Para marcar um ano de atuação do projeto de extensão Fordan: cultura no enfrentamento às violências no combate à covid-19 na região de São Pedro, em Vitória, foi lançado nessa terça-feira, 12, o segundo boletim da série Fordan na Covid. Intitulado Um ano de enfrentamento à pandemia da covid-19, o documento (anexo, ao final do texto) apresenta os resultados dos trabalhos de monitoramento e acolhimento feitos pela equipe do Fordan às famílias da comunidade entre março de 2020 e abril de 2021, o que resultou em nulidades de casos de internação e morte pela doença no período.
Organizado pela coordenadora do projeto, Rosely Pires, professora do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), o boletim tem como objetivo dar visibilidade aos dados encontrados na pesquisa e no monitoramento, além de dar continuidade ao primeiro documento que, lançado em maio de 2020, apresenta a atuação do Fordan em um momento de incógnitas sobre a disseminação do vírus.
Sem mortes
O recém-lançado boletim apresenta experiências, registros e reflexões produzidos pelos profissionais que atuam nos núcleos de saúde, psicologia, cultura, educação e sociojurídico, além das ações de distribuição de alimentos no bairro de São Pedro. Os dados apresentados são resultados de pesquisas que buscaram compreender os impactos da pandemia nas mulheres da região, trazendo respostas a perguntas como “foram contaminadas pela covid-19? A internação foi necessária? Quais foram as principais dificuldades que passou? O que o projeto Fordan representou para a família nesse momento?”.
As respostas mostram que 79% dos entrevistados tiveram covid-19, mas nenhum dos infectados precisou de internação. Além disso, durante os 12 meses de atuação do Fordan, não foi registrada nenhuma morte em decorrência do vírus nas famílias acolhidas pelo projeto na grande São Pedro. “Essas informações são importantes na compreensão da evolução da doença e, considerando que o momento em que estamos carece de atualizações constantes dos bancos de dados sobre a covid-19, a pesquisa mostra-se de extrema utilidade pública”, ressalta Rosely Pires.
Segundo a coordenadora, esse mapeamento foi fundamental para o entendimento do que as famílias diziam quando afirmavam “vocês cuidam de nós”: “Ao compreender essa afirmação, percebemos que, para enfrentar uma pandemia, garantir o alimento, a vacina e o atendimento do SUS para a periferia é fundamental, mas garantir que essa periferia se sinta cuidada e assistida é igualmente importante. As instituições precisam estar melhor preparadas para lidar com a periferia nesse momento de tanta fragilidade, de medo, de desemprego, de fome, de tudo”.
Dados da pandemia
O boletim traz, ainda, dados da pandemia no Espírito Santo. De acordo com o documento, até o dia 31 de março de 2021, o estado contabilizava 379.612 casos confirmados de covid-19 e 7.439 mortes. A capital Vitória contabilizava, até o mesmo dia, 41.286 casos confirmados e 799 óbitos.
O documento também mostra que bairros de classe média alta, como Jardim Camburi e Praia do Canto, apresentam taxas de letalidade de 1,2% e 1,9%, respectivamente, enquanto regiões periféricas, como Santos Reis, têm taxa de letalidade que chega a 7,9%.
Para o estudante de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (PPGEF/Ufes) e pesquisador do Fordan Michel Beccalli, esse cenário é compreendido na medida em que a capacidade de manter o isolamento social e de ter acesso à assistência em saúde estão relacionadas às condições de vida da população. “Dito de outro modo, as condições de que as pessoas dispõem para manter alimentação, emprego, renda e higiene estão diretamente relacionadas com o quadro sanitário verificado no Brasil, no Estado do Espírito Santo e no município de Vitória”, analisa.
Redes solidárias
Para outra pesquisadora do Fordan, Karen Campos, movimentos sociais como os projetos de extensão da Ufes produzem estratégias de mobilização para a constituição de redes solidárias. “Buscamos diminuir os impactos da crise sanitária no cotidiano dos sujeitos socialmente e politicamente invisibilizados. O Fordan pratica o enfrentamento às violências que se produzem para com este lugar, já retratado historicamente como lugar ‘de toda pobreza’”, explica.
Além de apresentar o contexto da pandemia na periferia de São Pedro, o boletim traz também entrevistas com pesquisadores que atuaram em parceria com a equipe do Fordan, como a epidemiologista e professora do Departamento de Enfermagem da Ufes Ethel Maciel, o psicanalista Aloizio Silva, a pesquisadora do Laboratório de Pesquisas sobre Violência contra a Mulher (Lapvim/Ufes) Heloisa Carvalho e a subsecretária de Estado de Políticas para as Mulheres, Juliane Barroso.
Os trabalhos de acolhimento às famílias em vulnerabilidade realizados desde 2005 pelo projeto podem ser conhecidos no Instagram do Fordan. Informações sobre doações podem ser adquiridas pelo WhatsApp (27) 98876-3526.
Texto: Adriana Damasceno
Edição: Thereza Marinho