Os manguezais são ecossistemas essenciais para as comunidades da Costa Amazônica Norte do Pará, pois são fontes de alimentos, renda, educação, regulação climática, controle de inundação e produção de atividades culturais. É o que revela um novo estudo produzido pelos professores Angelo Bernardino, do Departamento de Oceanografia da Ufes, e Margaret Owuor, da Wyss Academy for Nature, ambos pesquisadores da National Geographic Explorers (foto).
O trabalho, intitulado Fluxo de serviços ecossistêmicos de manguezais para comunidades costeiras na Amazônia brasileira, foi publicado nesta quarta-feira, 7, pela revista Frontiers in Environmental Science. O projeto de Bernardino e Owuor faz parte da expedição Perpetual Planet Amazônia, da Rolex e da National Geographic, uma exploração plurianual e abrangente do Rio Amazonas que abarca toda a bacia, dos Andes ao Atlântico. O artigo completo está disponível neste link.
Essa foi a primeira avaliação ampla dos serviços ecossistêmicos dos manguezais costeiros do Brasil. O país tem a segunda maior área de manguezais do mundo, com 700 mil hectares dentro da fronteira amazônica. Realizado em 13 comunidades, o estudo de Owuor e Bernardino descobriu que o funcionamento saudável dos manguezais fornece serviços ecossistêmicos essenciais para as comunidades costeiras locais, além de mostrar que as fontes de alimentos e as práticas culturais são altamente dependentes não só dos manguezais, mas também dos habitats adjacentes das terras altas costeiras, como florestas e terras agrícolas. Foram entrevistadas mais de 100 famílias a fim de compreender como as pessoas utilizam e valorizam os manguezais, incluindo a disposição em dedicar tempo à conservação desse ecossistema e a importância econômica para as famílias.
“Está bem documentado que os manguezais e as zonas úmidas costeiras são sumidouros de carbono significativos. No entanto, os manguezais também proporcionam benefícios diretos e indiretos às comunidades locais, tais como a pesca e a regulação climática, que não são fáceis de quantificar, ainda mais em regiões do mundo com escassez de dados”, diz Owuor, primeira autora do estudo.
“Para compreender melhor esses benefícios, bem como a ligação entre as pessoas e a natureza, o nosso estudo combinou dados qualitativos de entrevistas com as comunidades locais e mapas espaciais de uso da terra nas áreas adjacentes. Essa abordagem holística destaca não apenas como os habitats são considerados valiosos pelas comunidades, mas também demonstra a complexa ligação entre manguezais e habitats de terras altas”, afirmou ela.
Implicações
O professor Bernardino destacou que a pesquisa “tem implicações significativas para a tomada de decisões em torno de qualquer atividade econômica na Amazônia brasileira que possa ameaçar a existência ou a qualidade do habitat dos manguezais na região, pois podemos vincular diretamente a saúde dos manguezais a múltiplos serviços ecossistêmicos fornecidos às comunidades que vivem nas proximidades”.
Ele complementa: “Quando olhamos para o fluxo de benefícios ecossistêmicos, o seu valor para as comunidades costeiras locais é evidente. Contudo, essas comunidades estão entre as mais marginalizadas do país, e os benefícios sociais, econômicos e culturais dos manguezais muitas vezes não são compreendidos ou valorizados fora das comunidades.”
Expedição
O programa National Geographic Perpetual Planet Expeditions apoia expedições que visam explorar os ambientes mais críticos do planeta. Ao aproveitar conhecimentos científicos reconhecidos mundialmente e tecnologia de ponta que revelam novas percepções sobre os sistemas vitais para a vida na Terra, essas expedições ajudam cientistas, decisores e comunidades locais a planejar e encontrar soluções para lidar com os impactos de mudanças climáticas e ambientais.
Com informações da National Geographic Explorers
Fotos: Pablo Albarenga/National Geographic
Edição: Sueli de Freitas e Leandro Reis