáculos, como também indicar as pessoas que estão no ambiente, melhorando a interação entre elas e contribuindo para o deslocamento seguro de pessoas que têm também deficiências cognitivas e visuais”, acrescenta o pesquisador.
Enfrentamento à COVID
Frizera Neto lembrou, ainda, da contribuição dada por sua equipe para o combate à COVID-19 no Espírito Santo, por meio da manutenção de ventiladores e equipamentos hospitalares da Secretaria de Estado da Saúde, de forma gratuita. “É uma felicidade poder ter participado dessa manutenção gratuita e contribuir para a sociedade. Nossos alunos são verdadeiros heróis, que trabalharam, no pico da pandemia, com toda segurança, para consertar esses equipamentos”.
Ao final da conferência, o reitor reforçou o compromisso da Ufes com a produção de tecnologias de ponta e com a inovação. “A Universidade se engaja em diversas pesquisas de ponta, e essa é uma delas. O papel da instituição é trabalhar nessa zona de fronteira do conhecimento, produzindo inovações, e retornar o conhecimento à sociedade, que no fim é quem mantém a Universidade funcionando com os recursos de impostos, de maneira viva e ativa. Temos procurado estabelecer parcerias com setor produtivo, no campo das inovações e empreendedorismo, de forma a viabilizar algumas dessas inovações desenvolvidas na Ufes, que é a única universidade pública e gratuita do nosso estado, uma universidade essencialmente capixaba”, afirma Paulo Vargas.
A programação da Semana do Conhecimento é gratuita e composta por palestras, debates, oficinas e shows ao vivo, além de vídeos gravados, que serão transmitidos em diversos canais do YouTube. Para conhecer a programação, assistir aos vídeos e ter acesso às lives, acesse o site https://scufes.org/.
Texto: Lidia Neves
Edição: Thereza Marinho