Um estudo publicado por professores da Ufes, em coautoria com pesquisadores de outras instituições, indica que parte dos resíduos liberados na água após o rompimento da Barragem de Fundão, em 2015, incorporou-se à areia do rio Doce. O estudo comparou a concentração de traços de metais nos sedimentos do rio antes e após o desastre.
O artigo foi publicado na revista Chemosphere e tem como autores vinculados à Ufes os pesquisadores Eduardo Duarte, Fabricia Benda, Marx Martins e Mirna Neves, do Departamento de Geologia, Diego Burak, do Departamento de Agronomia, e Marcos Orlando, do Departamento de Física.
Segundo o mestrando Eduardo Duarte, a pesquisa é pioneira em avaliar os impactos do rompimento da barragem de Fundão nos sedimentos do Rio Doce na área continental capixaba. “Ela vem preencher essa lacuna, com informações a respeito dos teores de metais potencialmente perigosos, que são aqueles cuja concentração no ambiente possui um valor acima do permitido pela normativa ambiental brasileira”, explica.
A pesquisa também tem como diferencial a comparação entre a concentração de metais que havia nos sedimentos do rio antes e após o desastre. “Começamos a estudar o rio Doce em 2013, coletando amostras. Quando houve o rompimento da barragem, decidimos coletar novamente nos mesmos pontos anteriores, para comparação”, explica a professora Fabrícia.
Impactos ambientais
O rompimento da Barragem de Fundão é considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil, após ter liberado 50 milhões de metros cúbicos de resíduos de minério de ferro no rio Doce. Esse volume é suficiente para cobrir uma área equivalente à ilha de Vitória com uma camada de aproximadamente 1,70 metro de lama.
Os dados obtidos no estudo indicaram que os rejeitos de minério de ferro provenientes da barragem introduziram cádmio nos sedimentos do rio e aumentaram a concentração do arsênico já existente, em função do movimento causado pela lama. “O intenso fluxo gerado pelo derramamento foi capaz de revolver os sedimentos que estavam alocados em camadas do fundo do rio, trazendo à superfície contaminantes anteriormente ‘enterrados’”, explica Mirna Neves. Essas toxinas podem se acumular em animais (como peixes) e afetar a cadeia alimentar, inclusive afetando humanos.
Além disso, os rejeitos depositados ao longo do rio afetaram parâmetros físicos, pois podem formar crostas impermeáveis e, gradualmente, liberar metais tóxicos em razão de eventos climáticos ou de outras perturbações que alterem a dinâmica fluvial.
Texto: Vinícius Fontana
Ilustração: Divulgação
Edição: Thereza Marinho