Uma ação que visa treinar o maior número possível de pessoas para a realização de manobras de ressuscitação cardiopulmonar e desobstrução aguda de vias aéreas. Este é o principal objetivo do projeto de extensão Salve uma Vida, vinculado ao Departamento de Clínica Cirúrgica (DCC/Ufes), que, por meio de fundamentação teórica e treinamento prático, busca capacitar a população capixaba para identificar acidentes que envolvam estas situações, e reduzir o número de vítimas fatais dessas condições clínicas.
O Salve uma Vida nasceu no âmbito da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), na primeira década dos anos 2000. Em 2014, o médico anestesiologista e professor do DCC/Ufes Erick Curi assumiu a coordenação nacional do projeto e, em setembro de 2016, uma parceria entre a Universidade e a SBA deu origem à ação extensionista.
O objetivo do projeto é promover cursos para conscientizar e instruir a população em geral (principalmente grupos que não são da área de saúde) sobre a resposta em cenários de urgência e emergência, apresentando as técnicas atualizadas de desobstrução de via aérea em pessoas engasgadas e o suporte básico de vida para vítimas de parada cardiorrespiratória (PCR).
Engasgos
A obstrução das vias aéreas é uma condição adversa em que há um bloqueio da passagem de ar para as vias respiratórias (pulmão), dificultando ou impedindo a respiração. Este bloqueio pode ser mecânico (como, por exemplo, por um corpo estranho) ou causado por alguma condição de saúde, e a dificuldade ou ausência de respiração pode ocasionar a evolução para um quadro de PCR.
Curi aponta que sufocação ou engasgo ocupa o terceiro lugar por mortes de crianças no Brasil. Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria mostram que, diariamente, em torno de 15 bebês de até um ano morrem por esse motivo. “Apesar de o engasgo, seguido de asfixia, ser menos frequente na vida adulta, o potencial de levar à morte não é menor. A evolução é rápida para um quadro de falta total de oxigênio (asfixia) e parada cardíaca. Medidas preventivas e ações enérgicas de salvamento não podem ser negligenciadas”, ressalta o médico, que é o atual presidente da SBA.
Já a PCR é uma cessação súbita da atividade mecânica do coração, sendo caracterizada pela ausência de pulso e de movimentos respiratórios. Segundo Curi, cerca de 70% das PCRs são extra-hospitalares, ou seja, podem acontecer em qualquer lugar, quando menos se espera. “É um dado preocupante por ser uma condição altamente frequente, mas, principalmente, por ser uma complicação que, em grande número das vezes, consegue ser revertida se forem adotadas as corretas medidas de reanimação cardiovascular e de ativação do sistema de saúde”, avalia.
Treinamentos
As ações acontecem, normalmente, em condomínios, escolas, academias de ginásticas e comunidades, mas já houve atividades em shoppings, escolas de samba, hotéis e em tribos indígenas. Os cursos duram em média duas horas e buscam ensinar práticas (como a manobra de Heimlich – técnica de primeiros socorros utilizada em casos de emergência) para que pessoas que se deparam com um engasgo possam tomar atitudes que evitem a evolução da vítima para a asfixia, PCR e morte. Curi cita evidências que mostram que se o socorro for iniciado por quem presencia uma PCR, as chances de sobrevivência mais que dobram.
“Infelizmente, tragédias como a que ocorreu no município da Serra ocorrem todos os dias, em todas as partes do mundo. Durante um engasgo, manobras efetivas de desobstrução podem evitar a evolução para uma parada cardíaca e morte e, por isso, nosso foco é treinar o máximo de pessoas possível”, pontua Curi, referindo-se à criança de dois anos que morreu após engasgar com um ovo em uma creche da região metropolitana de Vitória, no dia 17 de maio.
Agentes
A equipe do projeto é composta por professores do DCC e do Departamento de Fonoaudiologia do Centro de Ciências da Saúde (CCS), além de estudantes de graduação e profissionais externos de áreas diversas, que auxiliam na organização dos cursos. “Para os alunos envolvidos, o projeto representa a oportunidade de integração com um impactante problema da nossa sociedade, despertando neles a possibilidade de ser agentes transformadores, ainda como acadêmicos. Para nós, docentes, soma-se a responsabilidade de não permitir que um assunto de extremo impacto social venha a ser esquecido ou negligenciado”, avalia Curi.
Para a professora do Departamento de Fonoaudiologia e subcoordenadora do projeto Carolina Anhoque, auxílio básico e treinamento inicial são essenciais para saber manejar e fazer as manobras até o socorro maior chegar: “Podemos salvar vidas com informações e treinamento básico. Qualquer cidadão é uma pessoa potencial para salvar uma vida com um primeiro auxílio”.
Além das atividades oferecidas aos estudantes da Ufes, os cursos acontecem por demanda, chegando às comunidades conforme solicitação. Os interessados em agendar treinamentos podem fazer contato com os organizadores do Salve uma Vida por meio do perfil do projeto no Instagram.
Texto: Adriana Damasceno
Fotos: Divulgação do projeto
Edição: Thereza Marinho