Com o início da temporada de reprodução das baleias jubarte no litoral do Espírito Santo, pesquisadores querem saber se o trânsito de navios nas proximidades do Porto de Tubarão, em Vitória, interfere no comportamento e na permanência desses animais no local. O professor Agnaldo Martins, do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Ufes, participa da pesquisa como coordenador científico do projeto Amigos da Jubarte.
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Segundo Martins, são utilizados drones, binóculos e hidrofones para realizar o monitoramento. O objetivo é observar os comportamentos das baleias, além de gravar os sons produzidos por elas e os ruídos causados pelos seres humanos no local. Com essas informações, a ideia é identificar se há alterações com relação à presença dos navios. “Com esses parâmetros, pretendemos comparar áreas onde tem muitos navios e onde há poucos, considerando o número de baleias observadas, a maneira como usam o habitat e como produzem os sons”. O monitoramento, executado pela organização não governamental Instituto O Canal, é uma condicionante ambiental para a operação portuária.
A utilização dos drones, de acordo com o pesquisador, apresenta a facilidade de chegar até os animais sem causar interferências ou distúrbios, mas a ideia é investir em outras ferramentas. “Estamos começando a trabalhar com a bioacústica, uma técnica de gravação do som que os animais emitem e que também serve para entender o uso do ambiente. No futuro, pretendemos trabalhar com a telemetria, uma técnica de rastreamento que, embora possa gerar algum distúrbio, porque há necessidade de acoplar um rastreador no animal, também pode fornecer informações”, afirmou.
O uso das novas tecnologias no monitoramento das baleias jubarte é uma tentativa de buscar maior conhecimento sobre a espécie. “Estamos tentando nos atualizar e criar novos métodos de estudos, porque há muitos anos as baleias são estudadas por métodos tradicionais e limitados; então, realmente queremos descobrir coisas novas sobre elas. Esperamos que, com o tempo, por ser um monitoramento a longo prazo, consigamos acumular uma quantidade de informações importantes que contribuam para um trabalho de conservação não só para a nossa região, mas para o mundo todo”, ressaltou Martins.
Turismo e educação ambiental
Além da conservação, o pesquisador acrescentou que o projeto atua em outras duas vertentes: o turismo e a educação ambiental. “Nessa época de observação das baleias, o Projeto Amigos da Jubarte realiza a capacitação dos empreendedores e donos de barcos, faz o acompanhamento das viagens turísticas e dá instruções a respeito das regras de órgãos ambientais para observação das baleias. O projeto ainda desenvolve um trabalho de educação ambiental com as escolas públicas e privadas”, conta.
As iniciativas do turismo no Espírito Santo tiveram início a partir de 2014 como consequência do aumento da população de baleias, que aconteceu devido à proibição da caça na década de 1980.
O turismo de observação das jubarte acontece todos os anos entre os meses de junho e novembro, período de reprodução e nascimento de filhotes da espécie. “A migração das jubarte ocorre porque, nas primeiras fases da vida, esses animais são muito sensíveis e frágeis. O clima na Antártica, que é a área de alimentação, é muito rigoroso, e as águas têm muitas tempestades e ondas, mesmo considerando a proteção natural que as baleias apresentam. As águas dos oceanos tropicais são mais calmas e quentes, o que possibilita que as baleias se reproduzam e os filhotes sejam amamentados e se desenvolvam nas primeiras fases da vida”, explicou o professor.
Conservação marinha
Além do monitoramento das jubartes, Martins desenvolve pesquisas com outras espécies ameaçadas de extinção e ressalta que esse trabalho na área de conservação marinha tem foco na preservação dos animais e do meio ambiente. “Quando o ambiente começa a ficar muito comprometido, as espécies começam a desaparecer. Na Baía de Vitória, onde fica a região do porto, por exemplo, temos registros da presença abundante do peixe-boi marinho e lontra. Hoje, esses animais não são mais encontrados porque houve muitos impactos no ambiente, seja pela poluição, ruído ou caça e pesca excessiva”.
A presença de espécies marinhas ajuda a indicar a integridade do ecossistema. “Por trabalharmos com espécies em risco de extinção, geralmente pertencentes ao topo da cadeia alimentar, conseguimos saber se o ambiente está íntegro com a simples presença e uso frequente do ambiente por elas, pois isso garante que toda a cadeia alimentar e, consequentemente, todo o ecossistema está preservado”.
Texto: Superintendência de Comunicação da Ufes
Foto: Bruna Rezende/ Amigos da Jubarte-ES