A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) deu início nesta quarta-feira, 19, no campus de Goiabeiras, à Reunião Regional no Espírito Santo, evento que marca a volta da entidade ao estado três décadas depois da Reunião Anual de 1994. O evento segue até esta sexta-feira, 21, e é aberto ao público. Confira a programação.
“Temos uma missão importante e devemos garantir que a ciência continue sendo uma voz decisiva para a nossa sociedade”, declarou o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, em sua mensagem de abertura, lida pela secretária geral da entidade, Claudia Linhares – por problemas de saúde, o presidente da SBPC não pôde participar presencialmente.
A mensagem de Janine Ribeiro estava relacionada com o tema do encontro – Clima e Oceano: a urgência de construir um futuro sustentável –, apontando para a realização no Brasil, em novembro próximo, da 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o Clima (COP 30), em Belém do Pará. Ribeiro disse que a intenção da SBPC, com essa Reunião Regional, é difundir um documento, a Carta de Vitória, no qual a entidade expressará seu entendimento sobre a COP 30 e o que esse evento representa para o Brasil. “É um desafio, porque estamos vivendo de forma cada vez mais trágica e dolorosa o aquecimento global, que causa mortes, devastação e outras consequências graves”. O presidente da SBPC lembrou ainda que não se pode imaginar uma natureza preservada em uma sociedade injusta: “Para que a natureza seja respeitada, a sociedade também precisa ser respeitada. O Brasil tem uma dívida social muito grande”.
A solenidade de abertura da Reunião Regional contou com a apresentação musical dos jovens do Instituto Serenata D’Favela, projeto surgido em 2009 na região do Morro do Quadro, que contribui com a formação artística e cultural de crianças e adolescentes.
Depois, o reitor da Ufes, Eustáquio de Castro, deu as boas vindas aos participantes e afirmou que, para ele, um dos principais objetivos da reunião é encontrar caminhos para colocar a inteligência humana em favor da natureza e da vida. "A gente vê que, apesar do avanço tecnológico, há uma não preocupação com a vida. Eu acho que precisamos tentar equilibrar essas coisas, colocar na balança", destacou.
Evidências científicas
O governador Renato Casagrande falou dos programas de mitigação e adaptação de eventos climáticos implementados junto aos municípios em parceria com a Ufes, exaltou a ciência na administração pública e criticou o negacionismo: “Quem é gestor, como eu sou, precisa trabalhar com evidências científicas”, afirmou, completando: “Nós vivenciamos um momento no Brasil em que as evidências científicas foram negadas (…), o negacionismo científico e climático ainda estão presentes em segmentos da nossa sociedade e nós precisamos trabalhar forte para que a gente convença as pessoas da importância dos investimentos em pesquisa, em ciência e inovação”, disse.
Além do governador e do reitor da Ufes, participaram da solenidade de abertura no Teatro Universitário o presidente de honra da SBPC, Ildeu Moreira; os vice-presidentes da SBPC, Francilene Garcia e Paulo Artaxo; o secretário estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional, Bruno Lamas; o secretário municipal de Meio Ambiente de Vitória, Tarcísio Föeger; o diretor-geral da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes), Rodrigo Varejão; e o assessor da Presidência da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Luiz Davidovich.
Impacto na agricultura
O vice-presidente da SBPC, Paulo Artaxo, reforçou que o foco da Regional é o impacto das mudanças climáticas nas atividades econômicas e sociais do país cujos eventos climáticos extremos, como as ondas de calor intenso deste verão, é uma das faces mais visíveis. “Mas existem muitas faces que a gente não consegue enxergar, tais como o impacto do clima na produtividade agrícola brasileira, que vai afetar a nossa economia de uma maneira muito forte”, ressaltou.
Artaxo lembrou que o Espírito Santo em particular tem outras vulnerabilidades às mudanças climáticas, como o aumento do nível do mar, que deve afetar as atividades portuárias, uma das mais importantes da economia do estado. “E não podemos esquecer também do nosso bom e velho café, que é um dos cultivares mais sensíveis às mudanças do clima, e que já está sofrendo – hoje – problemas de produtividade devido às mudanças climáticas”, completou.
Francilene Garcia acrescentou que o objetivo do encontro é movimentar e mobilizar os debates sobre novas demandas da sociedade frente às crises climática, sanitária, e as transformações da era digital nesse início de século XXI, trazendo a necessidade de repensar atitudes, comportamentos e políticas públicas.
A programação da Reunião Regional inclui debates, mesas-redondas e uma versão especial do programa SBPC vai à Escola.
Fotos: Jardel Rodrigues/SBPC