Consciência Negra: primeira terapeuta ocupacional do estado, professora Gilma Coutinho pesquisa a reabilitação física de pacientes

28/11/2024 - 15:43  •  Atualizado 28/11/2024 16:10
Texto: Adriana Damasceno     Edição: Thereza Marinho
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Foto da professora atendendo a uma senhora em um ambiente de reabilitação

Primeira profissional terapeuta ocupacional (TO) do Espírito Santo, a professora do Departamento de Terapia Ocupacional (DTO) e especialista em reabilitação física Gilma Coutinho é a personagem que encerra a série especial que, durante o mês de novembro, retratou a trajetória acadêmica de oito dos 419 professores da Ufes que se autodeclaram pretos ou pardos. A série foi realizada em comemoração ao Dia da Consciência Negra (20), que pela primeira vez foi feriado nacional. A série também fez parte das celebrações em torno dos 70 anos da Universidade.

Até 2009, quando se tornou uma das 42 professoras negras do Centro de Ciências da Saúde (CCS), no campus de Maruípe, Coutinho atuou na implantação do serviço de TO no Centro de Reabilitação Física do Estado do Espírito Santo (Crefes), onde trabalhou por 28 anos, foi sócia em uma clínica de Fisioterapia e atuou com atendimento domiciliar (home care).

Mestre em Ciências Fisiológicas pela Ufes e doutora em Ciência da Educação pela Universidades del Mar (Chile), ela tem como principal linha de pesquisa a Reabilitação Física, com ênfase em Tecnologia Assistiva (TA) e Funcionalidade. Atualmente, coordena o Laboratório de Análise Funcional e Ajudas Técnicas (Lafatec/Ufes), que desde 2013 desenvolve ações de extensão e pesquisa, buscando compreender o fenômeno da deficiência e seu impacto na vida social e comunitária. “Nossos objetivos são o desenvolvimento de estudos sobre a funcionalidade humana e a tecnologia assistiva direcionadas à intervenção terapêutica em crianças, adultos e idosos com disfunções sensório-motoras por meio da pesquisa, de eventos científicos e dos projetos de extensão e grupos de estudos”, explica.

Projetos

O projeto Tecnologia Assistiva e Terapia Ocupacional para a Comunidade (Tato Comunidade) é uma das ações desenvolvidas pela equipe do Lafatec/Ufes. O Tato presta atendimentos à pessoa idosa e à pessoa com deficiência (PcD), visando proporcionar independência funcional no desempenho ocupacional das atividades e garantir a melhoria da qualidade de vida e a inclusão social com o uso de dispositivos de tecnologia assistiva.

Outra atividade ligada ao Lafatec/Ufes é o projeto Uso da Impressora 3D como Recurso para Produção de Dispositivos de Tecnologia Assistiva (próteses, órteses e adaptações) na Atuação da Terapia Ocupacional (Tato 3D). A equipe de professores e profissionais do Tato 3D proporciona ao estudante de graduação em TO o aprendizado para uso da impressora 3D para confecção de órteses, adaptações e próteses de membros superiores.

Coutinho ainda atua em ações de extensão relacionadas às tecnologias assistivas que têm como foco a investigação sobre os efeitos do uso dos dispositivos de TA no desempenho de ocupações e a pesquisa sobre as políticas públicas desenvolvidas para o uso da tecnologia e o acesso por PcD. “Por meio da extensão, realizamos pesquisas em nível de iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso, com a previsão de ampliação para pesquisas de especialização, mestrado e doutorado em parceria com pesquisadores de outros departamentos da Ufes e de outras instituições de ensino superior”, avalia.

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Foto da professora à frente de uma sala de aula

A professora também lidera o grupo de Estudos em Terapia Ocupacional e Reabilitação Física, Tecnologia Assistiva e Funcionalidade, que desenvolve pesquisas sobre as bases da funcionalidade humana, especialmente aquelas relacionadas com o uso do membro superior nas tarefas do cotidiano e busca evidências científicas que justifiquem os procedimentos terapêuticos na reabilitação física e na TO. “As pesquisas envolvem temas relacionados à reabilitação do membro superior, terapia da mão, TO, realidade virtual na reabilitação física, TA e órteses, manufatura de TA em 3D e suas respectivas análises de funcionalidade, com abordagem da cinemática e biomecânica e análise dos materiais”, diz.

História

Coutinho liderou a equipe que, no ano 2000, implementou o primeiro curso superior de TO no estado. Essa graduação, em uma faculdade privada, ficou em atividade por cerca de dez anos, e em paralelo ela ajudava na estruturação do DTO da Ufes, tornando-se a primeira coordenadora do departamento. “Quando o curso começou, em 2009, fomos duas professoras até 2011, então ministrei várias disciplinas. Atualmente, ministro Corpo e Movimento (4º período), Cotidiano (5º período) e Prática Assistida de Terapia Ocupacional na Infância - Área Física (6º período)”, ressalta.

Ela se diz orgulhosa por ser uma professora negra no DTO e na Ufes, e por poder olhar para o passado e ver a história que ajudou a construir. Coutinho cita dois episódios como os mais marcantes em sua trajetória: quando teve início a primeira graduação em TO e quando os primeiros estudantes se formaram: “Trabalhar arduamente e implantar o projeto pedagógico do curso de TO em uma universidade pública foi mais do que um sonho – foi a vitória de uma mulher preta que não pensou em desistir e que sempre acreditou que era possível”.

Atualmente, Coutinho está em seu segundo mandato como presidente do Conselho Consultivo e Deliberativo da Clínica Interprofissional em Saúde (Ceis/Ufes) do CCS, formado por servidores e estudantes dos cursos de Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e TO. “Foi mais um desafio quando fui eleita para presidir. Acredito que o motivo da eleição foi por acompanhar a construção da Ceis e pelo meu empenho em tornar esse espaço acadêmico mais do que de ensino: é devolver para a comunidade um serviço de assistência pública pelo Sistema Único de Saúde”, conclui.

Fotos: Arquivo pessoal

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