A segunda reportagem da série especial para o Mês da Consciência Negra conta a história da física Simone Anastácio, professora do Departamento de Química e Física (DQF) do campus de Alegre. Ela é mais uma representante dos 419 docentes negros da Ufes que terão suas trajetórias de vida e trabalho contadas semanalmente, em celebração ao Dia da Consciência Negra (20 de novembro), que pela primeira vez será feriado nacional. O projeto também integra as comemorações em torno dos 70 anos da Universidade.
Licenciada em Ciências e Física, mestre em Física e doutora em Educação, Simone Anastácio ingressou na Ufes em 2011 e tem como principal linha de pesquisa as tecnologias assistivas e a educação especial. Seus projetos com estudantes de graduação têm foco no desenvolvimento de materiais texturizados, maquetes, modelos de impressora tridimensional e jogos para o ensino de diferentes disciplinas voltadas a alunos com deficiência.
“Meu interesse é mostrar que é possível tornar acessíveis materiais que podem ser utilizados em sala de aula por todos os alunos da educação básica, incluindo aqueles com deficiência visual, auditiva, intelectual ou Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, explica ela, que coordena o Grupo de Estudos em Educação Especial (Geedes/Ufes) e é pesquisadora do Grupo de Estudos Étnico-Racial e Educação Especial (Geere/Ufes).
A professora também atua na área de Educação das Relações Étnico-Raciais (Erer), com atenção voltada para mostrar as contribuições dos negros para o desenvolvimento da ciência, especialmente a Física. Ela ainda realiza pesquisas envolvendo a comunidade quilombola do Córrego do Sossego, localizado no distrito de Guaçuí, no sul do estado. “Neste trabalho, tenho foco nas crianças, nos conhecimentos que elas têm sobre plantas medicinais e remédios caseiros, e como esse conhecimento tem sido adquirido por meio de moradores mais velhos, como pais e avós”, diz.
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Anastácio ministra aulas nas disciplinas básicas de Fundamentos de Física para turmas de cursos como Geologia e Engenharias, além de responder pelos Estágios Obrigatórios, pela Instrumentação para o Ensino de Física, pela Prática Pedagógica em Física e pela disciplina de Física Conceitual. Segundo a docente, é perceptível o espanto de algumas pessoas ao descobrirem que ela é professora do curso de Física: “A imagem do físico é de um homem branco, de meia idade, cabelos desarrumados. Estar na universidade como docente é um movimento constante de mostrar que esse espaço também me pertence e que tenho capacidade para estar nele”, ressalta ela, que é curadora da coleção de Física do Museu de História Natural do Sul do Espírito Santo (Muses) e responde pelo primeiro planetário móvel da região do Caparaó.
Entre 2016 e 2020, Anastácio foi vice-diretora do Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde (CCENS), que conta, atualmente, com 142 docentes, dos quais 32 (22,5%) se autodeclaram pretos ou pardos (dados da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas - Progep). “Aqui em Alegre, historicamente, os cargos de direção eram ocupados por homens ligados à área de ciências agrárias. Então, considero importante ter assumido essa posição por eu ser mulher, negra e ligada a um curso de licenciatura”, analisa.
Ela integra o grupo de 14 professoras que se autodeclaram negras no CCENS e avalia como complexa a docência universitária por ter que lidar com o estranhamento de pessoas dentro da própria instituição: “Todas as vivências que tenho na minha vida social, enquanto mulher negra, também se repetem no contexto da Universidade. Quando ainda não me conhecem, é comum pensarem que trabalho em algum setor e quando digo que sou professora percebo um olhar diferente, de desconfiança”.
O projeto Consciência Negra foi idealizado pela Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidade (Saad), em parceria com a Secretaria de Comunicação (Secom) e com o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab).
Foto: Arquivo pessoal