CineMarias volta à Ufes com filmes, debates e ações sociais em três dias de programação

30/08/2023 - 18:45  •  Atualizado 01/09/2023 09:32
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Após receber cerca de duas mil pessoas na primeira edição, a Mostra Nacional CineMarias retorna à Ufes nesta quinta-feira, 31, com exibição de filmes, workshops, debates, ações sociais e atrações musicais na programação. Gratuito, o evento acontece no Cine Metrópolis e no estacionamento ao lado do Teatro Universitário, no campus de Goiabeiras, até sábado, 2. Para participar de algumas atividades, como painéis e masterclasses, é necessário se inscrever no site da mostra.

Realizada com apoio da Ufes, por meio da Secretaria de Cultura (Secult), a mostra coloca em evidência os corpos e as obras de pessoas não binárias e identidades femininas pretas, pardas e indígenas, refletindo sobre questões como violência de gênero e representatividade.

Um dos destaques é o longa convidado A Flor do Buriti, que será exibido na quinta, às 21h30. Dirigido pela brasileira Renée Nader Messora e pelo português João Salaviza, o filme foi premiado no Festival de Cannes como Melhor Equipe na mostra Um Certo Olhar. Na ocasião, a obra, que retrata a resistência do povo indígena Krahô no norte de Tocantins, foi aplaudido por mais de dez minutos após a projeção. Será a estreia do filme no Espírito Santo.

A programação no Cine Metrópolis contará, entre outras atrações, com o lançamento da websérie Bravas – que destaca a trajetória pessoal, profissional e as histórias inéditas de lideranças e identidades femininas capixabas – e a exibição de quatro filmes-poesia produzidos por jovens moradoras da Grande Vitória num laboratório imersivo promovido pelo projeto.

Também integram a programação as mostras competitivas nacional e capixaba, que acontecem na sexta e no sábado. Superando a primeira edição, o segundo ano da mostra recebeu inscrições de 375 filmes, distribuídos entre 25 estados e 102 municípios brasileiros. As realizadoras concorrerão ao troféu CineMarias de Melhor Filme e Melhor Direção.

No último dia, após as atividades no Cine Metrópolis, o público ficará com os shows de Afronta MC, DJ Jamboo, da homenageada Lia de Itamaracá e da rapper Katú Mirim. As apresentações acontecem no estacionamento ao lado do Teatro Universitário.

Veja a programação completa na página do CineMarias.

Corpo como território

Neste ano, a mostra traz como tema central Corpos (In)Visíveis, inspirado no apagamento histórico do colonialismo, imperialismo e capitalismo contra povos nativos da América Latina e colonizados da África. Segundo a idealizadora e diretora do CineMarias, Luana Laux, a ideia do corpo como território norteia a programação do evento desde a sua primeira edição.

“Nosso corpo é um território que nos permite ou não acessar determinados espaços. O corpo feminino, trans, negro, dissidente não é bem-vindo em todos os territórios”, afirma a diretora, que alinha o CineMarias à agenda nacional de discussão sobre representatividade de identidades colonizadas e escravizadas, “em especial a partir da criação dos ministérios dos Povos Indígenas, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e da Cidadania.”

Além da programação, que reflete as questões em torno das narrativas decoloniais e da liderança feminina, a escolha da homenageada vai ao encontro do tema principal. Maior voz da ciranda brasileira, Patrimônio Vivo de Pernambuco e Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a multiartista Lia de Itamaracá (foto) recebe tributo às 20 horas de sábado, no Cine Metrópolis. Para a diretora do CineMarias, Lia é das maiores representantes da identidade e da cultura brasileiras.

“A Lia é a rainha da ciranda brasileira. Foi marisqueira e merendeira por muitos anos, mas só foi reconhecida como artista muito tempo depois. Ela traz a força desse lugar que queremos representar”, diz Laux. A partir das 18h10, Lia de Itamaracá participará de uma roda de conversa com griôs capixabas. “Teremos esse momento para falar da trajetória dessas mulheres que estão à frente de suas comunidades e culturas, para entendermos como elas se tornaram resistência.”

Ações sociais

Na sexta-feira, o CineMarias promove uma ação de retificação de nome social e gênero no estacionamento do Teatro Universitário. A iniciativa é uma parceria do projeto com a Defensoria Pública do Espírito Santo. Segundo Laux, a experiência no laboratório imersivo para identidades femininas e não-binárias motivou a organização a tentar democratizar o acesso ao processo de retificação. “Para que as pessoas se sintam reconhecidas e felizes”, afirma.

Já na quinta e na sexta, assim como na primeira edição da mostra, equipes do Tribunal de Justiça e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) estarão num ônibus rosa do Juizado Itinerante da Lei da Maria da Penha, no mesmo local, para oferecer suporte educativo, preventivo e jurídico a respeito da Lei. A iniciativa é uma parceria do CineMarias com a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Comvides), a OAB e o Núcleo Margaridas.

“A base de inspiração do projeto é a Lei Maria da Penha. Inclusive, o nome CineMarias vem da lei. Além de ocupar espaços, nós precisamos proteger os nossos corpos, a nossa integridade. Se um corpo não está saudável, se não pode existir sem medo, como a sua subjetividade vai poder existir?”, questiona Laux.

O CineMarias possui patrocínio master da ES Gás, patrocínios do Instituto Cultural Vale e do Grupo Carrefour Brasil, e apoio da Ufes, da Faesa Centro Universitário, de A Gazeta por meio do Fonte.Hub e Todas Elas, da Aliança sem Estereótipos da ONU Mulheres, da Defensoria Pública do Espírito Santo, do + Mulheres no Audiovisual e da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça (Comvides). A produção é da Odoyá Arte e Cultura, com realização da Lúdica Audiovisual e do Ministério da Cultura – Governo Federal, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

 

Texto: Leandro Reis
Foto: Ytallo Barreto - divulgação
Edição: Thereza Marinho