O Departamento de Oceanografia e Ecologia da Ufes recebeu nesta segunda-feira, 28, um novo prédio para abrigar os laboratórios utilizados nos estudos e pesquisas desenvolvidos pelo curso. Com 881,12 metros quadrados de área construída e 1.088,82 metros quadrados de área total, a nova instalação, localizada no campus de Goiabeiras, terá 16 laboratórios multidisciplinares e recebeu o nome do professor Camilo Dias Júnior, em homenagem ao docente do departamento falecido em janeiro deste ano.
A inauguração do espaço contou com a presença do reitor Paulo Vargas; do vice-reitor Roney Pignaton; da diretora do Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN), Edinete Rosa; do superintendente de Infraestrutura, Alessandro Mattedi; do superintendente da Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest), Armando Biondo; da especialista de Programas Socioambientais da Fundação Renova, Laila Medeiros; da vice-coordenadora do curso de Oceanografia e membro da coordenação geral da Rede Rio Doce Mar, Jacqueline Albino; e de familiares do professor Camilo Dias Júnior; além de gestores e servidores técnico-administrativos da Universidade.
Na foto, o reitor Paulo Vargas e a diretora do CCHN, Edinete Rosa, descerram a placa de inauguração.
Na solenidade, a professora Jacqueline Albino destacou a importância do novo prédio para o curso: “Nos faltava um espaço. Nossos laboratórios foram espaços adaptados para serem laboratórios de ensino, eram laboratórios pequenos. Ter um prédio aqui é um legado enorme que nos proporcionaram e que agradecemos muito. Vai proporcionar, daqui pra frente, melhores condições de trabalho para um núcleo que só cresce”.
A diretora do CCHN, Edinete Rosa, afirmou que o prédio representa um marco histórico. “Hoje é um dia muito especial e muito importante. Este prédio simboliza uma luta de pesquisadores, pessoas sensíveis à natureza que, a partir de um fato histórico triste, pensou e se dedicou a fazer algo bom para a sociedade. Nós temos a responsabilidade de fazer esse prédio funcionar da melhor maneira possível”, enfatizou.
A obra, que levou 304 dias para ser construída, teve um custo total de R$ 4.010.283,26 e foi financiada pela Fundação Renova, criada em 2016 com o propósito de reparar e compensar, por meio de financiamento à produção de conhecimento, os múltiplos prejuízos e danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, pertencente à empresa Samarco Mineração S.A. O acidente aconteceu em 5 de novembro de 2015, no município de Mariana (MG).
A administração e o planejamento no gerenciamento da obra ficaram sob responsabilidade da Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest), que, em 2018, com a anuência da Administração Central da Ufes, assinou um acordo de cooperação técnica e financeira com a Fundação Renova. O convênio prevê, dentre outras questões técnicas, a construção de edificações, além de várias adequações de espaço físico. O novo prédio do curso de Oceanografia é fruto desse acordo de cooperação.
Abraço eterno
Em nome dos familiares do professor Camilo Dias Júnior, uma de suas filhas, Sofia, agradeceu a homenagem prestada a ele pela Universidade. “Essa homenagem é, para nós, mais que acolhedora, é um verdadeiro abraço, grande, apertado, carinhoso e eterno, que está imortalizado na forma desse prédio. Sempre que nos sentirmos com saudades, poderemos vir aqui e estar próximo dele”, disse.
Biólogo, doutor em Ecologia e Recursos Naturais, Dias Júnior foi responsável por várias pesquisas, além de orientar diversos profissionais e estudantes de graduação e de pós-graduação. O professor também fazia parte da equipe da Ufes de monitoramento da área marinha atingida pelo rompimento da barragem de Fundão em 2015, que afetou o rio Doce.
Em seu pronunciamento, o reitor Paulo Vargas afirmou que, após aquela que é considerada a maior tragédia ambiental do Brasil, pesquisadores da Ufes deram uma resposta imediata à sociedade, atuando em pesquisas direcionadas à recuperação dos ecossistemas existentes ao longo do Rio Doce, que é a principal área impactada pelo desastre. “A viabilização dessa obra é muito importante para que possamos consolidar nossa infraestrutura direcionada ao ensino e à pesquisa”, destacou.
Ele pontuou a relevância do empreendimento, considerando a conjuntura brasileira atual impactada pela pandemia da covid-19 e pelos cortes orçamentários realizados pelo governo federal: “Este cenário de dor e incerteza para a comunidade se deteriora também no campo da educação, com cortes orçamentários que comprometem e inviabilizam o funcionamento das universidades federais. Contudo, esse momento de extrema gravidade nos desafia a enfrentar tamanhas adversidades com responsabilidade, respeito à vida e em defesa da universidade pública e da democracia”.
Contribuição
Paulo Vargas também manifestou sua satisfação pelo reconhecimento que o Departamento de Oceanografia prestou ao professor e pesquisador Camilo Dias Júnior: “É uma satisfação muito grande da Universidade poder prestar essa homenagem dedicando a ele esse prédio, que passa a ser um patrimônio importante que dará uma enorme contribuição para o desenvolvimento da pesquisa científica no nosso estado e no nosso país. Estou certo de que este novo espaço físico será mais um ambiente produtivo no campo do ensino e da pesquisa. Trago o nosso reconhecimento aos professores, técnicos e estudantes que oferecem valiosa contribuição para o desenvolvimento dos estudos na área da Oceanografia, da educação e da ciência”.
Desde o rompimento da barragem de Fundão, a Ufes vem desenvolvendo diversos trabalhos – entre pesquisas, estudos e diagnósticos – relacionados ao impacto causado pela tragédia na sociedade. O curso de Oceanografia teve e ainda tem um papel fundamental nesse processo, principalmente detectando os prejuízos causados pelo rompimento da barragem na biodiversidade aquática.
Professores, pesquisadores e estudantes de graduação e de pós-graduação do curso de Oceanografia da Ufes já realizaram vários estudos, analisando não só as consequências ambientais como também as sociais. Diversos trabalhos orientam gestores na tomada de decisões administrativas, ambientais, sociais e jurídicas, dessa que foi considerada a maior tragédia socioambiental do Brasil.
Dentre esses estudos, podemos destacar o desenvolvimento de um protocolo de coleta e análise de dados de água, sedimento e biota (conjunto de seres vivos de um ecossistema) em diversos ambientes, incluindo rios, lagos, lagoas, praias, manguezais, restingas, estuários e o mar; e a realização de estudo dos dados anteriores ao rompimento da barragem, visando obter subsídios para comparação com dados posteriores e, assim, consolidar uma análise de impacto associado ao rejeito de minério.
Os pesquisadores da Ufes também já desenvolveram uma pesquisa comparativa da quantidade de metais depositados no fundo do mar da praia de Regência, em Linhares, além de pesquisas sobre a toxicidade da água do mar atingida pela lama. Ainda foi realizado pela Universidade o monitoramento da biodiversidade aquática, medindo mais de mil parâmetros abióticos e bióticos, nos diferentes ambientes ao longo do rio Doce e das zonas costeira e marinha adjacentes.
Texto: Thereza Marinho, com a colaboração de Jorge Medina