A Administração Central da Ufes inaugura na próxima segunda-feira, 28, às 9 horas, o novo prédio do curso de Oceanografia, no campus de Goiabeiras. A nova instalação abrigará 16 laboratórios multidisciplinares que serão utilizados para aulas e para o desenvolvimento de pesquisas.
Com 881,12 metros quadrados de área construída e 1.088,82 metros quadrados de área total, o prédio terá o nome do professor Camilo Dias Júnior, em homenagem ao docente do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Ufes falecido em janeiro deste ano. Biólogo, doutor em Ecologia e Recursos Naturais, Dias Júnior foi responsável por várias pesquisas, além de orientar diversos profissionais e estudantes de graduação e de pós-graduação. O professor também fazia parte da equipe da Ufes de monitoramento da área marinha atingida pelo rompimento da barragem de Fundão em 2015, que afetou o rio Doce. A nomeação presta uma homenagem e reconhece o trabalho de Dias Júnior para a ciência.
A vice-coordenadora do curso de Oceanografia, Jacqueline Albino, explica a importância do novo espaço. “O número de pesquisas e de pesquisadores na área de Oceanografia cresceu muito, principalmente com os projetos desenvolvidos por nossos professores e alunos de graduação e pós-graduação relacionados com a preservação da biodiversidade aquática da área afetada pelo rompimento da barragem de Fundão, no município de Mariana, em Minas Gerais. Estávamos precisando de um novo espaço que proporcionasse melhores condições de trabalho para as nossas pesquisas e, ao mesmo tempo, concentrasse toda a produção científica desenvolvida pelos nossos pesquisadores, cujo resultados se constituem em benefício para toda a sociedade”, enfatiza.
A professora ressalta ainda que o novo prédio proporcionará um local mais adequado e confortável para que a comunidade acadêmica e científica da Ufes continue a desenvolver suas pesquisas sobre os impactos ambientais. “O prédio vai comportar vários laboratórios de ensino e pesquisa, que serão compatíveis com a excelência do nosso curso de Oceanografia”, completa.
Financiamento
A obra, que levou 304 dias para ser construída, teve um custo total de R$ 4.010.283,26 e foi financiada pela Fundação Renova, criada em 2016 com o propósito de reparar e compensar, por meio de financiamento à produção de conhecimento, os múltiplos prejuízos e danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, pertencente à empresa Samarco Mineração S.A. O acidente aconteceu em 5 de novembro de 2015, no muncípio de Mariana (MG).
A Fundação Renova foi criada em 2016 e conta com a participação de vários agentes públicos das esferas estaduais e federais, tendo como mantenedoras as empresas Samarco Mineração S.A., Vale S.A. e BHP Billiton Brasil LTDA.
A administração e o planejamento no gerenciamento da obra ficaram sob responsabilidade da Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest), que, em 2018, com a anuência da Administração Central da Ufes, assinou um acordo de cooperação técnica e financeira com a Fundação Renova. Nesse acordo, denominado Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática da Área Ambiental (PMBA), foram estabelecidas diretrizes para a recuperação do ecossistema ao longo do rio Doce, no trecho impactado pelo desastre de Mariana.
O convênio prevê, dentre outras questões técnicas, a construção de edificações, além de várias adequações de espaço físico. O novo prédio do curso de Oceanografia é fruto desse acordo de cooperação.
A Fest é uma fundação de apoio à Ufes, que atua em projetos de pesquisa, ensino e extensão e de desenvolvimento institucional, científico e tecnológico.
Desastre
Desde o rompimento da barragem de Fundão, a Ufes vem desenvolvendo diversos trabalhos – entre pesquisas, estudos e diagnósticos – relacionados ao impacto causado pela tragédia na sociedade (veja abaixo alguns desses trabalhos). O curso de Oceanografia teve e ainda tem um papel fundamental nesse processo, principalmente detectando os prejuízos causados pelo rompimento da barragem na biodiversidade aquática.
Professores, pesquisadores e estudantes de graduação e de pós-graduação do curso de Oceanografia da Ufes já realizaram vários estudos, analisando não só as consequências ambientais como também as sociais. Diversos trabalhos orientam gestores na tomada de decisões administrativas, ambientais, sociais e jurídicas, dessa que foi considerada a maior tragédia socioambiental do Brasil.
Dentre esses estudos, podemos destacar o desenvolvimento de um protocolo de coleta e análise de dados de água, sedimento e biota (conjunto de seres vivos de um ecossistema) em diversos ambientes, incluindo rios, lagos, lagoas, praias, manguezais, restingas, estuários e o mar; e a realização de estudo dos dados anteriores ao rompimento da barragem, visando obter subsídios para comparação com dados posteriores e, assim, consolidar uma análise de impacto associado ao rejeito de minério.
Os pesquisadores da Ufes também já desenvolveram uma pesquisa comparativa da quantidade de metais depositados no fundo do mar da praia de Regência, em Linhares, além de pesquisas sobre a toxicidade da água do mar atingida pela lama. Ainda foi realizado pela Universidade o monitoramento da biodiversidade aquática, medindo mais de mil parâmetros abióticos e bióticos, nos diferentes ambientes ao longo do rio Doce e das zonas costeira e marinha adjacentes.
Danos
O desastre ocorrido em Mariana foi responsável pelo lançamento de 60 milhões de metros cúbicos de lama no meio ambiente. A distância percorrida pela lama foi mais de 600 quilômetros, até chegar à foz do rio Doce, afetando a vegetação por onde passou e deixando um rastro de destruição à medida que avançava pelo rio, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Casas foram destruídas, animais soterrados, fauna e flora devastadas, entre outros danos ambientais. O desastre ocasionou danos incalculáveis aos produtores rurais, às comunidades locais e aos indígenas que dependiam da pesca, do turismo e do comércio para sobreviverem.
A tragédia também resultou na destruição da infraestrutura dos municípios e afetou a população de forma intensa, principalmente as mais carentes, aumentando o número de desempregados. Além disso, 19 pessoas morreram e 700 moradores ficaram desabrigados.
Conheça algumas das pesquisas realizadas pela Ufes sobre os impactos da tragédia:
Saúde: estudo mostra que excesso de manganês em peixes do Rio Doce ameaça saúde humana
Pesquisadores da Ufes entregam relatório sobre impactos da tragédia do Rio Doce
Estudo indica que minério se incorporou a sedimentos do rio Doce após ruptura de barragem
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Texto: Jorge Medina
Edição: Thereza Marinho